Quarta-feira, 20 de Agosto de 2025

Home Colunistas A estupidez e os abismos da convivência

Compartilhe esta notícia:

A estupidez, essa sombra que paira sobre as relações humanas, não é apenas um simples deslize, é algo tóxico que abala as relações interpessoais. Ela é um fio solto que, se puxado, desmancha laços, corrói afetos e abre abismos onde antes havia pontes.

Mas o que é, afinal, a estupidez? Não se trata apenas de burrice emocional, é uma questão de educação.

A burrice é a ausência da capacidade de raciocínio, muitas vezes promovida pela falta de conhecimento. Já a estupidez é a recusa em usar a inteligência emocional e a sensibilidade que nos faz humanos.

É o marido que, exausto, chega em casa e encontra a esposa cobrando algo em tom áspero e, em vez de ouvir, retruca com rispidez, em tom igual ou ainda mais alto que o da parceira, porque a conversa já iniciou no tom errado.

É o pai que acorda o filho com um grito, sem perceber que sua grosseria planta uma semente de mau humor e distância.

É o chefe que dá ordens como quem lança pedras, minando a motivação de uma equipe inteira.

É o amigo que responde com frieza, erguendo muros onde antes havia confiança.

Quantas vezes o tom, e não o conteúdo, transforma uma conversa em conflito? Às vezes, o modo de falar impressiona ou afeta muito mais do que o próprio conteúdo.

O marido não errou ao querer descanso após um dia difícil, a esposa não errou ao querer atenção, o pai não errou ao querer disciplina, nem o chefe ao buscar resultados. Mas o modo de falar fez toda diferença…

A estupidez é, portanto, uma escolha muitas vezes inconsciente de suas consequências, uma escolha de reagir sem pensar, de deixar a frustração falar mais alto…

Não podemos impedir o outro de ser estúpido, mas podemos escolher não revidar, não nos tornarmos espelhos de sua impulsividade.

Quando nos deparamos com a estupidez alheia, talvez devêssemos tentar chamar atenção de uma maneira mais acolhedora e até mesmo lúdica naquele momento, de modo que a pessoa perceba o que está fazendo.

“Calma, seu Saraiva! Eu já vou sair da frente da televisão, não precisa ficar tão bravo” — acompanhado de um belo sorriso.

Ou então: “Meu amor, eu prometo que eu faço o que você quer, mas eu preciso descansar agora, não faça como Vovó Naná, fica calma que depois eu faço uma massagem gostosa nos teus pés”.

A estupidez é coletiva e viral. Na política, vemos discursos que, em vez de unir, incitam ódio, cavando trincheiras entre iguais, tornando simples adversários em verdadeiros inimigos.

Nas redes sociais, o anonimato vira licença para o veneno, comentários ácidos e maldosos, cancelamentos sem reflexão, julgamentos que esquecem a humanidade do outro interlocutor.

No trabalho, líderes confundem autoridade com arrogância, esquecendo que inspirar é mais eficaz que mandar, muitas vezes perdendo sua equipe devido ao assédio moral.

E, assim, a estupidez se espalha, como um eco que ressoa em cada esquina de nossas vidas…

O impacto, muitas vezes, é invisível. Não percebemos as rachaduras que se formam em cada palavra ríspida e em cada silêncio cortante.

Casamentos se desfazem e amizades se perdem em meio a mal-entendidos nunca resolvidos. Filhos se afastam, levando consigo o vazio de palavras que nunca foram ditas com carinho…

A estupidez é um veneno lento, que corrói o que há de mais precioso: a conexão humana.

A solução para isso começa pela autoconsciência, aquele instante em que percebemos a raiva subindo, e que a resposta afiada está na ponta da língua, e mesmo assim escolhemos parar, respirar e pausar…

Se estou escrevendo sobre isso, é porque já passei por essas experiências, mas ao longo da vida adquiri sabedoria e inteligência emocional que me ajudaram a lidar com essas situações.

A sabedoria é o oposto da burrice e da ignorância: é o exercício de transformar o impulso em reflexão e o conflito em entendimento.

Nunca esqueça: a estupidez é um atalho para o abismo. Mas lembre-se que a gentileza também é um eco que volta multiplicado e pode começar com algo tão simples quanto um bom dia e um belo sorriso no rosto.

* Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Colunistas

Até quando as Redes Sociais serão território livre para pedófilos?
Defensoria cobra ações efetivas para garantir inclusão de alunos com deficiência no RS
Deixe seu comentário
Baixe o app da RÁDIO Pampa App Store Google Play

No Ar: Show de Notícias