Sexta-feira, 16 de Maio de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 15 de maio de 2025
Após elevar a taxa básica de juros ao maior nível desde 2006, o Comitê de Política Monetária (Copom) deu alguns sinais de que pode interromper o ciclo de alta iniciado no ano passado, que levou a Selic a 14,75% ao ano. A ata da reunião realizada na semana passada deixou em aberto a possibilidade de aumento dos juros em mais 0,25 ponto porcentual, mas, para a maioria dos analistas do mercado financeiro, o Banco Central (BC) parece mais inclinado a deixar os juros onde estão por bastante tempo do que a ampliar o aperto monetário.
Muita coisa mudou desde setembro de 2024, quando o BC aumentou a Selic em 0,25 ponto porcentual, de 10,50% para 10,75% ao ano. Era a primeira vez que a autoridade monetária elevava os juros no governo de Lula da Silva. À época, o Copom reconheceu que a economia crescia acima de sua capacidade, admitiu que havia mais chances de que a inflação subisse do que caísse e mencionou a política fiscal expansionista do Executivo como um dos fatores a incentivar o consumo e a demanda agregada.
Sobre os Estados Unidos, a expectativa do Copom era de uma desaceleração gradual e ordenada da economia, cenário que mudou de maneira drástica após a eleição de Donald Trump. Ninguém, à época, poderia imaginar que uma das economias mais beneficiadas pela globalização adotaria uma agressiva política comercial, sem poupar nem mesmo parceiros históricos como México e Canadá.
As idas e vindas dos Estados Unidos nessa seara ampliaram as incertezas no cenário global. Entre a reunião da quarta-feira da semana passada e a divulgação da ata da reunião na terça-feira passada, Estados Unidos e China anunciaram uma trégua. Pelos próximos 90 dias, os Estados Unidos reduzirão as taxas sobre as importações chinesas de 145% para 30%, enquanto a China cortará o imposto sobre produtos norte-americanos de 125% para 10%.
Até agora, a bagunça promovida por Trump contribuiu para desvalorizar o dólar e, consequentemente, valorizar o real, o que fez com que o câmbio voltasse a ser cotado a níveis próximos de R$ 5,60, o que não ocorria há sete meses. Um câmbio mais valorizado ajudaria a conter os preços e facilitaria o trabalho do Banco Central de conduzir a inflação à meta de 3%.
Por outro lado, o acordo entre as duas potências reduz as apostas de que os Estados Unidos enfrentarão uma estagflação, ou seja, um misto de recessão econômica com inflação elevada, e tende a valorizar o dólar ante outras moedas, inclusive a brasileira. O cenário também diminui as chances de uma redução nos preços das commodities em razão da menor demanda da China, e manteria sob pressão a inflação, em particular a de alimentos.
Como há dúvidas sobre a perenidade desse acerto, o BC está correto ao manter suas cartas na manga até a próxima reunião do Copom, nos dias 17 e 18 de junho. Internamente, a inflação e seus núcleos permanecem acima da meta. Alguns indicadores, no entanto, apontam para uma desaceleração da atividade econômica, como sondagens empresariais, balanços de empresas e mercado de trabalho.
Ainda assim, o governo de Lula da Silva continua a dar trabalho ao Banco Central. No mercado de crédito, quando os juros mais altos começavam a conter a demanda em algumas linhas direcionadas a pessoas físicas, o Executivo decidiu lançar o crédito consignado privado para trabalhadores com carteira assinada. Para o Copom, é cedo para estimar o impacto do programa na economia, mas é possível que haja uma alteração estrutural no mercado de crédito. Se esse for o caso, a medida também terá de ser incorporada nos cenários com os quais o BC trabalha para definir os juros.
Por mais que o governo negue, a política fiscal tem causado um “estímulo significativo” na economia nos últimos anos, segundo o Copom. E como não há nenhuma esperança de que o governo tire o pé do acelerador até a eleição do ano que vem, tampouco há razões para acreditar que a taxa básica de juros possa cair significativamente até lá. As informações são do portal Estadão.
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