Sexta-feira, 11 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 10 de julho de 2025
A estudante Júlia Mekaru, de 18 anos, quer cursar medicina e está em sua segunda tentativa no vestibular. No primeiro ano do ensino médio, seguiu a cartilha das chamadas “fórmulas nota mil” — estruturas decoradas vendidas em apostilas e vídeos — e se frustrou. “No começo, eu tentei usar modelo pronto. Não dá certo, é uma grande falácia”, diz.
No cursinho onde Júlia estuda, a professora Maria Aparecida Custódio transforma a primeira aula do ano em um alerta contra fórmulas. “Jamais trabalhamos com esqueleto de redação. Já chego demolindo qualquer frase pronta ou ‘nota mil garantida’.” Para ela, copiar estruturas tira do estudante a chance de construir um texto com autoria e empobrece a escrita.
Custódio também critica o culto à nota máxima. “Vamos parar com a história de nota mil como Santo Graal. (Nota) 870 te põe em qualquer carreira.”
Para os especialistas, essas fórmulas foram o principal motivo da queda nas notas máximas. Em 2023, 60 candidatos tiraram mil na redação. Em 2024, o número caiu para 12.
Segundo Carlos Lima, professor de redação e ex-corretor do Enem por 16 edições, a mudança é resultado de um processo gradual. “No começo dos anos 2000, os temas eram mais abertos, permitiam abordagens diversas e originais. Hoje, são muito delimitados, e isso limita também o repertório dos alunos.”
A redação do Enem é avaliada em cinco critérios, cada um valendo até 200 pontos: o domínio do português, compreensão do tema e aplicação de conceitos, articulação de informações, coesão e proposta de intervenção.
Lima diz que a crescente padronização das redações foi incentivada pelo próprio sistema. Professores que também atuam como corretores passaram a ensinar com base nas expectativas da banca.
Na redação do Enem de 2024, que teve como tema “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, Júlia decidiu confiar no que sabia. Deixou de lado as citações filosóficas genéricas e recorreu a exemplos do cotidiano, como o preconceito contra o funk. A nota veio melhor do que esperava. “Eu citei repertórios muito simples e, mesmo assim, consegui ir bem.”
Para Ricardo Assahi, professor da plataforma Corrija-me conhecido como Japa da Redação, embora a cartilha do participante traga menções à importância de um texto autoral, a comunicação do Inep, órgão responsável pelo exame, foi pouco clara em 2024.
“Ficou tudo muito interpretativo. Isso prejudica a preparação dos professores e frustra os candidatos”, afirma.
O Inep afirmou que os critérios de correção da redação do Enem estarão detalhados na Cartilha do Participante de 2025, a ser publicada em breve. Segundo o instituto, a avaliação valoriza o repertório sociocultural compatível com a formação e as experiências de vida dos candidatos, em articulação com o tema proposto. (Com informações da Folha de S.Paulo)
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