Domingo, 09 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 9 de novembro de 2025
A aprovação no Congresso da proposta do governo que aumenta a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil por mês e reduz a tributação de salários de até R$ 7.350 dará um alívio considerável ao bolso de contribuintes de classe média, impulsionando o consumo e, por esta via, o crescimento econômico. Segundo estimativas de economistas ouvidos pelo GLOBO, a medida enviada pelo Senado à sanção do presidente Lula na semana passada — com alíquota mínima de 10% para rendas acima de R$ 50 mil mensais como compensação fiscal — pode injetar de R$ 20 bilhões a R$ 28 bilhões na economia em 2026, quando entra em vigor.
Embora, na narrativa do Planalto, o objetivo seja beneficiar “os mais pobres” com maior contribuição dos “mais ricos” — Lula disse, em outubro, que não se pode dizer que quem ganha R$ 5 mil é de “classe média” —, a base já não paga IR. A atual faixa de isenção vai até R$ 3.036, equivalente a dois salários mínimos. Um cruzamento de dados socioeconômicos da população deixa claro que a reformulação foca no meio da pirâmide, mostra estudo da Tendências Consultoria.
Dada a elevada concentração de renda em termos regionais, a maioria dos beneficiados pela nova faixa de isenção está no Sudeste, com destaque para São Paulo. Predominam homens, pessoas brancas, empregados formalizados no setor privado e com escolaridade mais elevada, características típicas de classe de média.
51% moram no Sudeste
Do total de brasileiros hoje na faixa de renda entre o atual e o novo limite de isenção (R$ 3.036 e R$ 5 mil), que deixarão de ter IR descontado no contracheque em janeiro, 51% são do Sudeste. No Norte e no Nordeste, estão 5,7% e 13,4%, respectivamente. As duas regiões com mais pessoas de baixa renda no país são pouco afetadas pela reforma, diz o estudo.
As mudanças vão favorecer mais pessoas brancas porque a participação delas nas faixas de renda beneficiadas é maior que na população em geral. Em termos de escolaridade, 56,3% dos que estão no no grupo com renda de R$ 5 mil a R$ 7.350 mensais — e que terão descontos no IR — têm ensino superior completo.
— Essas pessoas estão longe de serem pobres — afirma Thiago Xavier, consultor da Tendências e coautor do estudo, ao lado de Giuliana Folego.
Ainda que a isenção atinja classes de maior poder de consumo em relação à renda média nacional do trabalho (R$ 3.507, segundo o IBGE), é um perfil ainda distante dos mais ricos no país e que não costuma ter muito dinheiro sobrando. Mesmo assim, ressaltam pesquisadores, é difícil projetar o quanto do que sobrar no bolso dos beneficiados pela mudança será gasto no comércio, em restaurantes, lazer ou viagens no ano que vem.
Medida gera expectativa positiva em 90% dos eleitores
As mudanças no Imposto de Renda (IR) têm amplo apoio na população e ocorrem num cenário econômico complexo, que combina juros elevados esfriando a atividade, incômodo com endividamento e inadimplência com um cenário em que o mercado de trabalho segue positivo.
As projeções da Tendências sugerem que o alívio no IR não será capaz de melhorar a confiança dos consumidores a ponto de criar um ciclo virtuoso de consumo, observa Thiago Xavier. Para o consultor, o cenário é atípico porque combina políticas pró-consumo — além do novo IR, há o programa Gás do Povo, que barateia o gás de botijão para famílias de baixa renda, e a ampliação da tarifa social da conta de luz — com uma política de juros elevados e desemprego baixo.
Há ainda o risco de que as políticas pró-consumo pressionem a inflação, levando o Banco Central (BC) a manter os juros altos por mais tempo.
No lado da percepção, 79% dos brasileiros aptos a votar em 2026, quando Lula deve concorrer à reeleição, são a favor da mudança no IR, segundo a pesquisa de aprovação do governo em outubro da Quaest em parceria com a Genial Investimentos. Segundo Felipe Nunes, diretor da Quaest, tamanha aprovação é “rara em política econômica”. Além disso, os eleitores acham que a medida melhorará sua situação financeira, ainda que prevaleça a percepção de que será “uma melhora pequena” (49%), em vez de “uma melhora importante” (41%), Nunes chama a atenção para a soma de 90% dos entrevistados:
— Se a eleição fosse hoje, certamente haveria um reflexo forte na votação de Lula. Com informações do portal O Globo.