Segunda-feira, 07 de Julho de 2025

Home Brasil Bolsonaro tenta criar imagem de que a transição de governo ocorreu em um cenário de normalidade e faz a ressalva de que apenas não entregou a faixa na posse de Lula

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Apesar de ter adotado um comportamento que serviu como combustível para as manifestações de cunho golpista que contestavam o resultado das eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem atuado para fazer uma releitura de sua postura na reta final de seu governo.

Acusado por crimes como golpe de Estado e abolição do Estado democrático de Direito, com penas que pode passar dos 40 anos de prisão, ele tem buscado criar a imagem de que a transição de governo teria ocorrido em um cenário de normalidade, fazendo a ressalva de que apenas não entregou a faixa na posse.

No banco dos réus, ele será julgado pela Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal).

“No dia 1º [de novembro] eu me pronunciei à nação e comecei dizendo: ‘Vão sentir saudades da gente’. Você só sente saudades quando alguém vai embora. Ali eu anunciei que estava indo embora”, disse o ex-mandatário no mais recente protesto promovido contra a corte.

A frase, que segundo Bolsonaro sinaliza que ele teria deixado claro que tinha aceitado a derrota, nem sequer fez parte desse primeiro discurso —foi captada por microfones dos jornalistas antes do pronunciamento.

O ex-presidente também fez menção a ela durante seu depoimento em junho, quando disse que essa frase foi um “sinal claríssimo”.

Ao STF chegou a chamar as pessoas que defendiam intervenção de “malucos” e disse que, se tivesse “torcido para o pior”, não teria pedido para que caminhoneiros liberassem as rodovias bloqueadas. Afirmou ainda que pacificou o máximo que pôde ao longo dos dois meses de transição e que não estimulou ninguém a fazer nada de errado.

Na verdade, em nenhum momento entre o segundo turno e o 8 de Janeiro, Bolsonaro fez alguma fala em que reconheceu em público claramente a derrota, tampouco disse a seus apoiadores que fossem para casa e aceitassem o resultado das urnas.

“Além do discurso visível, tinha sempre as mensagens anônimas, apócrifas nos grupos. Mensagens muito bem pensadas, articuladas e que, de alguma forma, iam dando os enquadramentos do que as pessoas deveriam pensar”, diz Paulo Fonseca, professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia) no Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação e na pós-graduação em cultura e sociedade.

O acadêmico, que em 2022 participava de um projeto de pesquisa que monitorava grupos extremistas no Telegram, relembra que imediatamente após o primeiro pronunciamento de Bolsonaro depois da derrota, assim como nos demais, já começaram a circular as mensagens com leituras do que ele tinha dito.

“[Bolsonaro] não se comprometia em termos de incitar o golpe em si. Por outro lado, ele também não deixava de servir, dentro dessas interpretações, como um estímulo para esses públicos que estavam extremamente acirrados”, diz.

“Em nenhum momento temos ele dizendo ‘não, temos que respeitar o processo, vamos lá, daqui a quatro anos a gente tem…’. Não, ele nunca falou isso”, afirma.

As primeiras 45 horas após o fim da apuração foram marcadas pelo completo silêncio do então presidente. Entre o segundo turno e a posse de Lula, foram apenas três os pronunciamentos, todos marcados por ambiguidades, além de um vídeo pedindo a caminhoneiros que desobstruíssem as rodovias. Até mesmo seus perfis em redes sociais perderam a movimentação costumeira.

Já no domingo do segundo turno, bloqueios em estradas começaram a se espalhar pelo país, e atos já começavam a ocorrer em frente aos quartéis. Com nomes como “resistência civil”, listas de grupos no Telegram e WhatsApp para articular essas paralisações por estado se multiplicavam.

Apesar do caos instalado, Bolsonaro afirmou que “manifestações pacíficas” sempre seriam bem-vindas e condenou apenas atos de “destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir”. O entendimento alardeado nos grupos era o de que ele tinha validado atos em frente a quartéis.

No dia seguinte, Bolsonaro fez um vídeo em que pedia apenas a liberação das rodovias. “Outras manifestações que vocês estão fazendo pelo Brasil todo, em praças. Faz parte, repito, do jogo democrático. Fiquem à vontade”, disse na ocasião.

Nas semanas que se seguiram, país afora, bolsonaristas instalaram acampamentos em frente a unidades militares, sendo o principal deles o de Brasília, de onde partiu a multidão que fez os ataques aos três Poderes no 8 de Janeiro.

Enquanto isso, Bolsonaro seguia recluso. E, nos poucos eventos a que compareceu, não discursou. Nesse meio tempo, as mais variadas teorias conspiratórias envolvendo fraude foram compartilhadas nas redes e grupos. O PL pediu invalidação de parte das urnas, e as Forças Armadas deram diversos sinais de que flertavam com os manifestantes. As informações são do portal Folha de São Paulo.

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