Segunda-feira, 18 de Agosto de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 18 de agosto de 2025
O número de brasileiros que se deram conta que as apostas se tornaram um vício e procuraram ajuda profissional nos Centro de Apoio Psicossocial (Caps), do Sistema Único de Saúde (SUS), aumentou nos últimos anos. A quantidade de atendimentos passou de 413 em 2021 para 1.265 em 2024, o que representa um aumento de 206%, segundo dados do Ministério da Saúde.
O aumento tem sido considerado um desafio para a pasta. O ministro Alexandre Padilha afirmou que a Saúde está “contratando pesquisas para entender melhor o impacto” dos jogos na saúde mental dos brasileiros e na rede pública de saúde.
— Temos um desafio novo na saúde, que é o problema do vício nos jogos, que já impacta a saúde brasileira. Já aumentou a presença nos Caps de pessoas que vão lá e revelam isso, e eu acho que a grande maioria nem revela — diz.
Sem plano
O aumento na procura contrasta com a demora do governo para elaborar uma política pública relacionada ao tema. Dez meses após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que o vício em apostas deveria ser tratado também como um problema de saúde pública, ainda não há um plano para alertar a população sobre os riscos e para dar assistência adequada aos apostadores viciados. A elaboração de um programa específico tem sido discutida pelos ministérios da Fazenda, Saúde e Esporte, e a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom).
— Tem muita gente se endividando, tem muita gente gastando o que não tem, e nós achamos que isso deve ser tratado como uma questão de dependência. Ou seja, as pessoas são dependentes, estão viciadas. Nosso ministro da Fazenda (Fernando Haddad) tem tentado cuidar disso desde que nós tomamos posse — afirmou Lula em outubro do ano passado, em meio às discussões sobre medidas de controle do mercado de casas de apostas no país.
Após a fala de Lula, a Fazenda anunciou a criação de um “grupo de trabalho interministerial com foco na saúde mental e na prevenção e redução dos impactos dos jogos na população”, composto também pela Saúde, Secom e pelo Esporte. Os membros só foram escolhidos em fevereiro, e as reuniões quinzenais iniciadas em março.
A equipe recebeu um prazo inicial de 60 dias, prorrogáveis, para apresentar um plano com medidas voltadas à prevenção, redução de danos e assistência a pessoas em situação de vulnerabilidade ou com comportamentos associados ao vício em jogos. Até agora, porém, nenhum material foi divulgado.
Em nota, a Fazenda afirmou que o grupo concluiu o período de debates, e que o relatório final “está em consolidação e será divulgado em breve”.
Segundo o governo, o plano deve incluir políticas públicas, campanhas educativas e ações de conscientização. Também caberá ao grupo propor estratégias regulatórias e administrativas, articular iniciativas com entidades públicas e privadas, elaborar diretrizes de assistência à saúde mental e monitorar os perfis de risco entre os apostadores.
Número de pacientes subestimado
Segundo levantamento sobre o impacto das bets na Saúde e Economia divulgado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em maio, na Rede de Atenção Psicossocial (Raps) faltam profissionais especializados e até mesmo espaço físico para o tratamento.
“Há problemas na articulação entre as áreas responsáveis, falta de indicadores específicos para monitorar o problema e poucas campanhas de conscientização sobre os riscos do vício. Além disso, o número de atendimentos registrados como jogo patológico pode estar subestimado e as ações para detectar precocemente casos de dependência são limitadas”, diz o relatório do TCU.
O Ministério da Saúde destaca que, de 2022 a 2024, foram habilitadas 653 novas unidades de atendimento da Raps, representando um aumento de 10%. Diz também que o orçamento para ações de saúde mental passou de R$ 1,6 bi em 2022 para R$ 2,2 bi em 2024.
Os jogos de apostas on-line cresceram sem controle no país desde que a atividade foi legalizada em 2018. A regulamentação só entrou em vigor em janeiro deste ano. Desde então, apenas empresas autorizadas podem operar. As que não se adequaram foram consideradas ilegais e sofreram sanções, incluindo suspensões de operação.
O Painel do Orçamento Federal prevê R$ 10,9 milhões no orçamento do Ministério da Saúde para “prevenção, controle e mitigação de danos sociais advindos da prática de jogos, nas áreas da saúde”. Até o momento, foram investidos R$ 471, 9 mil. As informações são do portal O Globo.
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