Sexta-feira, 04 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 2 de maio de 2022
A expectativa de uma alta mais forte das taxas de juros nos EUA contaminou os mercados financeiros na semana passada, o que fez a Bolsa cair e o dólar voltar ao patamar próximo de R$ 5. Esse movimento será colocado à prova nesta semana.
Tanto o banco central dos EUA (o Federal Reserve ou Fed) quanto o Banco Central do Brasil têm reuniões de política monetária para decidir o novo nível das taxas de juros.
Segundo o economista-chefe do Citi Brasil, Leonardo Porto, esse ambiente de juros mais elevados prejudica os países emergentes, como o Brasil, porque favorece uma saída de capitais e aumenta a cotação do dólar.
É uma situação pior para o crescimento da economia, já prejudicada pelo aumento da Selic e pela inflação galopante. “A gente está indo para um ciclo de aperto monetário nos EUA que a gente nunca viu nas últimas décadas. Estamos falando de quatro aumentos sucessivos de 0,5 ponto em cada reunião, seguidos de vários aumentos de 0,25 ponto no final deste ano e no ano que vem inteiro. Isso já provoca um aumento importante nas taxas de juros internacionais”, afirma Porto.
1) Em um relatório recente, o Citi fez um alerta sobre a inflação global, dizendo que há um risco de uma espiral de preços. Por que essa preocupação tão forte?
A gente tem visto uma confluência de fatores que está inflamando os preços no mundo todo. E não parece que isso vai se dissipar no curtíssimo prazo. O primeiro são os problemas nas cadeias de fornecimento, de que a gente vem falando há muito tempo, mas que têm se escalado a cada momento. Nosso indicador de custo de supply-chain se mantém quase dez vezes maior do que era o patamar pré-pandemia. Esse é um primeiro fator. A questão da China e os novos lockdowns são outro. Não parece que vai acabar no curto prazo.
Em paralelo, a gente está vendo o preço das commodities batendo recordes. Além disso, nos EUA, tem um mercado de trabalho extremamente apertado. A taxa de desemprego voltou para o patamar pré-pandemia e os salários estão subindo. Para completar, nos países emergentes, como o Brasil, a inflação corrente, que está muito alta, tende a contaminar mais a expectativa de inflação. O meu ponto é: os elementos sugerem que esse processo inflacionário mundial pode ser mais persistente do que se imaginava, com algumas particularidades específicas para cada uma das regiões.
2) Já se esperava que o Fed iria subir os juros, e mesmo nessas condições, o Brasil registrou uma entrada forte de capital até pouco tempo atrás. O que mudou?
Mudou a sinalização do Jerome Powell (presidente do Fed), que colocou na mesa que é bem provável que o banco central americano suba os juros em 0,5 ponto porcentual na próxima reunião. Isso produziu uma mudança importante para o mercado de juros que, por sua vez, afetou o mercado de moedas, valorizando o dólar em relação às grandes moedas e exacerbando a depreciação das moedas emergentes.
3) O que isso indica no final das contas para o Brasil? Não dá para contar com uma queda do dólar para o alívio da inflação?
O que indica é que, para a gente, o cenário mais provável é um cenário em que o câmbio até o final do ano tende a fechar mais depreciado do que está hoje, incluindo já contando com a depreciação dos últimos dias. Esse ambiente global está ficando menos benigno, e é mais provável que continue se deteriorando à medida em que o mercado vai incorporando a ação dos bancos centrais, e em especial do Federal Reserve. É por causa disso que há uma reprecificação nos preços dos ativos de todo o mundo, potencialmente deteriorando o preço de países emergentes.
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