Terça-feira, 09 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 8 de setembro de 2025
Adoçantes artificiais são substâncias químicas sintetizadas em laboratório para substituir o açúcar comum, com pouquíssimas ou nenhuma caloria. E como eles são muito mais doces que o açúcar comum, precisa-se de quantidades muito menores para o mesmo efeito de doçura. Os mais comuns atualmente são a sucralose, sacarina e o aspartame.
E um estudo prospectivo de 8 anos realizado no Brasil por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e publicado na revista científica Neurology, em que acompanharam mais de 12 mil voluntários durante esse período, observou-se que quem consumiu as maiores quantidades de adoçantes artificiais teve uma taxa 62% maior de declínio cognitivo global, o que equivale a quase 2 anos de envelhecimento cerebral.
Declínio cognitivo
O declínio cognitivo é a diminuição gradual das habilidades mentais, como memória, atenção e resolução de problemas.
O estudo em questão analisou os adoçantes aspartame, sacarina, acessulfame-K, eritritol, sorbitol e xilitol, e encontrou que os maiores consumos deles estava associado a maiores perdas cognitivas, prejudicando particularmente a memória e a fluência verbal.
No estudo, os participantes que consumiram as maiores quantidades de adoçantes artificiais tiveram uma taxa 62% maior de desenvolver declínio cognitivo global, 173% maior de declínio da fluência verbal e 32% maior de declínio de memória, em comparação com aqueles que tinham consumo mais baixo.
É importante destacar que o declínio cognitivo é um processo que ocorre naturalmente com o passar dos anos, devido ao envelhecimento normal, mas que pode ser acelerado pelo consumo regular destes adoçantes artificiais. E essa aceleração equivale a 1,6 anos de envelhecimento cerebral.
E sobre as pessoas com o maior consumo na pesquisa, quanto elas consumiram exatamente? Elas ingeriram uma média de 191 miligramas, ou cerca de 1 colher de chá, de adoçantes artificiais por dia. Para fins de comparação, uma lata de refrigerante zero adoçado com aspartame contém cerca de 200 a 300 miligramas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Já o consumo mais baixo foi de apenas 20 miligramas de adoçantes por dia.
E um detalhe da pesquisa: ela não incluiu o adoçante sucralose, bastante usado atualmente, mas que não estava entre os mais consumidos no Brasil nos anos em que os acompanhamentos foram feitos, entre 2008 e 2016.
Os motivos
Segundo os autores, os possíveis mecanismos para o que foi encontrado podem ser neurotoxicidade e neuroinflamação provocadas por metabólitos (produtos resultantes da degradação) dos adoçantes artificiais. E embora estudos com animais não dêem respostas conclusivas para seres humanos, eles trazem alguns indícios e apontam em que caminho continuar pesquisando.
“Agora, o estudo é apenas observacional – não posso afirmar que os adoçantes artificiais causam declínio cognitivo. Sabemos, no entanto, que esses adoçantes estão associados a piores trajetórias cognitivas”, explicou em um comunicado a Dra. Claudia Kimie Suemoto, professora de geriatria e diretora do Biobanco para Estudos do Envelhecimento da Faculdade de Medicina da USP e co-autora do estudo.
Contudo, o estudo representa um avanço significativo na compreensão dos possíveis efeitos a longo prazo dos adoçantes artificiais na função cognitiva, e mais pesquisas são necessárias, principalmente ensaios clínicos – em que os participantes são avaliados em condições mais bem controladas.