Sexta-feira, 11 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 10 de julho de 2025
A publicitária, escritora, roteirista e dramaturga Ana Maria Gonçalves foi eleita na tarde desta quinta-feira (10) para a cadeira de número 33 da Academia Brasileira de Letras (ABL), vaga aberta com a morte de Evanildo Bechara. Gonçalves se torna a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira da academia, que completa este mês 128 anos.
Ana Maria obteve 30 votos. Em segundo lugar ficou Eliane Potiguara. Mineira de Ibiá, Ana Maria Gonçalves tem 55 anos e é autora, entre outras obras, de “Um defeito de cor” (Record), que conta a trajetória de uma menina nascida no Reino do Daomé e capturada como escrava aos 8 anos, até a sua volta à terra natal. O livro, multipremiado, inspirou o enredo da Portela para o carnaval 2024. A personagem principal é inspirada em Luísa Mahin, uma das lideranças da Revolta dos Malês.
“‘Um Defeito de Cor’ é a história da luta preta no Brasil incorporada em uma mulher que enfrentou os maiores desafios imagináveis pra continuar viva e preservar suas heranças e raízes”, explicou a autora, antes do desfile. “A história de uma mãe, heroína, filha de África, que pariu a liberdade dessa nação.”
Além de Ana Maria e Eliane, disputavam a vaga Ruy da Penha Lobo, Wander Lourenço de Oliveira, José Antônio Spencer Hartmann Júnior, Remilson Soares Candeia, João Calazans Filho, Célia Prado, Denilson Marques da Silva, Gilmar Cardoso, Roberto Numeriano, Aurea Domenech e Martinho Ramalho de Melo.
Após a eleição, ‘imortais” comemoraram a entrada de Ana Maria na ABL.
“É um dia histórico. É uma mulher negra que espero que entre na academia fazendo uma grande ‘descendência’. Nós temos aprendido tanto com o feminismo negro e a Ana é uma grande representante desse grupo de pensadoras, desse grupo de intérpretes do Brasil. É uma alegria para a ABL receber agora minha comadre — que já o era antes — e autora de um livro que desfilou na Sapucaí, é um dos livros mais importantes desses 25 anos”, disse Lilia Moritz Schwarcz, que entrou na ABL em 2023.
“[Ana Maria Gonçalves produz] uma literatura de muito fôlego, muita potência. A casa se sente agradecida a vida por ter nos mandado a Ana. Representa que estamos vivos, permanecendo ativos nesse contexto variado de diversidade, muitas e de todos os tipos, étnicas, culturais, as religiosas, etc”, disse Gilberto Gil, eleito para a academia em 2021.
Para o presidente da ABL, Merval Pereira, Ana Maria “é uma das maiores escritoras brasileira dos últimos anos”.
“O livro “Um defeito de cor” foi considerado o mais importante da literatura brasileira dos últimos 25 anos. Só por isso, merece entrar para a ABL. Além disso, é uma mulher negra e a ABL está empenhada em aumentar sua representatividade entre seus pares. Ana Maria terá a função de demonstrar que a ABL está sempre querendo aumentar sua representatividade de sexo, cor, e qualquer tipo que represente a cultura brasileira. Queremos ser reconhecidos como uma instituição cultural que represente o Brasil, a diversidade brasileira. Ela aumenta nossa vontade de estar sempre presente nos movimentos sociais relevantes”, disse Merval.
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