Quinta-feira, 03 de Julho de 2025

Home Política Avanço dos evangélicos no País provocou uma redução do comparecimento às urnas

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Pesquisa inédita sobre o “boom evangélico” no Brasil e seus impactos no processo eleitoral mostra que o crescimento desse grupo religioso entre 1994 e 2018 está associado à redução no comparecimento às urnas nas eleições ao longo dos anos. O estudo também indica que o aumento desse grupo não se traduziu em maior polarização, apesar dos fiéis evangélicos estarem comumente associados a uma certa “fervorosidade” no campo político.

O estudo realizado pelo PhD em Ciência Política pela Universidade de Zurique, na Suíça, e professor da Universidade de Reading, no Reino Unido, Victor Araújo, é o primeiro a isolar efeito causal do crescimento das igrejas evangélicas sobre diversos aspectos da política eleitoral.

Combinando dados municipais, eleitorais e métodos estatísticos avançados, o pesquisador identificou que o aumento de igrejas evangélicas em cidades brasileiras está associado a uma redução média de 1,8 pontos porcentuais de comparecimento de eleitores nas eleições proporcionais e majoritárias. O resultado contraria a hipótese inicial levantada por Araújo e comprovada em estudos anteriores realizados no contexto dos Estados Unidos de que mais igrejas tornariam o engajamento eleitoral desse grupo maior.

Os resultados opostos se devem sobretudo à demografia do eleitor evangélico brasileiro. Como explica o professor, esse grupo no Brasil é formado por cerca de 65% de fiéis com renda máxima de três salários mínimos, concentrando uma maioria de baixa renda. Isso faz com que o eleitor evangélico fique sob uma pressão cruzada, devendo escolher entre candidatos que trazem discursos de que podem melhorar sua qualidade de vida ou aqueles mais alinhados às doutrinas espiritual e moral compartilhadas pela igreja.

“O eleitor fica entre duas valências, a ideia de que ele deveria votar para aquele político que está mais disposto a aumentar o gasto social, que por norma são os partidos de centro-esquerda e de esquerda, mas ele fica dividido, tem um trade-off entre votar por esse partido e votar por candidatos que estão mais alinhados na valência moral, que, em geral, são partidos de centro-direita e partidos de direita”, explica Victor. Como saída para não desagradar os pares, parcela desse eleitorado evangélico decide não votar.

O estudo foi publicado na última quarta-feira (25), na revista especializada Political Science Research and Methods, da Universidade de Cambridge.

Outro achado estatístico foram evidências de um aumento gradual do conservadorismo em municípios com maior concentração evangélica, especialmente a partir de 2012, indicando um deslocamento do eleitorado para a direita na escala ideológica. Segundo o cálculo, um aumento no número de igrejas por 100 mil habitantes representa um eleitorado se deslocando 17% a mais para a direita.

Por outro lado, o aumento dos evangélicos, que já respondem por um quarto da população brasileira segundo o Censo 2022 Religiões do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado este mês, não mostrou mudanças substanciais na competição partidária ou na polarização ideológica no cenário eleitoral.

Ou seja, apesar da pesquisa sugerir que o crescimento de minorias religiosas pode impulsionar transformações eleitorais graduais, influenciando como as pessoas votam e participam, não ficou comprovado uma possível correlação entre o aumento dos evangélicos e a polarização política que se intensificou no País nos últimos anos.

“Minhas descobertas recomendam cautela ao atribuir a ascensão dos evangélicos aos níveis crescentes de polarização entre as democracias”, destaca Araújo. O grupo, que passou de 21,7% da população em 2010, para 26,9% em 2022, foi disputado pelos diferentes candidatos nas últimas eleições e segue sendo parcela da população que pode definir os resultados nas urnas.

Nas cidades com maior concentração de evangélicos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu votação maior do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das últimas eleições. Os resultados corroboram uma tendência que já era apontada nas pesquisas de intenção de voto, e que mostram maior desaprovação de candidatos de esquerda entre grupos evangélicos.

Encampando terreno para 2026, o governo tem dado uma série de acenos ao público cristão, embora ainda “tímidos” e sem um retorno até o momento. Do ano passado até agora, o presidente sancionou leis com temas simbólicos, por exemplo, criando o Dia do Pastor Evangélico e o Dia Nacional da Música Gospel, data em que o ex-vice-líder do governo Bolsonaro, deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), orou por Lula.

Na direita, o feito se repete, mas o apoio do segmento em retorno aos possíveis candidatos é evidente. Na Marcha Para Jesus em São Paulo, no feriado de Corpus Christi deste ano, por exemplo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), possível oposição a Lula em 2026, chegou a cantar louvores e subir no trio elétrico com uma bandeira de Israel nas costas, recebendo aplausos da multidão de fiéis. (Com informações do Estado de S. Paulo)

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