Segunda-feira, 11 de Agosto de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 10 de agosto de 2025
Em 15 de março, o influenciador Paulo Figueiredo anunciava, em uma live, uma viagem de Weston, na Flórida, onde mora, a Washington, para discutir com autoridades americanas sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O foco de sua atuação e do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), autoexilado nos Estados Unidos, era o magistrado apontado como inimigo número um do bolsonarismo. Figueiredo admitia, entretanto, que Donald Trump poderia mirar sua artilharia além do ministro: “Se o Lula ficar enchendo muito o saco…”, disse ele, deixando no ar o que poderia acontecer.
Durante os últimos quatro meses, em seus canais no YouTube, Figueiredo e Eduardo falaram abertamente do lobby que faziam para que os EUA aprovassem sanções a Moraes e a quem mais colaborasse com os processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu no STF por tentativa de golpe. A cruzada internacional, inicialmente tratada com desdém mesmo entre aliados, que questionavam o real acesso da dupla à Casa Branca, passou a ser vista com outros olhos após Trump anunciar, em 9 de julho, uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e citar, como uma das justificativas, a ação na Corte contra o ex-mandatário brasileiro.
Análise feita pelo portal O Globo nos vídeos publicados por ambos aponta que, de março ao início deste mês, Eduardo e Figueiredo falaram de sanções o equivalente a cinco vezes por dia. Neste período, o termo “Alexandre”, em referência ao ministro do STF, foi citado 2.024 vezes, mais que o dobro do que Lula, com 795 menções.
Para fazer essa análise, foram transcritos os conteúdos dos 316 vídeos publicados nos canais do YouTube dos dois. Esses registros foram, então, lidos com o auxílio de inteligência artificial, que identificou os momentos nos quais tratavam sobre sanções ou tarifas. As menções foram então revisadas e assistidas pela reportagem para identificar o contexto em que foram feitas.
Conversas sobre taxas
Além dos nomes de Moraes e de Lula, palavras que fazem referência a punições (“sancionar”, “sancionado”, “sanções” e “sanção”) aparecem, somadas, 716 vezes — o equivalente a cinco vezes por dia no período. Já a imposição da Lei Magnitsky a Moraes, anunciada em 30 de julho, foi repetida 174 vezes nos meses anteriores à aplicação da sanção ao ministro do STF por susposta violação de direitos humanos.
Nos vídeos, não há referência à taxação ao Brasil imposta por Trump antes de seu anúncio. Em entrevista a um podcast no mês passado, contudo, Figueiredo admitiu que o tema chegou a ser discutido com ele e Eduardo em reuniões com autoridades americanas.
— Demos a opinião de que esta medida não era a melhor a ser aplicada naquele momento. Nós advogamos na direção de sanções direcionadas aos agentes principais da ditadura — disse Figueiredo ao participar ao lado de Eduardo do podcast Inteligência Ltda.
Procurado, Figueiredo afirmou que “foram muitas reuniões e diversas opções foram discutidas, incluindo várias que não foram acionadas e ainda permanecem na mesa”. “Mas, sempre deixamos claro que, na nossa opinião, esta (taxação dos produtos brasileiros) não era a ferramenta mais eficiente para o objetivo almejado”, disse, em nota. Eduardo não respondeu.
Nos últimos dias, o deputado e o influenciador passaram a mencionar uma possível escalada das sanções, como o desligamento do Brasil do sistema Swift, a principal rede de pagamentos internacionais.
Fiel escudeiro
Figueiredo, que vive nos EUA há mais de dez anos, tem atuado como um fiel escudeiro de Eduardo desde que o parlamentar anunciou ter abandonado o mandato na Câmara para se dedicar à campanha internacional contra Moraes. Neto do general João Batista Figueiredo, último dos presidentes da ditadura militar no Brasil, o influenciador possui uma relação antiga com Trump, de quem chegou a ser sócio na construção de um hotel no Rio, entre 2013 e 2015.
Em maio, o STF abriu um inquérito a pedido da Procuradoria-Geral da República para apurar a atuação de Eduardo nos Estados Unidos. Já Figueiredo é um dos réus na ação penal da trama golpista.
Embora evitem falar abertamente sobre quem são seus interlocutores nos EUA, eles citam nos vídeos nomes de autoridades americanas com quem se encontraram nos últimos meses. Em 22 de maio, por exemplo, Eduardo faz referência a uma reunião com o deputado republicano Cory Mills, que, segundo ele, levaria um relato sobre a situação no Brasil ao secretário de estado de Trump, Marco Rubio.
— O nosso trabalho principal é levar a realidade dos fatos, o que está acontecendo no Brasil, para dar essa exata dimensão na cabeça das autoridades americanas — afirmou Eduardo na ocasião. Com informações do portal O Globo.
No Ar: Pampa News