Sexta-feira, 11 de Julho de 2025

Home Economia Brasil registra saída recorde de dólares no primeiro semestre

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Embora a taxa de câmbio mantenha uma dinâmica positiva neste ano, com uma queda de 11% do dólar frente ao real, o fluxo cambial registrou um desempenho negativo e preocupante. No primeiro semestre, o Brasil anotou uma saída líquida de US$ 14,343 bilhões, o pior resultado para o período desde o início da série histórica do Banco Central (BC), em 1982. O dado reflete uma forte evasão pela conta financeira, que não foi nem de perto compensada pelo resultado positivo do fluxo comercial.

Embora o fluxo cambial tenha sido bastante negativo nos primeiros seis meses do ano, o real mostrou forte valorização, como reflexo de um grande desmonte de posições compradas em dólar (apostas na valorização da moeda americana) por investidores estrangeiros nos mercados de derivativos. O resultado, inclusive, acende um alerta, já que, em geral, costuma haver uma maior entrada de dólares na primeira metade do ano pela conta comercial, já que nesse período ocorre a venda de grãos por exportadores brasileiros.

De acordo com os dados do BC divulgados ontem, houve uma saída líquida de US$ 39,71 bilhões pela conta financeira, enquanto o fluxo comercial anotou entrada líquida de US$ 25,37 bilhões entre janeiro e junho. Além disso, os primeiros resultados de julho mostram uma continuidade da tendência negativa do câmbio contratado.

“Foi um primeiro semestre fraco para o fluxo comercial, que ficou bem abaixo do ano passado”, diz o economista Felipe Kotinda, do Santander. A queda dos preços das commodities exportadas pelo Brasil como petróleo e minério de ferro, ajuda a explicar parte do desempenho mais fraco da conta comercial neste ano. “É a grande história do fluxo. Em anos anteriores, os preços até caíram, mas isso era arrefecido pela quantidade exportada. Agora, essa quantidade não ajudou tanto e, ainda, tem a parte da importação, que tem sido apoiada pela atividade econômica que está muito forte.”

Além das exportações mais fracas, as importações também têm mostrado uma dinâmica mais forte, como consequência da atividade econômica aquecida no país. Embora o Santander projete uma desaceleração econômica à frente, Kotinda avalia que há uma tendência de continuidade das importações em um nível mais forte, o que pode contribuir para trazer para baixo tanto a balança comercial brasileira quanto o fluxo comercial, em um momento no qual a conta financeira continuou a apresentar um desempenho muito negativo, semelhante ao do primeiro semestre de 2024.

Visão semelhante é defendida pelo economista-chefe da Adam Capital, Juliano Cecílio, para quem o desempenho negativo do câmbio contratado neste ano “não é comum”. “A entrada [de dólares] no lado comercial caiu pela metade…”, nota o economista, ao justificar o movimento tanto pela desaceleração da balança comercial, devido ao aumento das importações, quanto pela piora na relação entre as exportações embarcadas e as contratadas.

Cecilio calcula que a razão entre as exportações contratadas pelas embarcadas está hoje em 0,8 contra 0,94 na média de seis meses. “Antes, era quase 1 para 1. Na ponta, a relação piorou… Hoje, apenas 80% das exportações embarcadas estão sendo efetivamente contratadas e isso pode significar, também, uma desaceleração maior da balança comercial mais à frente”, diz o economista, ao apontar para a queda dos preços de algumas commodities que são muito exportadas pelo Brasil, como minério de ferro e petróleo.

O desempenho negativo do fluxo cambial, porém, não tem afetado diretamente a taxa de câmbio, ao menos até o momento, já que o real tem sido apoiado via derivativos, com um desmonte de posições pessimistas que haviam sido montadas no passado. “O que tem sustentado o câmbio em um nível mais apreciado é o ‘hot money’, que é um dinheiro de curto prazo, que vem via derivativos, com os investidores que buscam oportunidade de arbitragem e que querem capturar esse juro alto. Isso mais do que compensou a saída via ‘spoť [dólar à vista]”,
diz Cecilio.

O economista, porém, alerta para as condições estruturais serem de fluxo cambial negativo, o que pode pesar sobre o real no caso de uma virada no humor dos fluxos via derivativos. “Como o que tem sustentado o real é um dinheiro de curto prazo, é difícil dizer se esse movimento continua. A tendência é desacelerar”, avalia.

Para Cecílio, com um ritmo de crescimento da demanda acima do potencial da economia, o déficit em conta corrente tem uma tendência de se manter em níveis maiores. “Hoje, o déficit já está em 3% do PIB e isso tende a continuar. Seria preciso ter, de novo, um caminhão de dinheiro entrando via derivativos e não faz tanto sentido pensar nesse dinheiro de curto prazo olhando mais à frente.”

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