Terça-feira, 02 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 1 de setembro de 2025
De acordo com pesquisa do Instituto Ideia realizada no início de agosto, apenas 12% do eleitorado brasileiro se considera de “direita bolsonarista”. Mais do que o dobro (26%) se identifica como de “direita não bolsonarista”. Ou seja: enquanto os bolsonaristas são minoria, a direita não bolsonarista é majoritária entre os conservadores.
Por outro lado, 17% da população se percebem pertencente à esquerda não lulista, enquanto outros 17% se identificam diretamente com Lula. A tendência, porém, é que a maior parte desses eleitores termine apoiando a reeleição de Lula em 2026.
Por que, então, a centro-direita democrática tem tido tanta dificuldade em romper de vez com Bolsonaro, mesmo sabendo — como aponta pesquisa da Genial/Quaest — que a maioria dos brasileiros acredita no seu envolvimento direto numa tentativa de golpe de Estado?
E os sinais de desgaste não param aí. Levantamento mais recente da mesma Genial/Quaest mostra que o eleitor de centro está cada vez mais refratário a candidaturas bolsonaristas. A repercussão negativa do chamado “tarifaço” nos Estados Unidos e a imposição da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes pelo governo Trump apenas reforçaram a percepção de toxicidade associada a Bolsonaro e ao bolsonarismo. Ou seja, a centro-direita tem espaço para disputar esse eleitorado decisivo — que já determinou o rumo das eleições de 2018 e 2022 — sem medo de perder espaço para a extrema direita.
É bem provável que a centro-direita democrática possa prescindir dos eleitores bolsonaristas no primeiro turno. Uma vez no segundo turno, esses eleitores mais radicais não teriam outra alternativa a não ser apoiar um candidato da direita democrática.
A linha que separa a direita bolsonarista da não bolsonarista é o respeito às regras do jogo democrático. Enquanto os primeiros só aceitam o resultado quando lhes convém, os segundos reconhecem a derrota como parte do jogo democrático.
Bolsonaro já é tóxico — e será ainda mais, caso venha a ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal. O pretexto de não se indispor com seus eleitores já não se sustenta: os números mostram que o bolsonarismo está reduzido a um extrato minoritário da população, rejeitado inclusive pelo eleitorado de centro.
Assim como Lula, em 2018, interditou a esquerda, preferindo levá-la à derrota ao insistir em sua candidatura ou na de alguém com a marca do PT para preservar seu protagonismo, Bolsonaro e sua base radical podem preferir interditar a direita democrática a aceitar sua perda de centralidade. É provável que apostem no “quanto pior, melhor” em 2026, para evitar serem relegados a uma posição subalterna na direita.
Com Bolsonaro fora da disputa presidencial, os eleitores de centro — cerca de 28% do eleitorado, que decidiram tanto a eleição de 2018, apoiando Bolsonaro para evitar o PT, quanto a de 2022, apoiando Lula para evitar maiores riscos democráticos com um segundo mandato de Bolsonaro — podem se inclinar por candidatos de centro-direita não bolsonaristas. Além disso, o cansaço com o PT e com um terceiro mandato de Lula, sem uma marca clara e com alta desaprovação, abre espaço para essa alternativa.
A estratégia dominante para os candidatos da centro-direita democrática é, portanto, se apresentar como conservadores, mas sem concessões ao bolsonarismo. A única forma de conquistar legitimidade dos eleitores de centro é se diferenciar claramente de Bolsonaro e de sua lógica antidemocrática e retrógrada.
O grande desafio é de coordenação: unir a centro-direita não bolsonarista em torno de um único candidato viável. O erro da esquerda em 2018 foi esperar demais, hesitar demais — e, no fim, entregar a vitória ao oponente. Se a centro-direita não tiver coragem de se libertar de Bolsonaro agora, corre sérios riscos de perder competitividade e entregar novamente a eleição a Lula — talvez sua última oportunidade de se consolidar como alternativa viável no campo conservador democrático. (Carlos Pereira/Colunista do Estadão)
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