Sexta-feira, 26 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 26 de setembro de 2025
Aliados que visitaram Jair Bolsonaro na prisão domiciliar em Brasília nas últimas semanas e ouviram dele pedidos para convencer o filho Eduardo (PL-SP) a diminuir a beligerância nas redes sociais têm relatado que a maior preocupação do ex-presidente não é tanto com a questão do tarifaço e sim com Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL.
Na iminência de iniciar o cumprimento da pena de 27 anos e 3 meses pela trama golpista em regime fechado, Bolsonaro não quer melindrar o aliado com receio de que as intrigas públicas prejudiquem a articulação pela anistia bolsonarista no Congresso e a costura de uma chapa presidencial competitiva em 2026 com um integrante da família como candidato a presidente ou a vice.
Na semana passada, Eduardo e Valdemar trocaram farpas através da imprensa depois que o dirigente declarou à Folha de S. Paulo que, caso Eduardo insista em se candidatar à presidência em 2026 à revelia de Bolsonaro, irá “matar seu pai”. Em resposta, o deputado chamou a fala do dirigente de “canalhice” e cobrou um pedido de desculpas. Valdemar, por sua vez, esticou ainda mais a corda.
“Canalhice é xingar o próprio pai e pensar que tem votos. Os votos são do seu pai, não seus. Mas, se o seu pai te escolher, vai ter o apoio do partido. Diferente de você, respeito muito seu pai”, retrucou o presidente do PL em referência aos diálogos divulgados pela Polícia Federal (PF) nos quais o 03 ofende Jair Bolsonaro.
Nos bastidores, Valdemar tem dito a aliados que o problema de Eduardo é dinheiro e que ele tem reclamado muito do que considera desigualdade nas verbas destinadas pelo PL a ele e à madrasta, Michelle Bolsonaro.
“O que ele quer que a gente faça? Fique mandando dinheiro para ele lá nos Estados Unidos? Michelle é presidente do PL Mulher e o partido tem cotas para gastar com candidaturas femininas”, declarou um aliado próximo de Valdemar.
“O PL não tem atuação internacional. Não existe um PL Dallas ou um PL Houston [cidades do Texas, estado onde Eduardo vive no seu autoexílio nos EUA]. Além disso, a chance de mandar dinheiro público para ele é zero por conta do bloqueio nas contas determinado pelo STF”.
Já o entorno de Eduardo rebate a versão da cúpula do PL. Aliados lembram que o partido o nomeou secretário de Relações Institucionais e Internacionais no fim do ano passado, após a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, e alegam que Valdemar prometeu estrutura e novas frentes de atuação da legenda no exterior, o que nunca teria sido cumprido.
O ex-presidente, que está proibido de se comunicar com Eduardo desde julho por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, teria pedido a interlocutores que fizessem chegar ao deputado os apelos por uma trégua com Valdemar.
As faíscas na relação com Valdemar vêm de longe. Como publicamos no blog em agosto, o filho 03 tem reclamado de uma suposta falta de suporte do PL durante sua campanha por sanções contra autoridades brasileiras durante o autoexílio nos Estados Unidos, que já dura seis meses e lhe rendeu uma denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por coação à Justiça.
Interlocutores de Valdemar Costa Neto admitem sob reserva a chateação com os ataques de Eduardo Bolsonaro, mas ponderam que a beligerância é incapaz de abalar as relações entre o dirigente e o ex-presidente da República.
Além disso, o próprio Eduardo Bolsonaro tem se demonstrado inflexível em relação ao pedido do pai.
Após o presidente do PL dizer que ele não tem votos, o deputado voltou a disparar nas redes sociais.
“Não abdiquei de tudo para trocar afagos mentirosos com víboras. Não lutei contra tiranos insanos para me sujeitar aos esquemas espúrios dos batedores de carteira da ocasião. Esse é o momento para resgatarmos a direita, não para a enfiarmos nas mãos sujas do aproveitador de ocasião”, escreveu em resposta a uma publicação com críticas a Valdemar.
Antes das cautelares impostas pelo STF, Bolsonaro já havia arbitrado a troca de farpas entre o deputado e outro aliado na direita, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). De olho na disputa do espólio do pai em 2026, Eduardo tem tratado Tarcísio como adversário da família e criticado as movimentações do Centrão para viabilizá-lo como presidenciável.
As conversas de WhatsApp reveladas pela PF, inclusive, escancaram a divisão interna no clã Bolsonaro sobre o papel do governador de São Paulo nas eleições do próximo ano. Com informações do portal O Globo.