Sábado, 18 de Maio de 2024

Home Mundo Apesar dos cortes gerais e da forte recessão, popularidade do presidente argentino surpreende, registrando entre 47% e 51% de aprovação

Compartilhe esta notícia:

As últimas pesquisas sobre a aprovação ao governo do presidente argentino, Javier Milei, que circularam em Buenos Aires recentemente mostram o país dividido em duas metades praticamente iguais. A imagem positiva do líder de ultradireita oscila entre 47% e 51%, e a desaprovação a sua gestão atinge percentuais similares. Hoje existem duas Argentinas, e do lado dos que expressam apoio ao chefe de Estado predomina o que analistas locais estão definindo como “a opção por acreditar” que a situação vai melhorar.

As pessoas que escolhem crer que vai melhorar estão passando por sufocos econômicos, cortando despesas e sofrendo na pela o ajuste brutal imposto pelo governo. Mas, como mostram resultados de grupos específicos realizados por empresas de consultoria, essas pessoas dizem que os sacrifícios valerão a pena porque acreditam que o presidente conseguirá superar décadas de crises sucessivas. Os primeiros resultados positivos exibidos pelo Executivo, entre eles a conquista do primeiro trimestre de superávit fiscal desde 2008 e a redução gradual da taxa de inflação, alimentaram esse clima de esperança.

Para surpresa de analistas que comandam pesquisas em campo, como Diego Reynoso, da Universidade de San Andrés, milhões de argentinos não apenas estão tolerando um período de forte recessão — que deve levar a uma queda do PIB argentino de mais de 3% este ano — eles estão confiando num presidente que ainda não conseguiu melhorar sua qualidade de vida.

“Quando medimos o respaldo a Milei em março, eu sinceramente esperava um nível de apoio em torno de 40%, e foi de 51%. A metade do país que está com Milei é silenciosa, e escolheu acreditar nele”, explica Reynoso.

São pessoas, acrescenta o analista, que estavam profundamente insatisfeitas com os governos anteriores e preferem ter paciência com Milei do que sequer pensar numa volta ao passado.

“Nos anos 90, uma frase muito famosa na Argentina era ‘estamos mal, mas vamos bem’. Hoje eu diria que a frase que reflete o clima no país é ‘vamos mal, mas queremos acreditar que iremos melhor’”, diz Reynoso.

É exatamente o que expressa Milagros González, que há duas semanas começou a trabalhar numa padaria do bairro portenho de Palermo. Ela mora na Grande Buenos Aires e está lidando, como toda a classe média, com um custo de vida que aumenta todos os meses e fica cada vez mais difícil de cobrir com um poder aquisitivo que não acompanha o reajuste dos preços internos. Mas Milagros está otimista.

“Pra trás não podemos ir, agora será cada dia um pouco melhor do que o anterior. Temos superávit, alguns preços começam a cair ou pelo menos a ficar estagnados, e temos até produtos importados de novo”, comenta a vendedora de padaria, entusiasmada.

De fato, aos poucos a economia está se abrindo e produtos que chegaram a estar em falta no ano passado, entre eles o atum, estão chegando de fora.

Em pesquisas encomendadas por empresas privadas, mais de 50% dos argentinos dizem estar de acordo com o programa de governo Milei; mais de 60% acham que o presidente conseguirá derrotar a inflação; e mais de 40% acreditam que a Argentina está no rumo certo. Essas mesmas pesquisas indicam que mais de 70% dos entrevistados asseguram que o custo do ajuste está recaindo “nas pessoas comuns”, e não na casta política que Milei diz combater.

Lazer

Argentinos de classes média e média baixa dizem que são os mais prejudicados pelo arrocho econômico implementado pelo governo de ultradireita, mas, mesmo assim, preferem dar uma oportunidade a Milei e não a uma oposição que ainda não se recuperou da surra eleitoral de 2023.

Nesse clima de cauteloso otimismo, restaurantes e teatros de Buenos Aires estão cheios, e não apenas nos fins de semana. Na famosa Avenida Corrientes, onde estão vários dos principais teatros da cidade, e em seus arredores, as filas são longas, num sinal de resistência da cultura nacional e da sociedade, que, apesar do aperto, quando pode gasta em entretenimento. O mesmo acontece nos bairros gastronômicos como Puerto Madero, onde restaurantes como o clássico La Cabaña têm dias de ocupação completa.

“Estamos em recessão, nos reacomodando. Os preços ainda estão muito voláteis, mas tentamos não mexer muito no cardápio. Hoje nossa grande aposta é recuperar o público local”, diz Eduardo González, dono do restaurante.

Como muitos argentinos, ele destaca o fato de que Milei conseguiu evitar uma hiperinflação e, aos poucos, “o pior vai ficando para trás”.

“Voltamos a ter eventos corporativos, algo que não acontecia desde antes da pandemia. Somos cautelosamente otimistas”, aponta. “Todo mundo está aguentando o ajuste porque acha que vai melhorar. Temos recessão sem explosão social, o que reflete esse clima de resiliência e esperança.”

A metade do país que desaprova o presidente é mais ruidosa, vai pra rua, protesta todas as semanas e chega ao ponto de pedir a renúncia de um presidente que foi eleito democraticamente há menos de seis meses. Mas é uma oposição social desarticulada, sem lideranças fortes e sem perspectiva de que essa liderança surja no curto e médio prazo. Essa fraqueza favorece Milei, que tem um partido em construção e minoritário no Congresso, não tem governadores nem prefeitos.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Mundo

Homem que matou menino de 14 anos em Londres com espada de samurai tem nacionalidade brasileira
Policial dispara acidentalmente dentro de prédio de universidade de Nova York ao retirar manifestantes pró-Palestina
Deixe seu comentário
Baixe o app da RÁDIO Pampa App Store Google Play

No Ar: Pampa Na Madrugada