Sexta-feira, 14 de Novembro de 2025

Home Colunistas A COP30 começou com promessas climáticas, mas tropeçou na infraestrutura – e o mundo está vendo

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A COP30, sediada em Belém, iniciou com a expectativa de que os países apresentassem suas novas NDCs — Contribuições Nacionalmente Determinadas, que são os compromissos de cada nação para reduzir emissões de gases de efeito estufa. Esses compromissos são o coração do Acordo de Paris, e a COP30 marca a primeira grande revisão desse pacto global. No entanto, até agora, menos da metade dos países entregou suas novas metas, o que acende um alerta sobre a seriedade com que o mundo encara a crise climática.

Um dos pontos altos foi o lançamento do Programa de Ação Climática, coordenado por Brasil e Alemanha. A iniciativa busca acelerar a implementação das metas do Acordo de Paris, com foco em justiça climática, combate à pobreza e transição energética. Essa parceria reforça o papel do Brasil como articulador global, mas exige coerência entre discurso e prática.

O Balanço Global — ou Global Stocktake — é outro elemento central da conferência. Trata-se de um mecanismo de avaliação coletiva dos avanços climáticos desde 2015. O diagnóstico é claro: o mundo está fora do rumo para limitar o aquecimento a 1,5°C. O Brasil, ao lado da ONU, apresentou o Balanço Ético Global, um chamado à ação que reforça a urgência de medidas concretas.

No entanto, os avanços diplomáticos foram ofuscados por falhas logísticas graves. As chuvas tropicais alagaram parte do Parque da Cidade, onde está instalada a BlueZone — área oficial das negociações. A estrutura, montada com tendas modulares de cobertura plástica, sofreu com infiltrações, exposição de cabos elétricos e falhas no sistema de refrigeração. Delegados passaram mal devido ao calor, e a ONU emitiu uma carta crítica ao governo brasileiro, cobrando providências imediatas.

Enquanto isso, a GreenZone — espaço voltado ao público geral, com debates, exposições e eventos culturais — está instalada em estruturas fixas de concreto com cobertura metálica e telhas térmicas, oferecendo muito mais conforto. A disparidade entre os espaços revela uma inversão de prioridades.

A responsabilidade pela infraestrutura, segurança e logística é da Casa Civil da Presidência da República, que coordena as atividades da cúpula. A segurança interna da BlueZone, por sua vez, é de responsabilidade do Departamento das Nações Unidas para Segurança e Proteção (UNDSS), com apoio da Polícia Federal e forças locais.

A presidência da COP30, sob o comando do embaixador André Corrêa do Lago, tem a missão de transformar esta conferência em um marco de implementação da agenda climática. Mas para isso, precisa estar focada no conteúdo político e diplomático, enquanto a Casa Civil deve garantir que a estrutura esteja à altura do evento. As falhas expõem o Brasil e comprometem a credibilidade do país.

O episódio mais simbólico foi a confusão no saguão da BlueZone, quando manifestantes tentaram invadir a área restrita. Quatro seguranças ficaram feridos, e houve relatos de que forças de segurança foram barradas ou orientadas a não intervir. A Polícia Federal, que coordena a segurança com apoio do Exército e da Força Nacional, ainda não se pronunciou oficialmente sobre o episódio.

A mistura entre pauta climática e agenda política interna é perigosa. A ação climática não deve ter partido nem bandeira — quando isso acontece, vira combustível para a polarização. Esses episódios devem gerar debates e pedidos de investigação.

Enquanto diplomatas, cientistas e ativistas seguem com os trabalhos, manifestações se espalham por outras áreas. A Freezone, espaço autogestionado por movimentos sociais, e a Agrizone, voltada ao agronegócio, foram palco de protestos como o do MST. O chamado à sociedade civil revelou uma democracia ainda imatura, onde o diálogo cede lugar à disputa ideológica.

Ao final, o sucesso da COP30 será medido não pela pompa dos discursos, nem pelas falhas na organização, mas pelo compromisso real das nações com a pauta climática — e pela consciência da sociedade sobre sua responsabilidade. O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), órgão científico da ONU, já deixou claro: as mudanças climáticas são causadas pela ação humana e exigem mudanças profundas em nossos hábitos de consumo e produção.

* Renato Zimmermann, desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética

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