Sexta-feira, 17 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 19 de junho de 2023
Apontado por dez entre dez governistas como responsável pela crise na articulação política do governo, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, privilegia sua base política na Bahia na agenda de trabalho. Costa esteve com mais parlamentares e prefeitos baianos do que de qualquer outro Estado. A Bahia também é seu principal destino em viagens oficiais.
Ex-governador da Bahia, o petista tem no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sua primeira experiência no primeiro escalão em Brasília. Sua atuação como gerente do governo tem sido criticada por políticos do PT e do Centrão por travar as demandas do Congresso. A agenda do ministro ajuda a explicar a crise.
Em seis meses de governo, Costa teve 91 encontros com autoridades da Bahia. O ministro também viajou 13 vezes para cumprir 28 agendas em seu reduto eleitoral. Em apenas três desses compromissos na Bahia ele esteve acompanhando o presidente Lula. Nos demais, fez agenda própria. De 1º de janeiro a 7 de junho, a agenda do chefe da Casa Civil registrou 450 encontros, dos quais 396 foram em Brasília, 28 na Bahia e 26 em outros Estados.
No último dia 1º, durante uma crise política provocada pela cobrança de cargos e liberação de emendas que emparedou o governo na votação da medida provisória de reestruturação da Esplanada, Costa viajou para Itaberaba (BA), segundo o Portal da Transparência do próprio governo. Na cidade, participou da inauguração do Hospital Regional Piemonte do Paraguaçu.
Fantasia
Foi em Itaberaba, em 2 de junho, que Costa disse o que fez aumentar o tamanho da crise política. “Brasília é uma ilha da fantasia”, disse. “É difícil porque lá fazer o certo, para muitos, está errado. E fazer o errado, para muitos, é que é o certo na cabeça deles.”
Na disputada agenda de coordenador do governo Lula sobrou espaço para encaixar 62 reuniões com 55 prefeitos de municípios baianos e cinco deputados estaduais da Bahia, onde Costa foi governador por oito anos. De todos os prefeitos que o ministro recebeu até hoje, conforme os registros, apenas um não era baiano: o presidente da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), que chefia a Prefeitura de Aracaju.
O presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Adolfo Menezes (PSD), foi recebido pelo ministro em 14 de abril, por uma hora e meia. Costa também abriu sua agenda para receber o primeiro-cavalheiro Marcos Andrade, da cidade de Banzaê (BA), de 13 mil habitantes. Andrade é casado com a prefeita Jailma Dantas (PT). No dia do encontro, em 16 de maio, o chefe da Casa Civil também atendeu os prefeitos baianos de Várzea da Roça e Sítio do Quinto.
Banzaê
“Dia produtivo em Brasília, onde tratei das demandas de Banzaê”, escreveu o marido da prefeita numa rede social, em post ilustrado com uma foto ao lado de um sorridente ministro. Nesse dia, o governo enfrentava uma crise que opôs os ministros Marina Silva (Meio Ambiente) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) por causa da exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas. Uma disputa que atinge diretamente o presidente por envolver Marina, que tem renome internacional na área do meio ambiente, o que exige atuação do chefe da Casa Civil.
Enquanto políticos do reduto eleitoral de Costa têm livre acesso ao ministro, deputados relatam dificuldades. Parlamentares do Republicanos – dono de 41 votos na Câmara e cortejado pelo Planalto – não foram recebidos até hoje. Já o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), maior Estado do País, esteve uma única vez em agenda privada com o ministro. Em contrapartida, o governador baiano Jerônimo Rodrigues (PT), aliado de Costa, foi recebido oito vezes no Planalto.
Viagens
Em seis meses no controle da Casa Civil, Costa visitou a Bahia ao menos 13 vezes em viagens oficiais registradas na plataforma e-agendas da Controladoria-Geral da União. Já as viagens para outros Estados ocorreram nove vezes – em três delas ele acompanhou o presidente Lula.
As viagens à terra natal envolveram a inspeção e inauguração de obras, como a do colégio estadual na cidade de Aporá, sem qualquer relação com sua pasta. Em ao menos duas ocasiões, o ministro também visitou o Estado para tratar de “demandas” e “prioridades” do governador Jerônimo com o governo federal.
“O mundo dele (Rui Costa) ainda está na Bahia. Ele precisa entender que o ministro da Casa Civil precisa cuidar do Brasil como um todo. Ele precisa se ambientar a essa nova realidade dele”, disse o deputado Danilo Forte (União Brasil–CE) ao Estadão.
O deputado foi um dos poucos parlamentares a ter uma agenda com o ministro da Casa Civil. Mesmo assim, o encontro só ocorreu mediante um acordo. Forte retirou um pedido de convocação de Costa para que ele se explicasse na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, em troca da reunião privada com ele.