Sábado, 08 de Novembro de 2025

Home em foco Aposta eleitoral em Maduro afeta imagem de Lula ao contradizer discurso pela democracia

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No último encontro entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Venezuela, Nicolás Maduro, no âmbito da cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), há pouco mais de uma semana, a agenda se concentrou na retomada da cooperação entre os dois países. De fora da conversa ficaram temas como o recrudescimento da repressão interna, presos políticos, candidatos inabilitados e denúncias de violações dos direitos humanos no país vizinho. Diante de uma consulta superficial do brasileiro sobre as eleições presidenciais, Maduro se limitou a dizer que elas seriam realizadas no segundo semestre — a data, dias depois, foi finalmente anunciada para 28 de julho.

O tom e teor da conversa refletem a decisão de Lula de não dar qualquer passo que possa ameaçar a relação com o Palácio de Miraflores, apesar do elevado custo político interno que a decisão traz. Lula está com Maduro e não abre, e essa opção, que até mesmo acadêmicos alinhados com a política externa do governo consideram “tóxica”, tem como pano de fundo uma análise geopolítica global e regional, que envolve atores como EUA, China, Rússia e Argentina, entre outros.

Amizade tóxica

Para Raul Nunes, professor da Universidade Federal Fluminense, a aposta poderia ser justificada pelo fracasso de todas as tentativas de isolar a Venezuela. Mas, ao mesmo tempo, não está rendendo frutos:

“Fica complicado quando Lula tenta relativizar a democracia fora do Brasil: ele mancha o discurso interno contra o bolsonarismo. Do jeito que tem defendido Maduro, o presidente aparece como fiador do venezuelano e abre espaços para o questionamento de seus próprios compromissos democráticos”.

Para Creomar De Souza, CEO da Dharma Politics, “Lula prefere Maduro sendo um ditador próximo do Brasil do que um governo democrático alinhado com outros”.

“O discurso de Lula está afastando pedaços de seu eleitorado”, alerta.

A preocupação, também presente em alguns setores do governo, não faz Lula mudar a direção. Em conversas informais, fontes do governo afirmam que, nas atuais circunstâncias na América Latina, e com a perspectiva de uma possível volta de Donald Trump ao poder nos EUA, o que o Brasil espera é uma eleição que possa ser reconhecida como democrática pela comunidade internacional. As fontes admitem que, para Lula, a continuidade de Maduro no poder seria o melhor cenário.

Depois de ter perdido a Argentina para a ultradireita, e com o republicano Trump novamente no radar, uma eventual guinada radical na Venezuela, país com o qual o Brasil compartilha uma ampla fronteira e pretende, nos próximos tempos, recuperar o vigor do intercâmbio comercial e a cooperação em várias áreas, é um cenário que não agrada ao governo.

Existe, ainda, o desejo de recuperar um espaço perdido nos últimos anos e que foi ocupado por importantes sócios do governo chavista, como China, Rússia, Irã e Turquia. Lula quer evitar, frisam as fontes, que a crise de Caracas acabe sendo resolvida por atores de fora da região.

Queda nas pesquisas

O problema é que o cálculo político do presidente esbarra em questões sensíveis: a erosão da democracia venezuelana e, como parte desse processo, a violação dos direitos humanos e políticos de opositores — que vão de prisões arbitrárias a execuções extrajudiciais e torturas. As denúncias foram confirmadas em relatórios elaborados por uma missão de reconhecimento das Nações Unidas e estão sendo investigadas pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia. Existe, ainda, um terceiro elemento, que gera enorme instabilidade regional: o êxodo de mais de 7 milhões de venezuelanos nos últimos anos, além da atuação em vários países da região de grupos criminosos locais, sendo o mais importante o Trem de Aragua.

Quando consultadas sobre alguns dos temas, fontes do governo asseguram que alertas são feitos a interlocutores de Maduro, por canais informais. Mas, para a sociedade brasileira e para o mundo, o que se vê e se ouve é um presidente disposto a tolerar os abusos cometidos pelo chavismo.

Na coletiva ao lado do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, o presidente brasileiro disse — sem dar nome aos bois — que candidatos inabilitados na Venezuela deveriam “deixar de chorar”, assim como ele mesmo fez em 2018 quando, estando preso, escolheu Fernando Haddad para disputar a Presidência. Uma alfinetada em Machado, que Lula se recusa a mencionar. Na mesma coletiva, o presidente disse esperar que as eleições sejam as “mais democráticas possíveis”, frase que, segundo fontes do governo, foi um recado para Maduro.

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