Domingo, 28 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 12 de fevereiro de 2023
A tentativa de aproximação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os partidos do Centrão é marcada por um clima de desconfiança mútua e causou uma espécie de cisão nas bancadas destas siglas. Com o início da nova legislatura e a vitória histórica de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara, articuladores do Planalto iniciaram as primeiras movimentações para destravar as indicações para os segundo e terceiro escalões da máquina pública, a fim de ampliar a base de apoio no Congresso Nacional.
Em alguns casos, porém, o acordo esbarra em pedidos ambiciosos. O comando da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), da Sudeco (Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste) e do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), além de diretorias dos Correios, por exemplo, estão entre as prioridades dos caciques partidários. Por outro lado, alas menos pragmáticas destas legendas defendem uma oposição firme ao Planalto e cogitam, inclusive, obstruir votações de propostas tidas como fundamentais para o Executivo.
Interlocutores de Lula afirmam que o presidente da República quer testar a fidelidade dos congressistas antes de avançar nas negociações. Líderes de partidos como Progressistas (PP), Partido Liberal (PL) e Republicanos, no entanto, condicionam a entrega de votos à concessão de espaços no governo. Mais do que isso, a entrega de cargos estratégicos de alguns ministérios a aliados do Planalto está entre as principais reclamações do Centrão.
Apesar das negociações, a articulação política do governo Lula sabe que não contará com o apoio integral das bancadas de PP, PL e Republicanos. A ideia é furar a blindagem destes partidos e conquistar votos no varejo, avançando aos poucos com costuras de bastidores.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do governo no Congresso Nacional, costuma dizer que, para ter um cenário confortável no Parlamento, o governo trabalha com a possibilidade de ter uma base de 55 senadores e 320 deputados. Com esses números, o Planalto teria votos necessários para aprovar, por exemplo, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que exige, no mínimo, 49 votos no Senado e 308 na Câmara.
PL
Um exemplo de aceno do PT ao partido comandado por Valdemar Costa Neto ocorreu na última semana, quando o deputado Antônio Carlos Rodrigues (PL-SP) foi eleito para coordenar a bancada do Estado de São Paulo na Câmara. ACR, como é conhecido, contou com o voto de todos os deputados paulistas do Partido dos Trabalhadores.
Até mesmo deputados ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro reconhecem que o Planalto terá o apoio do que chamam de “dissidentes”. A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) diz ter a expectativa de que o PL, que possui a maior bancada da Câmara, com 99 deputados, faça uma “oposição firme” a Lula, embora reconheça que a postura não será unânime.
Progressistas
O Progressistas, partido de Arthur Lira (PP-AL) e Ciro Nogueira (PP-PI), enfrenta uma divisão ainda mais nebulosa. Nomes como o do deputado José Nelto (PP-GO) defendem que o partido integre a base governista. “Quando a Dilma estava governando bem, o partido apoiou. Quando ela perdeu o controle da governabilidade, o PP ajudou na governabilidade com Temer. E Bolsonaro só chegou ao final do governo dele porque teve o PP, principalmente o Lira, ajudando também”, disse Nelto.
Uma outra ala do PP pede a independência do partido, “pelo menos por enquanto”, durante o avançar das negociações. Há também quem defenda, ao menos de forma pública, que o PP faça oposição a Lula.
Outros partidos
Outras siglas com bancadas menos numerosas no Legislativo, como Podemos, Novo e PSDB e Cidadania, por exemplo, também estão entre os alvos de articuladores do governo – assim como no caso do Centrão, as negociações acontecem no varejo. O entendimento entre todas as siglas é de “independência”, mas com caráter mais construtivo e definição pauta a pauta, a depender das discussões.
Para melhorar o quadro de apoio, o entendimento é que o governo Lula deve abandonar as chamadas pautas de costumes e focar, sobretudo, nos temas econômicos, onde há maior adesão dos parlamentares do centro e da direita. Propostas como a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal, por exemplo, são encarados como grandes janelas de oportunidade para atrair o apoio massivo dos partidos que compõem o Centrão e, quem sabe assim, alavancar outras aprovações de forma sequencial.