Terça-feira, 10 de Dezembro de 2024

Home em foco Ao manter em 13,75% a taxa de juros básica da economia, o Comitê de Política Monetária do Banco Central “está contratando inflação futura ou aumento de carga tributária futura”, disse o ministro da Fazenda

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Ao manter em 13,75% a taxa de juros básica da economia, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central “está contratando inflação futura ou aumento de carga tributária futura”, disse ontem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele subiu o tom e ampliou as críticas, afirmando que o comunicado da reunião foi “como de hábito muito ruim” e mostra “descompasso” entre a leitura feita pelos integrantes do colegiado e o que está ocorrendo no país.

O ministro está em Paris, onde acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em reunião com o presidente da França, Emmanuel Macron.

Um integrante da equipe econômica foi além e avaliou que o comunicado tornou “mais difícil” a continuidade do plano de voo traçado por Haddad para retomar o crescimento, trazendo de volta um “cenário preocupante”. Segundo sua leitura, a Fazenda executou a parte que lhe cabia, ao avançar com o ajuste fiscal e assim criar condições para o corte dos juros, mas o Banco Central sequer sinalizou a redução da taxa.

Nos telefonemas trocados na cúpula do governo, após a decisão, integrantes da ala política chamaram o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de “bolsonarista sabotador”, relatou fonte. A reportagem também ouviu a palavra “sabotagem” de outros integrantes do governo.

“Nem todo o contorcionismo do comunicado do BC justifica essa taxa de juros”, disse ao Valor o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. “Para mim, e para empresários e economistas deste país, está claro que as condições para a queda de juros estão dadas.”

Em Roma, onde se encontrou com o papa Francisco antes de seguir para a França, Lula classificou de “irracional” a taxa de juros de 13,75% para uma inflação de 5%. “Acho que esse cidadão joga contra a economia brasileira”, acrescentou, referindo-se a Campos.

O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, fez coro às críticas. Ele disse não haver oposição do governo ao BC ou ao Copom, mas disse que é “preciso ter bom senso” e que é “difícil de entender” a decisão do comitê.

Segundo fonte da área econômica, o comunicado foi “opaco” e gerou uma “disparidade completa de expectativas”. Para outro interlocutor, o texto mostra o BC se “afastando inclusive da leitura mais conservadora do mercado”.

Haddad destacou que a taxa de juros real deve estar na casa dos 8% e que a Selic é a mais alta do mundo. E chamou a atenção para os reflexos negativos da decisão. “O que vi foi juro subir, bolsa cair.”

Haverá também reflexos na política fiscal, alertou o ministro. Estados e municípios estão perdendo arrecadação. Tampouco a União tem conseguido receitas no nível esperado, por causa da pendência em relação ao voto de qualidade no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).

A arrecadação vai cair porque a política monetária buscará desacelerar a economia, disse um integrante da equipe econômica. Segundo essa análise, será mais difícil, por exemplo, cumprir as metas estabelecidas no arcabouço fiscal.

Haddad e outros integrantes da equipe econômica afirmaram que o colegiado ignorou os avanços no quadro fiscal nos últimos meses. O ministro criticou o peso que o Copom dá às expectativas de mercado captadas na pesquisa Focus e afirmou que ela deve ser subsídio, e não a decisão em si. Disse que faz um “esforço genuíno” para entender a ação do BC. “Na técnica, não consigo entender o comunicado.”

Na equipe econômica, existe a análise de que o texto deixou de fora pontos relevantes. “Colocou o câmbio de referência bem mais baixo do que antes, mas não fez comentário sobre o impacto disso na inflação”, disse uma fonte, que citou também que o órgão “desprezou a manutenção dos juros do Fed [Federal Reserve, banco central americano]”.

Houve ainda a percepção de que o BC não comentou, além do cenário de referência, o impacto positivo da bandeira verde de energia e não mencionou o a mudança na política de preços da Petrobras.

Alguns segmentos de empresas também fizeram críticas à decisão. A manutenção da Selic e a falta de sinalização clara sobre o início do ciclo de cortes deve levar o setor de máquinas a rever suas previsões para 2023. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) o segmento deve passar de uma projeção de crescimento de 2,4% neste ano para uma queda na receita total.

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