Quinta-feira, 06 de Novembro de 2025

Home em foco Aliados veem “tiro no pé” do presidente Lula ao acusar Sérgio Moro

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A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que seria uma possível “armação” do senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) o plano de uma organização criminosa, descoberto pela Polícia Federal, para assassinar o ex-juiz, desagradou a aliados, parlamentares petistas e integrantes do governo.

A avaliação geral é de que a fala de Lula significou “um tiro no pé” por derrubar, um dia depois, todo o esforço do Palácio do Planalto para destacar que a ação da Polícia Federal teria salvado a vida de um ferrenho opositor. Nos bastidores, o entendimento também é de que o próprio presidente, de maneira desastrosa, “salvou Moro do ostracismo”.

Um ministro ouvido em reserva destacou que o ex-juiz estava “na sombra” e, agora, ganhou as manchetes dos jornais. De acordo com o entendimento dele, ao polarizar com Moro, Lula acabou deixando-o maior. “Um erro”, resumiu. Um auxiliar do ministro da Justiça, Flávio Dino, disse reservadamente que a postura de Lula foi “uma derrapada clássica”.

As declarações do presidente foram dadas em entrevista, na última quinta-feira (23), durante visita ao Complexo Naval de Itaguaí, na região metropolitana do Rio, onde são construídas as embarcações previstas no Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub).

“Eu acho que é mais uma armação do Moro. Mas vou ser cauteloso, quero ver o que aconteceu”, disse Lula.

Um deputado petista afirmou não entender a conduta do presidente. “Ou Lula tem uma informação muito valiosa ou, sinceramente, não tem como entender essa escorregada”, avaliou. O parlamentar, que conhece o presidente desde os anos 1980, ressaltou que ficou bastante surpreso com o que considerou uma “displicência retórica” que, no momento, só fortalece o discurso da oposição.

Surpresa

Outro parlamentar do círculo pessoal de Lula pontuou que enxerga diferenças na fala do início da semana, quando o presidente xingou Moro, e as últimas declarações. “A de hoje [quarta-feira] é diferente da fala da entrevista. Ali, ele falou de um sentimento que tinha quando estava preso injustamente. Me surpreendeu”, afirmou o aliado.

O deputado não enxerga motivos para Lula questionar a operação que foi realizada pela Polícia Federal, subordinada ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Para ele, o presidente falou sem pensar. “Não vejo cálculo político, não faz sentido questionar a operação que é dele”, disse.

Na terça-feira, Lula disse, em entrevista ao vivo ao portal Brasil 247, que só estaria tudo bem, na época em que estava na prisão, quando conseguisse “foder” o ex-magistrado. Moro foi responsável pelas condenações do presidente no âmbito da Lava-Jato. As sentenças foram anuladas posteriormente e Lula recuperou os direitos políticos.

No dia seguinte, após a deflagração da operação da PF, que desbaratou o plano para atacar Moro e outras autoridades públicas, incluindo um promotor de Justiça, ministros atuaram em conjunto para controlar os efeitos políticos das declarações ofensivas do presidente.

Dino, que atuou como um porta-voz da operação da Polícia Federal, classificou como “vil, leviana e descabida” a tentativa de ligar a ação policial às declarações dadas por Lula na véspera. Paulo Pimenta, da Comunicação Social, disse que a conduta da PF era um sinal claro de despolitização da instituição.

Na quinta-feira, Pimenta relativizou as novas declarações do chefe. “Na minha opinião a fala do presidente em nenhum momento questiona a investigação, até porque foi conduzida pela PF e pelo MJ. Mas acho que o objeto do questionamento foi o conjunto de coincidências, fatos que acabam trazendo de volta toda uma memória sobre o método que foi utilizado contra ele, muitas vezes, mesmos personagens”, disse.

Na PF, houve mal-estar. Para um delegado, a fala de Lula “não ajuda” a corporação, que tem tentado recuperar a sua credibilidade e demonstrar que é um órgão de Estado e não de governo.

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