Sábado, 02 de Agosto de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 27 de julho de 2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um dos poucos líderes mundiais que vêm adotando uma abordagem de confronto em relação a Donald Trump. A maioria dos líderes vêm sendo mais cautelosos no trato com o presidente americano e buscam algum tipo de acomodação, por meio de concessões e bajulação. Não está claro se isso teve alguma influência na decisão de Trump de adotar o tarifaço contra o Brasil e nem se vem dificultando as negociações com Washington. Mas certamente não ajuda.
A Presidência de Trump marcou uma ruptura na relação dos EUA com o resto do mundo. O discurso diplomático foi substituído por uma prática transacional e, frequentemente, de confronto. Trump trata aliados e adversários do mesmo modo, com ameaças públicas, pressão econômica, humilhação retórica e imprevisibilidade como tática. Isso levantou a questão de como os demais governos devem reagir ao seu estilo de coerção e bullying político. O retrospecto mostra que desafiá-lo e manter a tensão alta não costuma ser a melhor opção.
Fora do grupo de países declaradamente inimigos dos EUA (como Venezuela e Irã), Lula tem se destacado por seus ataques frequentes ao presidente americano. Isso começou antes mesmo da eleição de Trump. O presidente brasileiro apoiou publicamente a candidata democrata, Kamala Harris, sugeriu que a vitória do republicano era uma ameaça à democracia americana e significaria a volta do fascismo com outra cara. Chegou a chamar Trump de “desumano”.
Após as eleições, o tom confrontador continuou. Em fevereiro, por exemplo, Lula afirmou que Trump queria ser “imperador do mundo”, algo que repetiu agora em julho. Depois do tarifaço, as provocações são quase diárias. O brasileiro disse que a taxação tem como base uma “mentira” (seria mais diplomático dizer “um erro”), que é “um desaforo ao Brasil e à Justiça brasileira”, uma “chantagem inaceitável”. Disse ainda que Trump “não quer conversar”, que “se estiver trucando, vai tomar um seis”, que “deveria ser menos internet e mais chefe de Estado” e que Trump deveria “falar manso” se quiser ser respeitado. A lista é longa.
O presidente brasileiro frequentemente ironiza Trump. Comentando a carta do americano que falava em caça às bruxas contra Jair Bolsonaro, Lula disse: “Primeiro, ele acredita em bruxas. Alguém aqui acredita em bruxa?”. Em outra ocasião, sugeriu que Trump pensou mais com o fígado e com o intestino do que com a cabeça ao decidir pelo tarifaço.
Trump é vaidoso e não gosta de ser confrontado, especialmente por quem não tem as cartas para isso, como ele costuma dizer. Poucos têm essas cartas, talvez apenas China, Rússia e União Europeia. Mas como outros líderes reagiram?
O caso mais interessante e próximo é o da presidente mexicana, a esquerdista Claudia Sheinbaum. O México é o país amigo com o qual Trump tem mais atritos, principalmente nas questões de comércio, imigração e narcotráfico. Ele anunciou tarifas, ignorando um acordo comercial que ele mesmo negociou e assinou. Acusou ainda os mexicanos de invadirem os EUA e de serem estupradores. Foi várias vezes desrespeitoso com o país e chegou a rebatizar o Golfo do México de Golfo da América (ou seja, dos EUA).
Ainda assim, Sheinbaum manteve uma postura tranquila e pragmática. Ao contrário de Lula, ela fala muito pouco em público sobre os problemas com os EUA e com Trump. Logo após as primeiras medidas contra o México, ela fez voluntariamente algumas concessões. Enviou cerca de dez mil soldados para patrulhar a fronteira com os EUA, visando reduzir o fluxo de migrantes (mexicanos e de outros países) e o narcotráfico, e revertendo políticas de seu predecessor e mentor, Andrés Manuel López Obrador.
Quanto às tarifas americanas, Sheinbaum criticou-as e ameaçou retaliar, mas prometeu importar mais dos EUA, menos da China, e buscou esfriar as tensões. Sua estratégia tem sido a de defender o país, mas sem atacar ou provocar Trump diretamente. É uma resistência passiva, como fez a ex-premiê alemã Angela Merkel no primeiro mandato do americano.
A maioria dos líderes mundiais vem adotando uma postura semelhante em relação ao presidente americano, isto é, de fazer concessões (às vezes simbólicas), promessas (que não se sabe se serão cumpridas) e alguma bajulação (o presidente francês, Emmanuel Macron, convidou Trump para o desfile de 14 de julho). Evitam ainda reagir no mesmo tom inflamado e buscam uma acomodação, por meio de negociações em que Trump possa dizer que saiu vencedor. Mesmo líderes esquerdistas, como Sheinbaum e o britânico Keir Starmer, conseguiram isso. Foi assim também que a Dinamarca enfrentou as ameaças de Trump de anexar a Groenlândia, deixando o assunto esfriar, ao menos por enquanto. As informações são do portal Valor Econômico.
No Ar: Pampa Na Madrugada