Segunda-feira, 29 de Abril de 2024

Home em foco Apesar da melhora de índices como inflação e desemprego, aprovação da gestão Lula caiu; fenômeno se repete nos Estados Unidos

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A inflação está controlada, o desemprego registra o menor patamar desde 2014 e o Produto Interno Bruto (PIB) cresce acima do previsto pelo mercado. A popularidade do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por outro lado, cai. Desde que o estrategista americano James Carville cunhou a frase “É a economia, estúpido” na campanha presidencial de Bill Clinton, em 1992, a ideia virou um mantra político. Hoje, dentro e fora do Brasil, a máxima começa a ser colocada em xeque, apesar de a economia ainda desempenhar papel fundamental.

Diante de um cenário de polarização consolidada, avaliam cientistas políticos e diretores de institutos de pesquisa, valores morais e a pauta identitária se juntam à seara econômica no rol de temas que forjam a opinião pública. Em linhas gerais, é como se o pensamento de Carville passasse por uma adaptação: a economia ainda importa, estúpido, mas só ela não basta.

“Não é mais suficiente apenas a economia para gerar resultados políticos. É preciso disputar narrativas, compreender a guerra cultural num mundo de redes sociais e de formação de bolhas”, avalia o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest Consultoria e Pesquisa e autor, junto com o jornalista Thomas Traumann, do livro “Biografia do Abismo”, que analisa a polarização na sociedade brasileira.

Nova lógica

Essa nova lógica, afirma Nunes, evidencia uma opinião pública “calcificada”, palavra escolhida no livro para ilustrar como a sociedade está dividida, com cada lado convicto do que acredita e fechado a ouvir o outro.

“A sociedade brasileira sempre foi conservadora, e continua sendo. Um governo de esquerda, então, tem desafios”, aponta o diretor da Quaest, que também é professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Quando o debate era só econômico, conseguia superar pelas entregas voltadas para o bem-estar social. Quando isso deixa de ser o único determinante e entra a pauta de valores, o governo tem que debater temas não necessariamente favoráveis a ele na opinião pública, como o aborto”, acrescenta.

Nas pesquisas da Quaest, o governo Lula passou de 40% de avaliação positiva em fevereiro de 2023 para 35% no mesmo mês deste ano; a negativa saltou de 20% para 34%. Nos levantamentos do Ipec, queda de 41% para 33% no índice de “ótimo ou bom” e crescimento de 24% para 32% no de “ruim ou péssimo”, quando comparados os meses de março de um ano para outro.

Os indicadores econômicos, por sua vez, têm registrado inflação abaixo de 5% na comparação com os 12 meses anteriores, taxa de desocupação em 7,4% e um PIB que cresceu 2,9% no ano passado, na contramão das expectativas de menos de 1% divulgadas pelo mercado no início do governo.

Percepção

Outra interpretação para o descompasso versa sobre nuances da melhora da economia, destacam os especialistas. O PIB do ano passado, por exemplo, teve desempenhos melhores nos dois primeiros trimestres, quando a avaliação do governo também estava superior. Pesa ainda a demora para dados econômicos despontarem como algo palpável para a população, analisa a CEO do Ipec, Márcia Cavallari.

“Uma coisa são os indicadores oficiais, outra é a percepção da opinião pública. A percepção às vezes demora a chegar. A economia pode estar melhorando, mas talvez a população ainda não tenha sentido isso no bolso. Até porque, quando vemos os segmentos em que Lula mais caiu, destaca-se o de renda mais baixa”, diz.

Em dezembro do ano passado, 47% dos entrevistados acreditavam que o poder de compra do brasileiro era “menor do que antes”. No levantamento de fevereiro, o percentual saltou para 65%.

Na outra ponta, 33% avaliavam em dezembro que o poder de compra era maior; agora, apenas 20% pensam assim. Os números ilustram como indicadores positivos na economia nem sempre se convertem a curto prazo em impacto real para a população.

Oposição mobilizada

Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o cientista político Josué Medeiros enxerga uma oposição distinta daquela a que os governos anteriores de Lula estavam acostumados, o que configura um desafio. O bolsonarismo, diz, retomou o poder de mobilização perdido nos meses seguintes ao 8 de janeiro. Uma vez recuperada a capacidade de articulação, voltou a navegar por águas que lhes são convenientes, sobretudo na pauta de valores.

A lógica de que políticas públicas vão naturalmente se converter em melhora na popularidade, aponta Medeiros, não se sustenta mais. E o bolsonarismo disputa de forma mais eficiente as narrativas na base da sociedade.

“Quando retomam a capacidade de pautar a oposição e de se mobilizar, isso não encontra resposta do governo. Política é esporte de contato, e só tem um lado que está dando carrinho, indo para a dividida, disputando a jogada”, diz Medeiros.

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