Quinta-feira, 30 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 29 de outubro de 2025
A megaoperação deflagrada pelo governo fluminense na terça-feira (28), contra o Comando Vermelho (CV) teve efeitos para além das mais de 120 mortes e do cenário de guerra no Rio de Janeiro. Ela causou um tremor político que chegou a Brasília e mexeu com a agenda de autoridades, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está fora do País.
A ação comandada pelo governador Cláudio Castro (PL) desembocou em contenda política com o governo federal, antecipou a disputa eleitoral de 2026 e pôs de novo a proposta de emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública no radar.
Na manha dessa quarta-feira (29), cerca de 2,5 mil policiais civis e militares foram às ruas para tentar frear o avanço da principal facção do Estado e prender alguns de seus membros. Oitenta e um suspeitos foram presos, de acordo com dados do governo estadual, e quatro agentes morreram. Trata-se da operação mais letal da história do Rio.
O cenário de guerra no Rio deu novos holofotes à PEC da Segurança Pública, principal aposta do governo Lula para o enfrentamento à criminalidade – atribuição delegada aos governadores pela Constituição Federal de 1988. O projeto está em banho-maria no Congresso em meio à má vontade da oposição em apreciá-lo.
Nas redes sociais, Gleisi mencionou a operação no Rio para defender a proposta. Ela afirmou que “os violentos episódios desta terça-feira no Rio, com dezenas de mortes, inclusive de policiais, bloqueio de rodovias e ameaças à população”, ressaltam a urgência da aprovação da PEC.
Troca de acusações
O Palácio do Planalto começou a ser dragado para o episódio na medida em que autoridades envolvidas na ação faziam declarações à imprensa. O caso repercutiu no exterior às vésperas da COP-30.
Primeiro, o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos, disse em entrevista à TV Globo que o seu Estado não tem condições de enfrentar sozinho o crime organizado e que o Palácio Guanabara solicitou ajuda federal em uma operação anterior contra o CV, mas teve o pedido negado.
Depois, Castro, do mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), disparou as acusações contra o governo Lula numa entrevista ao dizer que está “sozinho” nessa luta, uma vez que vem tendo pedidos de ajuda federal negados pelo governo Lula.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública, responsável pelas diretrizes de segurança pública em nível nacional, pela coordenação da Força Nacional e pelo comando da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, respondeu que nunca negou socorro ao Rio de Janeiro.
Em seguida, o próprio ministro Ricardo Lewandowski abriu uma brecha numa agenda no Ceará para vir a público e dizer que, ainda que o governo federal tenha contribuído com a gestão Castro em diversas frentes, a responsabilidade da segurança pública nos Estados é constitucionalmente dos governadores. E alfinetou: “o combate à criminalidade se faz com planejamento, inteligência e coordenação”.
A base governista, por sua vez, partiu para cima de Castro, afirmando que o governador tenta antecipar a eleição de 2026 ao puxar Lula para dentro da crise da segurança no Rio.
“Essa fala do Castro é eleitoreira. Ele quer continuar flertando com a extrema direita, que tem na violência um de seus métodos e seus temas fundamentais, e tenta atingir o governo Lula. É irresponsabilidade (deixar) o Estado do Rio paralisado e o governador fazer campanha eleitoral antecipada”, afirmou o deputado federal Tarcísio Motta (PSOL-RJ).
Operação fracassou
No meio do cabo de guerra sobre culpa e responsabilidade entre diferentes grupos políticos, especialistas veem a discussão sobre segurança pública pautada pelo viés político-ideológico. A diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo, vê nas alegações de Castro sobre pedidos de ajuda negados uma diferença de abordagem entre as duas esferas no combate ao crime, uma vez que o governo Lula não costuma concordar com ações bélicas dessa natureza.
Carolina afirma que megaoperações como a dessa terça-feira não desmontam a estrutura do crime organizado e a cadeia produtiva da droga. Apesar das apreensões, a dinâmica do crime volta ao normal em pouco tempo, diz ela, e há muitas mortes envolvidas, além do impacto para a população local.
“Parece fácil tirar a responsabilidade das próprias costas. Mas eu me pergunto: qual é o investimento que Castro tem feito na delegacia especializada em armas (Desarme)? Como ela está trabalhando com a Polícia Federal para desbaratar os fluxos de chegada de armas no Rio? Mesmo com uma operação dessa, talvez devesse ter tido um outro tipo de planejamento, porque foi uma operação fracassada”, afirma ela. (As informações são do jornal O Estado de S. Paulo)