Terça-feira, 30 de Dezembro de 2025

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Escrever sobre o que nos espera em 2026 é, para mim, um exercício de reflexão filosófica e ética. Não se trata apenas de projetar cenários políticos ou econômicos, mas de compreender o significado mais profundo das escolhas que fazemos como sociedade. A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), órgão responsável por produzir informações estratégicas para a segurança nacional, já sinalizou em relatórios recentes que o próximo ano será marcado por tensões internas e externas. A credibilidade da ABIN, construída ao longo de décadas, reforça a seriedade dessas análises e nos lembra que não estamos diante de meras especulações, mas de diagnósticos que exigem atenção.

A polarização que vivemos não surgiu espontaneamente. Foi provocada, alimentada e instrumentalizada. Ideias, posicionamentos e até afetos foram transformados em trincheiras. O preço que pagamos é alto: famílias divididas, instituições fragilizadas e uma incapacidade coletiva de construir consensos mínimos. Escapar dessa lógica é um exercício diário que eu, como colunista, tento praticar. Não é fácil. Requer disciplina para ouvir o outro sem imediatamente reagir, exige coragem para reconhecer que a verdade não é monopólio de nenhum lado.

Minha formação como economista me ensinou a fazer previsões e estudos de fluxos. Essa habilidade, que antes era apenas uma ferramenta profissional, hoje incorporo ao meu campo de consciência mental. Observar tendências, identificar padrões e projetar cenários tornou-se não apenas um exercício técnico, mas também uma prática de reflexão sobre o futuro coletivo.

Entre os temas que mais me inquietam está o ambiental. Questões climáticas não deveriam ser sequestradas pelo campo político, mas foram. O planeta é de todos, e ninguém está imune às mudanças que já se fazem sentir. Negar o aquecimento global, certificado pela comunidade científica como resultado das emissões de gases de efeito estufa, é um ato de insensatez. No ano passado escrevi que vivíamos um momento difícil de um “delírio coletivo”, em que a negação da realidade parecia mais confortável do que o enfrentamento dos fatos. Essa constatação continua válida.

2026 será desafiador. Eleições acirradas, guerras comerciais e militares, ataques cibernéticos e eventos climáticos extremos comporão o cenário. Como iremos lidar com tudo isso? Devemos nos posicionar? Acredito que sim. O silêncio, em tempos de crise, é também uma forma de escolha. Mas posicionar-se não significa aderir cegamente a uma bandeira; significa refletir sobre o que é ético, justo e sustentável.

Há também um significado espiritual — não religioso, mas existencial — em tudo isso. Horóscopos e análises esotéricas apontam 2026 como um ano de transição, marcado por tensões, mas também por oportunidades de renovação. Se olharmos para a vida real, essa leitura faz sentido: crises são também momentos de reinvenção. O desafio é transformar previsões simbólicas em práticas concretas que nos ajudem a atravessar o turbilhão.

Outro ponto que não pode ser ignorado é o avanço da inteligência artificial. As novas versões, ainda mais sofisticadas, trarão impactos profundos nos empregos, na vida das pessoas e nos negócios. A automação de tarefas, a redefinição de profissões e a necessidade de adaptação constante serão alguns dos grandes desafios de 2026. A IA é fascinante, mas também exige cautela: precisamos garantir que seu uso seja ético e que não amplie desigualdades.

Entre os temas que pretendo acompanhar de perto está a transição energética. Este será, sem dúvida, um dos grandes debates do ano. A busca por fontes limpas e sustentáveis não é apenas uma pauta técnica, mas uma questão ética e civilizatória. Nesse contexto, é impossível não lembrar que 2026 marca o centenário de José Lutzenberger, pioneiro do ambientalismo brasileiro. Lutzenberger defendia que a relação entre humanidade e natureza precisava ser repensada radicalmente. Seu pensamento continua atual: em tempos de polarização, ele nos lembra que a ecologia não é ideologia, mas condição de sobrevivência.

Infelizmente, implementar soluções coletivas e aprovar políticas públicas tornou-se mais difícil. A polarização corrói a confiança e paralisa decisões. Mas não podemos desistir. A COP30, realizada no Brasil, mostrou que avanços são possíveis quando a consciência coletiva se eleva. Houve conquistas importantes, especialmente no compromisso com metas de descarbonização. Paralelamente, descobertas científicas na área médica nos enchem de esperança: se de um lado a tecnologia assusta, de outro ela abre caminhos para curas antes inimagináveis.

Concluo esta reflexão com otimismo. 2026 será duro, mas também fértil em possibilidades. A consciência está avançando, mesmo que lentamente. A transição energética, o legado de Lutzenberger, os acordos da COP30, o impacto da inteligência artificial e as descobertas médicas são sinais de que não estamos parados. Se o delírio coletivo ainda nos ronda, a lucidez também cresce. E é nessa tensão que construiremos o futuro. Estaremos juntos nesta jornada, aprendendo, errando, corrigindo e, sobretudo, acreditando que a esperança é o combustível mais poderoso para atravessar tempos difíceis.

* Renato Zimmermann é desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética

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