Quarta-feira, 30 de Abril de 2025

Home Colunistas Análise: formar professores on-line é como treinar cirurgiões por YouTube

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Há uma receita infaMEClível para barrar o avanço da educação básica: atraia para os cursos que formam os futuros professores, as licenciaturas, alunos que tiveram baixo desempenho no Ensino Médio; permita que as licenciaturas possam ser cursadas majoritariamente na modalidade Ensino a Distância (EaD); inviabilize e quebre os cursos presenciais ou híbridos de boa qualidade, sejam públicos ou privados, por não conseguirem competir com os cursos EaD; não tenha barreiras para que esses estudantes ingressem como professores nas milhões de salas de aula do País.

É exatamente isso que o Brasil faz.

Precisamos romper o ciclo da mediocridade que começa com o baixo investimento na atratividade e formação dos professores, que por sua vez leva a uma inescapável limitação do potencial de elevarmos o patamar de aprendizagem dos alunos da Educação Básica. Estudo após estudo confirma que nenhum sistema educacional supera a qualidade de seus professores.

Está nas mãos do governo federal a regulamentação do Novo Marco Regulatório para o EaD no ensino superior. Se realmente quisermos ser ambiciosos em relação à qualidade da Educação Básica, precisamos restringir fortemente o EaD na formação inicial docente (FID) e criar uma linha de financiamento para viabilizar a oferta de cursos presenciais de alta qualidade. Esse é o tipo de “marca”, com impacto real e duradouro, que um governo deveria deixar. A solução é incentivar a excelência, não baixar os padrões e expectativas.

Os países no topo do Pisa tratam o ensino como uma profissão, não como um certificado on-line barato. Os professores são formados em salas de aula, não atrás de telas, priorizam treinamento presencial e prático para professores, estágios supervisionados obrigatórios, mentoria rigorosa. Esses países limitam (ou até proíbem!) a formação on-line porque ensinar é uma profissão prática, exigindo interação humana, colaboração e adaptabilidade. Uma boa formação de professores tem como um de seus princípios a homologia de processos, em que um licenciando, em seu processo de formação, utiliza e problematiza as estratégias que pretende aplicar com seus futuros alunos.

Mas o EaD persiste e domina. Os cursos que formam professores são os que possuem o maior número de matrículas no Ensino Superior no Brasil — de cada 10 matrículas, 2 são em cursos de FID — uma oferta acima da demanda de cerca de 100 mil professores necessários por ano para repor os que saem ou se aposentam. Em 2023 foram cerca de 230 mil concluintes, com crescimento exponencial na modalidade EaD de instituições de ensino privadas. A movimentação das porcentagens das matrículas comparando 2023 com 2013 é essa: pública presencial caiu de 36% para 26%; privada presencial caiu de 31% para 7%; pública EaD caiu de 7% para 6%; e privada EaD subiu de 26% para 61%. As taxas de conclusão dos cursos variam muito. Em Pedagogia, que são os cursos que formam os professores da educação infantil e Ensino Fundamental 1, incluindo a alfabetização, 86,8% dos concluintes estavam em cursos na modalidade EaD de instituições privadas.

A restrição ao EaD não provocará “apagão docente”, pois no Brasil não há problema de falta de vagas nos cursos de licenciatura. Se tomarmos apenas os cursos presenciais, haveria vagas suficientes para formar os professores necessários para suprir a demanda, desde que haja maior incentivo para as licenciaturas com menor atratividade hoje, como física e química. Mas, em 2023, apenas 32,7% das novas vagas de pedagogia em cursos presenciais e 38,9% em licenciaturas de formação específica foram preenchidas pois concorrem com o EaD barato e pouco exigente.

É preciso dar um basta à farra instalada do EaD na formação de professores (um breve lembrete: aula à distância síncrona é aula à distância).

Qualidade docente não é luxo — é alicerce civilizatório. Professores constroem nações e precisam de formação à altura de sua missão.

(Priscila Cruz é presidente do Todos Pela Educação)

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