Sábado, 18 de Maio de 2024

Home em foco A pior tragédia climática do Rio Grande do Sul se transforma no novo normal climático

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A pior tragédia climática do Rio Grande do Sul afeta uma a cada três cidades gaúchas e, infelizmente, se transforma no novo normal climático. “Os extremos de chuva estão virando mais extremos. Há o sinal claro da mudança climática. Temos que nos preparar para esta nova realidade que já estamos vivendo”, diz o climatologista José Marengo, que trabalha há mais de 20 anos com adaptação aos impactos do clima e esteve à frente de capítulos de relatórios do Painel Intergovernamental de Mudança Climática, o IPCC, nesta temática.

Marengo costuma dizer que o Brasil é muito solidário no pós-desastre, mas que é preciso pensar na prevenção. “Casas que não foram destruídas em 2023 foram destruídas agora. Em 2023 foram 16 mortos, agora são ao menos 29 e 60 desaparecidos. Isso mostra que não ocorreu adaptação naquelas regiões”, diz o climatologista.

Entre formas de adaptação há a previsão de tempo, a previsão de riscos de desastres (que é o que faz o Cemaden) e o mapeamento de áreas de risco, cita.

O Cemaden ampliará seu monitoramento a 1.942 municípios brasileiros. “No mapeamento tem que se observar quais áreas são vulneráveis a enchentes e a deslizamentos de terra. O lógico seria não permitir que pessoas morem ali”, diz. “O mapeamento está incompleto. Teríamos que ter todo o Brasil mapeado. É uma tarefa gigantesca, porque se trata de um país continental. As pessoas chegam, constroem suas casas e depois de 20 anos acontece algo assim. Mas o clima está mudando. Esse é o novo normal.”

“O Plano Nacional de Adaptação está sendo elaborado, mas ainda não está pronto”, continua. “Cidades foram construídas em áreas que eram leitos de rios ou muito próximas a eles. Qualquer chuva intensa, há inundação”, diz.

O cientista diz que o que acontece agora “é mitigação: ou seja, salvar as pessoas, levá-las a áreas mais seguras. Mas não se está fazendo adaptação. É difícil, essas cidades já foram construídas em áreas de risco e não é possível reconstruí-las longe do rio.”

“É preciso construir barreiras de proteção para limitar o avanço do rio ou não construir moradias perto dos rios. Construir parques e espaços abertos que possam ser inundados”, sugere.

Próximos dias

As chuvas fortes que causam a tragédia no Rio Grande do Sul, infelizmente, vão persistir. “Ainda não se tem a real dimensão da tragédia. Saberemos nos próximos dias”, diz Marcelo Seluchi, coordenador da equipe de monitoramento do Cemaden.

“Uma das questões mais marcantes no Rio Grande do Sul é a intensidade da chuva, a persistência e sua abrangência. Por isso é que se tem uma quantidade tão grande de desalojados, de mortes e de estragos”, diz Seluchi.

A situação, segundo as previsões, levará dias para se normalizar. “Os rios que estão recebendo muita água vão escoar estes volumes. A área centro-leste do Estado, incluindo a área metropolitana de Porto Alegre, vai sofrer com inundações durante vários dias, provavelmente”, diz Seluchi. “É uma situação inédita. Isso significa que o cenário não apenas vai demorar muito a normalizar, mas ainda pode piorar. É um quadro muito delicado e muito triste.”

Por ora o drama acontece pelas inundações. Mas, à medida que o volume de água se acumula no solo, podem ocorrer deslizamentos em Santa Maria, na região metropolitana de Porto Alegre e nas serras gaúcha e catarinense

A tragédia está sendo provocada por um conjunto de fatores. A onda de calor na parte central do país, do Paraná para cima, que está sendo causada por uma área de alta pressão atmosférica, deixa o ar quente e seco e está barrando o deslocamento de frentes frias que chegam da Argentina e do Uruguai. “Temos essa sequência interminável de chuvas porque as frentes estacionam naquela região”, explica.

A situação se agrava mais com a crise climática. “Isso ainda continua sendo uma consequência do El Niño. Durante o fenômeno, temos chuvas intensas na região Sul do Brasil. E os mapas de temperatura do mar indicam que ainda estamos sob o domínio do El Niño, que, se supõe, deve durar até ao menos meados deste ano”, alerta José Marengo.

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