Quarta-feira, 03 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 2 de dezembro de 2025
Não são apenas os jogadores que sofrem prejuízos financeiros com apostas em bets e cassinos online. Há prejuízos também para a economia e para o sistema de saúde do País, já que uma pessoa com dependência em jogos frequentemente enfrenta desemprego ou redução de renda e patrimônio, demanda apoio médico e psicológico e enfrenta exclusão social. Essa é uma das conclusões do dossiê “A saúde dos brasileiros em jogo”, elaborado pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) em parceira com a Frente Parlamentar da Saúde Mental (FPSM) e a Umane, e divulgado nesta terça-feira, 2.
Segundo o levantamento, o custo social dos danos associados ao jogo problemático é de pelo menos R$ 38,8 bilhões anuais no Brasil, sendo R$ 30,6 bilhões referentes aos danos à saúde, que englobam tanto os gastos das redes pública e privada de saúde quanto o pagamentos de seguro-desemprego e outras despesas associadas à perda de anos de vida saudável decorrentes do vício.
Os danos de saúde mais graves incluem:
R$ 17 bilhões por mortes por suicídio.
R$ 13,4 bilhões por perda de qualidade de vida e tratamentos decorrentes de depressão.
O montante não engloba as perdas financeiras individuais dos jogadores ou os impactos em relacionamentos e vínculos interpessoais — desafios que não foram possíveis mensurar, mas também levam a prejuízos sociais, emocionais e econômicos de longo prazo e fazem com que os custos sejam, na prática, ainda maiores do que o calculado.
As estimativas têm como base o custo econômico e social das apostas projetado pelo governo do Reino Unido. Os valores foram adaptados à realidade brasileira a partir de dados do III Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool e Drogas, realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que aponta a existência de 12,8 milhões de pessoas em situação de risco em relação às apostas.
Saúde recebe menos que outras áreas
Com um ano de regulamentação das bets no Brasil, já somos o quinto maior mercado mundial para as apostas online. A arrecadação do setor, que lucrou R$ 17,4 bilhões no primeiro semestre de 2025, gerou R$ 6,8 bilhões em impostos entre fevereiro e setembro deste ano. O repasse feito para cada área social é dividido em:
Esporte: 36%
Educação: 10%
Seguridade Social: 10%
Turismo: 28%
Saúde: 1%
Até agosto de 2025, o Ministério da Saúde havia recebido R$ 32,9 milhões, segundo o dossiê. O montante deve ser usado para medidas de prevenção, controle e mitigação de danos sociais advindos da prática de jogos.
O repasse é considerado insuficiente pela diretora do IEPS, Rebeca Freitas, que chama a atenção para o contraste entre a arrecadação e os custos das apostas online para a saúde. Para ter ideia, projeta-se que os atendimentos por transtorno do jogo na Rede de Atenção Psicossocial dobrem até 2028, mas a rede ainda carece da estrutura necessária para absorver essa demanda crescente.
“Não conseguimos acessar nenhuma justificativa plausível do porquê a pasta da Saúde recebe 1% e as demais recebem valores tão superiores, considerando justamente os custos, que são enormes para a saúde pública“, afirma Rebeca, que participou da elaboração do documento. ”A conta não fecha.”
A ideia da publicação, segundo ela, é inverter o enfoque para o problema: “Ao invés de olhar só a partir de uma perspectiva arrecadatória, da perda de recursos pelo governo, (a proposta é) olhar também quais são os custos para a população“. Com informações do portal Estadão.