Segunda-feira, 02 de Dezembro de 2024

Home em foco Brasil é “obstáculo” para Venezuela invadir a Guiana

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O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tem repetido há dias que seu governo irá recuperar o Essequibo, região rica em petróleo em disputa desde o século XIX que representa mais de 70% do território da vizinha Guiana. A retórica ameaçadora de Maduro ganhou força com o referendo do último domingo, em que 95% dos eleitores que votaram, segundo as autoridades, apoiaram a incorporação do Essequibo à Venezuela.

Caracas rejeita a jurisdição da Corte Internacional de Justiça, órgão da ONU que está com o caso, e autoridades chavistas já falaram abertamente em invasão. Para invadir o Essequibo por terra, porém, tropas da Venezuela teriam que passar pelo território brasileiro, o que embora seja possível, não parece provável.

Operação anfíbia

O coronel da reserva Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, mestre em Ciências Militares, explica que a fronteira entre Venezuela e Guiana é predominantemente formada por selva, o que impede o deslocamento de colunas blindadas e dificulta o deslocamento de tropas a pé, assim como o envio dos suprimentos necessários à manutenção das tropas em combate. Já na fronteira com Roraima, a vegetação de campos gerais é adequada ao movimento das tropas.

“Uma eventual ação militar venezuelana muito provavelmente seria uma operação anfíbia, na qual a Venezuela desembarcaria tropas no litoral guianês”, explicou.

Um confronto armado hipotético entre Venezuela e Guiana poria frente a frente forças militares “bastante assimétricas”, destaca o professor de Geopolítica da Escola Superior de Guerra Ronaldo Carmona. Enquanto as forças venezuelanas estão entre as mais bem equipadas da América do Sul, as guianesas têm um pequeno efetivo, diz o especialista. A Venezuela tem entre 125 mil e 150 mil militares na ativa, e 8 mil reservistas, segundo a Agência Central de Inteligência dos EUA. Já a Guiana tem apenas 4 mil militares na ativa e 3.600 na reserva.

“Uma manobra como essa não seria permitida pelo Brasil porque um conflito em plena Panamazônia sul-americana tem potencial de abrir uma quarta frente de confronto geoestratégico no mundo, depois do Mar do Sul da China, Ucrânia e Israel, o que é extremamente grave do ponto de vista do interesse brasileiro e sul-americano”, afirmou Carmona. Outra possibilidade seria uma ação aeronaval, mas com maiores riscos operacionais para a Venezuela.

A Venezuela de Maduro é o 6º país que mais investe na área militar no mundo, enquanto a Guiana está apenas na 152ª posição, segundo o The World Factbook, da CIA.

Visita de Lula

Atento à tensão entre os vizinhos, o Brasil movimenta-se diplomática e militarmente. O Exército brasileiro anunciou o envio de 16 jipes blindados e 12 carros blindados para Roraima, além de mais 60 militares para reforçar os 70 já na área. Oficialmente, essa movimentação já era prevista no combate ao garimpo ilegal, alega o Exército, mas adicionase às medidas tomadas pelo Brasil na crise.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva — cuja ajuda para conter Maduro foi pedida pelo seu colega guianês, Irfaan Ali, com quem conversou por telefone na semana passada—anunciou que vai à Guiana em 2024, uma das duas únicas viagens ao exterior que pretende fazer.

Criação de estado

Maduro deu continuidade às suas ações em relação ao território guianês após o referendo de domingo e anunciou, em pronunciamento na TV, a proposição de uma lei criando o estado da Guiana Essequiba, como Caracas chama o território, além da instauração de uma Zona de Defesa Integral na região.

O presidente venezuelano também nomeou um militar para “governar” o território —sobre o qual a Venezuela não tem soberania — na qualidade de “única autoridade” na área. O líder chavista apresentou um novo mapa do país, que inclui o Essequibo, e ordenou que a versão seja publicada e divulgada nas escolas e universidades venezuelanas.

Além disso, Maduro ordenou à estatal petrolífera PDVSA a concessão de licenças para a exploração de recursos no Essequibo, onde Georgetown autorizou a operação de empresas petrolíferas estrangeiras e locais.

 

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