Quarta-feira, 31 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 30 de dezembro de 2025
Se você pretende comprar dispositivos eletrônicos, como celulares e notebooks, é bom preparar o bolso: esses produtos podem ficar mais caros em 2026, segundo especialistas.
O motivo é a crise da memória RAM, componente essencial para o funcionamento desses produtos, que está em falta no mercado.
O avanço da inteligência artificial está no centro dessa turbulência. Fabricantes têm direcionado investimentos e produção para chips mais avançados, usados em data centers de IA, o que reduziu a oferta de memórias tradicionais.
O que é a memória RAM
Também chamada de Random Access Memory (RAM), essa tecnologia é responsável por guardar, de forma temporária, os dados que o dispositivo está usando naquele momento.
Ao abrir um jogo ou app, as informações necessárias para ele funcionar ficam na RAM. Quando o aparelho é desligado, esses dados são apagados; por isso, ela é conhecida como uma memória de curto prazo.
Por exemplo, ao ler esta reportagem do g1 no celular, o conteúdo exibido na tela fica temporariamente guardado na memória RAM do aparelho. Outro exemplo é o recurso de copiar e colar: ao copiar algo na internet, o conteúdo fica guardado temporariamente na RAM até ser colado; depois, ele some.
A RAM é medida em Megabytes (MB) ou em Gigabytes (GB). Quanto mais GB, melhor será o desempenho do dispositivo. Um celular com 12 GB de RAM consegue executar mais tarefas ao mesmo tempo do que um com apenas 3 GB.
Embora seja mais associada a celulares e computadores, a memória RAM está presente em uma série de outros dispositivos do dia a dia, como:
smart TVs;
tablets;
consoles de videogames;
relógios inteligentes;
aspiradores robô;
carros;
impressoras.
Atualmente, três empresas lideram a produção global de memória RAM, segundo as agências Reuters e Bloomberg. São elas: SK Hynix (Coreia do Sul), Samsung (Coreia do Sul) e Micron (EUA).
Por que a IA é culpada pela crise?
Muitas empresas têm investido pesado em chips de inteligência artificial e em grandes data centers, o que reduziu a disponibilidade de componentes para a fabricação de memória RAM, explica Paulo Vizaco, diretor da Kingston no Brasil, uma das principais empresas do setor.
Segundo Vizaco, as fabricantes passaram a priorizar memórias mais avançadas, usadas em data centers de IA, por serem mais lucrativas. Com isso, a produção de modelos mais antigos diminuiu, e os estoques encolheram.
Elas estão reduzindo principalmente a produção da memória RAM DDR4, a quarta geração desse componente. O problema é que ela ainda equipa muitos eletrônicos e, com menos unidades no mercado, a escassez pode gerar dois efeitos, segundo especialistas:
levar empresas a vender produtos com menos memória do que o ideal;
encarecer dispositivos, como citado no início da reportagem.
O portal g1 pesquisou o preço de uma memória RAM DDR4 de 16 GB da linha Corsair Vengeance RGB Pro. Na plataforma de comparação de preços Zoom, o produto custava R$ 650 em 10 de novembro. A partir de 2 de dezembro, o valor passou a R$ 1.599, uma alta de cerca de 146%.
No Brasil, o consumidor pode sentir ainda mais no bolso por causa de fatores adicionais, como câmbio, impostos e custos logísticos, o que tende a tornar os reajustes mais agressivos, explica Márcio Andrey Teixeira, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) e membro do IEEE.
“Os produtos mais afetados tendem a ser os modelos de entrada e intermediários, que são justamente os que utilizam memória RAM DDR4”, completa o especialista.
Paulo Vizaco, da Kingston, afirma ainda que os consumidores podem passar a ver fabricantes entregando celulares com configurações mais simples, mas cobrando o mesmo valor que era praticado antes.
O g1 procurou a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) para comentar a situação, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.
Em um evento da Abinee com jornalistas, no início de dezembro, Mauricio Helfer, diretor da Dell no Brasil, afirmou que “hoje, setores como o de tecnologia e o automotivo correm o risco de sentir esses impactos, especialmente a partir de 2026”. Com informações do portal G1.