Quinta-feira, 10 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 10 de julho de 2025
Há muito tempo, a narrativa dominante sobre o futuro oscila entre o apocalipse e a euforia. De um lado, vozes alarmistas anunciam o colapso iminente da civilização — seja pela emergência climática, pelo risco de uma guerra nuclear ou pelo domínio incontrolável da inteligência artificial. De outro, há quem vislumbre na tecnologia, na ciência e no progresso humano a possibilidade de um mundo mais justo, saudável e próspero. Entre esses dois polos, há um debate essencial a ser feito: estamos sendo justos com o nosso próprio tempo?
Em meio ao coro dos catastrofistas, poucos livros ousam nadar contra a corrente. Um deles é O Novo Iluminismo, do psicólogo e linguista Steven Pinker. Apoiado por uma avalanche de dados e evidências históricas, Pinker nos lembra que a humanidade, apesar de todos os seus percalços, nunca esteve tão bem. A violência diminuiu, a expectativa de vida aumentou, a pobreza extrema recuou drasticamente, e o conhecimento é mais acessível do que jamais foi. Em vez de caos, há uma tendência sólida de progresso sustentado — movido pela razão, pela ciência e por instituições que, embora imperfeitas, evoluem.
Pinker não está sozinho nesse diagnóstico. Em Abundância, Peter H. Diamandis e Steven Kotler descrevem, também com robustos argumentos, um futuro no qual tecnologias exponenciais, como a inteligência artificial, a biotecnologia, a robótica, a computação infinita, a manufatura digital e a energia renovável poderão, nas próximas décadas, atender às necessidades básicas de toda a humanidade. Para eles, estamos às vésperas de uma era de abundância, na qual será possível prover água potável, alimentos, educação e saúde a bilhões de pessoas, antes esquecidas pelo sistema global.
Mas por que, então, mesmo diante de tantas evidências, o pessimismo ainda reina? Talvez porque o medo seja visceral, instintivo. Ele se impõe com mais força do que a esperança. Além disso, as redes sociais, os ciclos de notícias e os discursos populistas se alimentam de pânicos morais e catástrofes iminentes. É mais fácil vender tragédia do que progresso silencioso. Redes sociais, ainda, sobrevivem do engajamento dos seus usuários e a disseminação do pânico funciona como um poderoso elemento catalisador.
Há também um fator psicológico: o mundo melhor de hoje convive com novas ameaças, reais e urgentes. A crise climática é uma delas, assim como o risco de retrocessos democráticos, alimentados por líderes autoritários, tribalismos ideológicos e desinformação em larga escala. Pinker reconhece esses perigos. Diamandis também. Mas eles insistem que a melhor forma de enfrentá-los não é com cinismo ou desesperança, e sim com mais razão, mais ciência, mais cooperação global, mesmo que retrocessos sejam percebidos aqui e acolá, como no caso do atual desmantelamento de muitos mecanismos multilaterais de cooperação.
Ao invés de nos rendermos ao apocalipse ou ao ufanismo, talvez devêssemos aprender a sustentar uma postura crítica e esperançosa ao mesmo tempo. Reconhecer os problemas — sem ignorá-los —, mas também celebrar os avanços que nos trouxeram até aqui. É injusto com a nossa própria civilização ignorar que milhões de vidas estão sendo salvas por vacinas, que fontes limpas de energia estão ganhando escala, que meninas estão frequentando escolas em regiões onde antes isso era impensável, que a inteligência artificial já contribui para diagnósticos médicos mais precisos ou para otimizar colheitas em países pobres.
O futuro não está garantido, mas tampouco está perdido. Ele será, em grande parte, aquilo que decidirmos construir coletivamente. E talvez a maior lição desses pensadores otimistas seja justamente essa: temos mais ferramentas do que nunca para moldar um destino melhor — desde que não deixemos que o medo paralise a ação. Não deixa de ser, nesta perspectiva, reconfortante saber que, apesar de muitas sombras assomarem no horizonte, o homem ainda seja capaz de esculpir um amanhã no qual as forças da razão sobreponham o pensamento mágico e a tirania daqueles que o abraçam em nome de mais poder.
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