Quarta-feira, 23 de Outubro de 2024

Home Colunistas Ainda o primeiro de maio

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Já tinha escrito este artigo quando os eventos dramáticos do Sul entraram na ordem o dia e tive de me ocupar do que era mais premente. Mas o fiasco do Primeiro de Maio de Lula ainda está na pauta e ficará por muito tempo.

Claro, foi uma sucessão de erros para se chegar a um resultado tão desalentador. Acho que está ligado à perda de substância e ao descrédito dos sindicatos, entre outras razões. É provável que os trabalhadores há muito tempo olhem com desconfiança a ação dos dirigentes sindicais.

Os sindicalizados viam alguns espertalhões fundarem o sindicato e se perpetuarem no poder, dispondo de conforto que eles da base não poderiam nem sonhar – viagens aéreas, bons hotéis, roupas bem talhadas, participação em delegações, conferências, congressos, plenárias sindicais e multi sindicais. A verdade é que a partir de certa hora as entidades sindicais não puderam mais entregar o que prometiam. O fim do imposto sindical precipitou o desgaste.

No Brasil, existe um número ao redor dos 12 mil sindicatos de trabalhadores. Não há nenhum país do mundo que chegue perto e se compare ao nosso. Mas a quantidade de entidades sindicais infelizmente nada tem a ver com a qualidade da representação.

Os sindicatos têm entre si pautas comuns, mas igualmente interesses que os separam e dividem. A mais notória das discrepâncias é a que diz respeito às entidades sindicais do setor privado e as do setor público. Estes últimos são em geral filiados à CUT, a central sindical do PT.

A estabilidade dos funcionários públicos , face à precariedade de emprego dos trabalhadores de carteira assinada, dividem as pautas, como se houvesse duas classes de trabalhadores e duas classes de sindicatos.

Os sindicatos, preguiçosos e burocráticos, não perceberam que as relações de trabalho vinham experimentando uma mudança radical, decorrente dos avanços da informática, da tecnologia, da era do conhecimento, do mundo globalizado.

Os sindicatos dos bancários, outrora influentes e poderosos, parando o país a cada dissídio anual, viram sair nas portas giratórias das agências bancárias milhares de trabalhadores, substituídos por caixas eletrônicos, agências virtuais e toda uma gama de operações que podem ser realizadas de casa, no celular do correntista. Devem existir no Brasil uma massa da ordem de 500 mil ex-bancários, que foram obrigados a procurar outros meios de vida e trabalho.

A busca de um emprego formal, estável, foi substituída por uma atração ao risco, ao empreendimento, com a perspectiva de uma remuneração mais compensadora, de comandar seu próprio negócio, sem depender de chefes e patrões.

Não é a toa que os motoristas de aplicativos desprezam as ofertas do governo de salário e registro em carteira: eles sabem que se aceitarem perderão muitos dos atrativos da “uberização”, entre os quais a autonomia e flexibilidade.

O governo, os sindicatos, com os olhos postos no passado, acreditam que podem reequilibrar as relações com as velhas crenças e as velhas práticas. Não convence mais ninguém. O fracasso do Primeiro de Maio foi apenas um sintoma visível da nova realidade.

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