Segunda-feira, 07 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 6 de julho de 2025
A crise envolvendo o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) mudou os rumos de uma relação de proximidade entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), construída ao longo dos dois anos e meio do terceiro mandato do presidente Lula. De parceiro fiel em momentos difíceis, o deputado se tornou algoz da maior derrota sofrida pelo governo até aqui ao capitanear a derrubada do decreto que aumentou as alíquotas do tributo.
O distanciamento coloca em risco a aprovação da pauta econômica do governo, inclusive o projeto de elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Na Fazenda, os motivos que levaram ao afastamento de Motta ainda são um mistério. Publicamente, Haddad já deixou claro que espera uma explicação do antigo aliado e confirmou o distanciamento. Integrantes do governo, inclusive o presidente Lula, acusam o presidente da Câmara de ter rompido um acordo ao colocar o projeto de derrubada do tributo em votação no dia 25. Procurados, Haddad e Motta não se manifestaram.
‘Pessoa amiga da Fazenda’
Os dois antigos parceiros não se falam desde o começo da semana anterior à votação, quando ministro da Fazenda foi alertado pela colega Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) que Motta estava incomodado com supostas críticas feitas por ele. As declarações, na versão relatada por Gleisi, teriam sido feitas em um encontro promovido pelo Grupo Prerrogativas, formado por advogados simpatizantes do governo, em São Paulo, no dia 13.
Haddad, então, mandou uma mensagem de áudio em que negou os ataques. Na fala pública do ministro durante a reunião com os advogados, não houve qualquer menção a Motta. O presidente da Câmara respondeu ao ministro de forma cordial e disse que, quando a poeira baixasse, os dois marcariam um encontro.
O encontro ainda não aconteceu. Na terça-feira passada, o ministro revelou que aguardava um retorno de uma ligação feita na semana passada a Motta.
— Fiz uma ligação e estou aguardando o retorno. Tem que ficar à vontade também né, não vou… o presidente Hugo Motta frequentou o Ministério da Fazenda como poucos parlamentares, é uma pessoa que é considerada amiga da Fazenda, por todos, não apenas por mim, e sabe que tem livre trânsito aqui — afirmou.
Como líder do Republicanos na Câmara dos Deputados até o fim do ano passado, Motta participava de almoços com frequência quase mensal no sexto andar do prédio do Ministério da Fazenda e se transformou em um dos principais interlocutores de Haddad no Congresso. Fazia, inclusive, mediações entre a pasta e o então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Os dois agiram de forma casada na época, com o comprometimento do deputado nas votações do arcabouço fiscal e da Reforma Tributária.
Em setembro do ano passado, um dia depois de ser lançado para comandar a Câmara pelo presidente de seu partido, Marcos Pereira, Motta foi ao Ministério da Fazenda se reunir com Haddad.
Antes disso, o parlamentar havia sido fundamental para o ministro da Fazenda em maio de 2023, durante a votação do arcabouço fiscal, quando o União Brasil ameaçava apoiar uma proposta do PL, de Jair Bolsonaro, que limitava o crescimento das despesas em 2024 e poderia gerar um colapso nas áreas de saúde e educação, com a paralisação de obras pelo país.
Haddad, então, imediatamente começou a fazer ligações para os seus “parças” — forma como o ministro se referia nas conversas internas às lideranças do Legislativo com quem estreitou a relação. Motta estava entre eles. Com apoio decisivo do Republicanos, que ainda nem fazia parte da base do governo, o Planalto garantiu 309 votos e conseguiu barrar a iniciativa.
‘Moramos no mesmo prédio’
Depois do decreto do IOF, em 22 de maio, Motta começou a dar sinais de distanciamento. A reunião na residência da Presidência da Câmara em 8 de junho para discutir alternativas indicou um alinhamento que não se confirmou. Depois da primeira manifestação no dia seguinte, em que Motta afirmou não haver um compromisso de aprovação da medida provisória proposta pelo governo, a Fazenda entendeu que se tratava apenas de um ajuste de narrativa para contemplar a maioria da Casa. Porém, a escalada das falas do deputado do Republicanos demonstrou que não era só isso.
O clima começou a pesar entre os dois em 16 de junho, quando o presidente da Câmara rebateu nas redes sociais uma fala do ministro da Fazenda de que as medidas de ajuste do governo são voltadas para “os moradores da cobertura”. Motta afirmou que “toda essa discussão sobre as contas” é “sobre todos nós que moramos no mesmo prédio”. As informações são do portal O Globo.
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