Terça-feira, 21 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 9 de dezembro de 2022
O juiz Eugênio Rosa de Araujo, titular da 17ª Vara Federal do Rio de Janeiro, determinou que o INEP, responsável pela aplicação do Enem, promova a reaplicação das provas aos candidatos moradores da comunidade do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, que deixaram de realizar o exame por conta de um tiroteio na favela.
A decisão judicial atende a um pedido da Defensoria Pública da União e garante o direito de realizar uma nova prova a todos os candidatos que fariam os exames em locais próximos ao confronto, dentro de um raio de até 5 km.
“A proteção a esses direitos (a educação, a segurança e a integridade) deve receber máxima atenção e exercícios por parte do Estado, de modo que se espere que estudantes da comunidade do Jacarezinho, bem como aqueles que realizariam a prova do Enem naquela região, realizem normalmente as provas, em condições de igualdade com outros candidatos de todo o Brasil”, escreveu o juiz na decisão.
Relatos
Estudantes que moram nas comunidades Jacarezinho e Manguinhos, que sofreram com tiroteios e ações policiais por três dias seguidos, enfrentaram problemas para fazer a prova do Enem no último dia 20 de novembro, um domingo. Um deles contou que não conseguiu sair de casa para fazer o exame.
Um candidato de 20 anos, que não quis ser identificado, disse que estava triste por não ter feito a prova, mas que não conseguiu sair de casa por questões de segurança. Ele iria tentar uma vaga na faculdade de administração.
“Foi uma prova que eu planejava há meses, mas não pude comparecer devido a essa guerra. Até pensei em sair, mas o tiro saía e voltava. No Jacaré estava dando tiro, no Manguinhos também, então de nada ia adiantar”, disse o jovem, que deixou de fazer a prova.
Ele relatou ainda que os tiroteios afetaram seu trabalho e os momentos em que poderia estar descansando antes da prova, em casa.
“Eu avisei meu chefe que não iria para o trabalho devido aos tiros. Depois, consegui sair, mas voltei muito rápido para casa. No dia seguinte, fiquei em casa, ouvindo os tiros, e no dia da prova eu já acordei com os tiros”, lamentou.
Apesar de receber o programa de segurança pública Cidade Integrada, os confrontos são constantes no Jacarezinho, segundo moradores.
A polícia afirma ainda que “os recentes ataques criminosos podem ser considerados como tentativas de desestabilizar as ações da Polícia Militar no terreno, as quais vêm causando prejuízos financeiros aos grupos criminosos com influência local”.
Um dos coordenadores do coletivo responsável pelo Pré-Vestibular Popular Construção, sediado em Manguinhos há 20 anos, comentou que, além dos problemas com a saúde e segurança dos estudantes, quem conseguiu fazer a prova ficou sobrecarregado:
“A questão foi como isso acarretou nas questões psicológicas desses estudantes. Em quais condições ele vai realizar essa prova? Não tem só o fator de ir e vir, tem esses fatores emocionais que devem ser levados em consideração”.
“A gente enfrenta dias em que não há possibilidades de ter aula. Não envolve só o dia de ontem da prova do Enem, tem outros dias que tem operação nos quais os estudantes não conseguem se deslocar para o pré, para essa preparação”, lamentou.
Segundo esse professor, não foi contabilizada a quantidade de estudantes que faria a prova do Enem e foi prejudicada com os tiroteios.