Quinta-feira, 16 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 19 de dezembro de 2021
O Brasil tem potencial para contar com milhares de carros voadores, ou eVTOLs, as aeronaves de pouso e decolagem vertical que estão sendo desenvolvidas pela Eve, empresa ligada à Embraer. E esse futuro está mais perto do que se imagina: as entregas das primeiras aeronaves devem ocorrer já em 2026.
Na visão de futuro da Eve, o eVTOL pode se tornar mais uma opção em uma rotina de transporte integrado, que pode mesclar desde a patinete até o carro por aplicativo à viagem de poucos minutos em um carro voador.
Os desafios para tirar o projeto do papel vão muito além do desenvolvimento e da certificação da aeronave. A empresa tem trabalhado com parceiros para planejar a integração com outros modais de transporte, a infraestrutura de embarque e desembarque, a vida útil das baterias, além da criação de um novo sistema de tráfego aéreo e a normatização de um treinamento para os pilotos com voos feitos pelo computador.
Em entrevista, André Stein, presidente da Eve, diz que, embora a capital paulista concentre a maior demanda, o mercado no Brasil irá muito além do eixo Rio-São Paulo.
1) Qual é o tamanho da carteira de encomendas da Eve?
Temos 795 encomendas em todo o mundo, como Estados Unidos, Europa, Ásia-Pacífico. No Brasil, temos encomendas com Helisul, Flapper, Avantto. São três clientes aqui no Brasil. São parcerias. A mobilidade urbana traz melhoria em qualquer cidade do mundo.
2) Qual é o preço das encomendas ou do custo por aeronave?
Ainda não estamos abrindo isso. É um custo que permite que o preço final para o usuário seja dentro do que é próximo do transporte terrestre, às vezes 50% a mais, dependendo do país. Essa é a grande meta. E o preço é o meio para esse fim.
3) Qual é o potencial do Brasil nesse mercado?
Cidades como Brasília, Recife, Salvador e Porto Alegre são todos mercados potenciais muito grandes para esse tipo de segmento. O maior mercado potencial é São Paulo, que pode ter entre 400 e 500 aeronaves. Outras cidades vão ter potencial menor. Mas estamos falando de alguns milhares de unidades no Brasil, dentro de um mercado potencial em torno de 50 mil unidades nos próximos 15 anos no mundo.
É um mercado global muito grande, no qual o Brasil tem parcela significativa. E não é limitado só a São Paulo e Rio. Há muitos exemplos de aplicações possíveis e prováveis, inclusive em cidades que tenham não só a necessidade como o apetite de criar essa solução.
4) A mobilidade urbana mudou com a pandemia, muitas empresas aderiram ao regime híbrido de trabalho. Qual vai ser o futuro cliente da Eve?
Todos nós. O early adopter, o usuário inicial, não necessariamente é o estereótipo que adota a tecnologia no começo ou a pessoa mais jovem. Pode ser qualquer um, inclusive pessoas com diferentes necessidades de locomoção e variadas faixas etárias. Mas como a Covid afeta a mobilidade urbana? Estamos vendo que o trânsito não vai desaparecer. Inclusive já voltou, de forma bem robusta. As cidades continuam crescendo.
Com o trabalho híbrido, é possível sair do Centro ou da região do escritório e ir morar em alguma outra parte da cidade. E aí, a ida ao escritório passa a ser quase uma miniviagem de negócios. A mobilidade aerourbana faz mais sentido ainda, pois é algo que você não vai usar todo dia.
5) Quem vai oferecer o serviço?
É uma nova fronteira para a aviação. Vai ser uma mistura, é um serviço novo: empresas aéreas, operadores de helicóptero, ride sharing companies. É uma mistura de diversos operadores, cada um traz uma parte do entendimento da equação. Existem mercados adicionais, como o de evacuação médica. Outras aplicações também são possíveis, mas é um mercado urbano, com voos dentro das cidades.
6) A empresa fez voos-teste no Rio para simular a rota entre a Barra e o Galeão usando helicóptero. A rota é viável? E qual seria o preço?
Esse tipo de rota não só é viável como provável. O preço era a partir de R$ 99, para entender um pouco mais. Qual vai ser o preço final? Provavelmente custará um pouco mais que o transporte terrestre, mas você tem um ganho de tempo muito grande. Parte da razão pela qual estamos fazendo isso é para entender onde você tem que mexer na operação.
Isso vale inclusive no solo, pois, se ao chegar no aeroporto tiver de sair e dar a volta, já perde parte do ganho. O passageiro, ao chegar de carro, bicicleta ou até de patinete, precisa fazer a transição para o veículo de maneira simples e integrada, sem criar uma espera para pegar um voo de 15 minutos.