Domingo, 05 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 5 de outubro de 2025
Cinco meses após eliminar algumas das pesadas restrições para a negociação de dólares na Argentina, o governo de Javier Milei deu um passo atrás, retomando a regra que limita o acesso ao câmbio oficial a empresas e indivíduos que negociam a divisa norte-americana com fontes além do provedor oficial, o banco central do país.
Ressalte-se que a eliminação de parte das restrições cambiais foi uma das condições impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), em abril, para a liberação de um novo pacote de ajuda à Argentina, cujos desembolsos podem totalizar US$ 20 bilhões.
Em um primeiro momento, tudo andou bem. Além do enésimo acordo com o FMI, de quem a Argentina é devedora contumaz, não houve corrida por dólares e as cotações da divisa americana ficaram longe do teto da banda fixado para a flutuação do peso, o que foi interpretado como um sinal de que o país conseguiria avançar com as reformas instituídas por Milei.
Desacreditada por anos de descalabro econômico, a oposição, à época, ficou sem discurso ante os notáveis feitos de Milei, que tirou a inflação do país da exorbitante casa dos três dígitos e fez a Argentina voltar a ter superávits fiscais.
Mas a maré de Milei começou a virar. Pouco afeito ao diálogo, o presidente já vinha dinamitando pontes com o Congresso e com os governadores de províncias. E o estouro de um escândalo de corrupção, no qual estaria implicada a irmã e principal assessora do presidente, Karina Milei, acabou por dar fôlego a uma oposição até então desmoralizada.
Após a vitória acachapante dos peronistas nas eleições legislativas da província de Buenos Aires, o governo passou a temer um resultado igualmente ruim na eleição nacional para o Congresso argentino, que acontece neste mês.
Minoritário no Legislativo, o partido de Milei, o A Liberdade Avança, precisa ampliar sua participação legislativa para que o presidente possa seguir em frente com sua agenda de reformas, já prejudicada por vetos da oposição. É por isso que Milei agora volta a controlar o câmbio. Embora grande parte dos economistas entenda que o peso está apreciado e defenda uma desvalorização, o presidente libertário teme que tal medida provoque inflação, custando-lhe votos.
Mas o dilema de Milei vai bem além do câmbio. De acordo com o jornal La Nación, a prometida ajuda do presidente dos EUA, Donald Trump, à Argentina está condicionada ao afastamento argentino da órbita de influência chinesa.
Na semana passada, o Tesouro norte-americano anunciou uma linha de swap cambial (troca de moedas) de US$ 20 bilhões para a Argentina, com termos a serem detalhados após as eleições de outubro. Curiosamente, o país sul-americano já tem um acordo desse tipo com a China.
Recentemente, a revista britânica The Economist descreveu a Argentina como um “cemitério de reformas econômicas”. Resta saber se o que Milei até agora construiu como possível legado é sólido o bastante para resistir às pressões eleitorais ou se acabará se revelando um sonho libertário fugaz. (Opinião/O Estado de S. Paulo)