Segunda-feira, 08 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 7 de dezembro de 2025
A Apple, historicamente vista como um modelo de estabilidade no Vale do Silício, vive agora sua maior reviravolta de pessoal em décadas, com executivos e engenheiros-chave deixando a companhia. Só na última semana, os chefes de inteligência artificial e de design de interface se demitiram. Em seguida, a empresa anunciou que sua diretora jurídica e o chefe de assuntos governamentais também estavam saindo. Todos os quatro executivos se reportavam diretamente ao CEO Tim Cook.
E mais mudanças podem estar a caminho. Johny Srouji, vice-presidente sênior de tecnologias de hardware e um dos executivos mais respeitados da Apple, disse recentemente a Cook que está considerando seriamente deixar a empresa em breve, segundo pessoas a par do assunto. Srouji, arquiteto do prestigiado esforço de chips próprios da Apple, já informou colegas que pretende se juntar a outra empresa caso realmente saia.
Ao mesmo tempo, talentos em IA vêm migrando para rivais como Meta, OpenAI e várias startups, que têm atraído muitos dos engenheiros da Apple. Isso ameaça prejudicar o esforço da empresa para recuperar terreno em inteligência artificial, área na qual a Apple vem tendo dificuldades em se destacar.
Tudo isso compõe um dos períodos mais tumultuados do mandato de Cook. Embora o CEO não deva deixar o cargo tão cedo, a companhia precisa reconstruir seus quadros e descobrir como prosperar na era da IA.
Dentro da empresa, algumas das saídas são motivo de grande preocupação, o que levou Cook a reforçar pacotes de remuneração para reter talentos. Em outros casos, as saídas refletem o fato de que executivos veteranos estão chegando à idade de aposentadoria. Ainda assim, muitas das mudanças representam uma preocupante fuga de cérebros.
Cook insiste que a Apple trabalha no portfólio de produtos mais inovador de sua história, com expectativa de incluir iPhones e iPads dobráveis, óculos inteligentes e robôs, mas a empresa não lança uma nova categoria de sucesso há uma década. Isso a deixa vulnerável a concorrentes mais ágeis, capazes de desenvolver a próxima geração de dispositivos baseados em IA.
A saída do chefe de IA, John Giannandrea, ocorre após tropeços na área de IA generativa. A plataforma Apple Intelligence sofre com atrasos e recursos abaixo do esperado. Uma reformulação amplamente divulgada da assistente Siri está atrasada em cerca de um ano e meio. E o software dependerá fortemente de uma parceria com o Google para suprir lacunas.
Com esse cenário, a Apple começou a afastar Giannandrea do cargo em março, mas permitirá que ele permaneça até a próxima primavera.
Dentro da Apple, muitos funcionários já esperavam sua saída, e alguns se surpreendem que ele fique por tanto tempo. A saída mais cedo, porém, seria encarada como um reconhecimento público de fracasso, afirmam pessoas familiarizadas com o assunto.
O veterano de design Alan Dye, por sua vez, está indo para a Reality Labs, da Meta, uma deserção notável para uma das maiores rivais da Apple.
No dia seguinte à notícia, a Apple anunciou que havia atraído uma executiva da Meta: Jennifer Newstead, diretora jurídica da rede social, será a nova conselheira-geral da Apple. Ela ajudou a conduzir a bem-sucedida batalha antitruste da Meta contra a FTC nos EUA, experiência útil diante da disputa da Apple com o Departamento de Justiça sobre práticas anticompetitivas.
Newstead substituirá Kate Adams, que ocupou o cargo por oito anos e se aposentará no fim de 2026. Lisa Jackson, vice-presidente de meio ambiente, políticas e iniciativas sociais, também se aposentará, com suas funções distribuídas entre outros executivos.
As saídas de Lisa e Kate já eram parcialmente esperadas, embora Adams deixasse uma ampla agenda jurídica em aberto. Lisa, ex-integrante do governo Obama, havia reduzido sua exposição pública durante o segundo mandato de Donald Trump e já estudava se aposentar.
Essas baixas seguem outra ainda maior. Jeff Williams, braço direito de Cook, se aposentou no mês passado após uma década como diretor de operações. Outro veterano, o CFO Luca Maestri, assumiu um cargo menor no início de 2025 e provavelmente se aposentará em breve.
A onda de aposentadorias reflete uma realidade demográfica: muitos dos principais executivos da Apple estão na empresa há décadas e estão perto ou já na faixa dos 60 anos.
Cook completou 65 anos no mês passado, alimentando especulações sobre uma possível saída. Pessoas próximas ao CEO dizem que isso não deve ocorrer tão cedo, embora o planejamento sucessório esteja em andamento há anos. John Ternus, chefe de engenharia de hardware de 50 anos, é considerado internamente o principal candidato para sucedê-lo.
Quando Cook deixar o cargo, deve assumir a presidência do conselho, mantendo forte influência. Isso torna improvável a escolha de um CEO externo, mesmo com nomes como Tony Fadell, fundador da Nest e pai do iPod, circulando entre sugestões externas. Fadell, porém, deixou a Apple há 15 anos em termos pouco amigáveis. (Com informações da Bloomberg)