Sábado, 27 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 27 de setembro de 2025
Tentar escrever sobre a COP30 em uma linguagem didática e voltada à sociedade é um desafio, pois o tema está longe de ser trivial. Muitas vezes, a narrativa se perde em meio a tantas siglas, menções a um complexo organograma de departamentos e organismos, além de inúmeras figuras, eventos, episódios, conceitos e personagens nacionais e internacionais.
Apesar da complexidade, o assunto vem despertando cada vez mais o interesse e a curiosidade do brasileiro. Uma pesquisa divulgada nesta semana pelo Instituto LACLIMA mostra que 71% dos brasileiros ainda não sabem o que é a COP30. Já outro levantamento, do Instituto Datafolha, aponta que 34% não têm ideia do que significa o termo “mudanças climáticas”. Essa lacuna entre a diplomacia climática e o cotidiano do cidadão brasileiro tende a diminuir com a realização do evento em novembro, no Brasil.
A COP é a “Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima” e ocorre dentro do sistema da ONU. O Brasil será o anfitrião da edição deste ano, o que lhe garante o direito de indicar a presidência da conferência, cargo assumido pelo embaixador André do Lago.
Para isso, o país criou uma diretoria extraordinária responsável pela organização e logística do evento. É importante destacar que, embora o Brasil seja sede e ocupe a presidência, não é ele quem conduz a conferência: todo o ambiente é sistematizado para funcionar dentro das regras do organismo internacional.
No Parque da Cidade, em Belém do Pará, foi reservado um espaço de 240 mil metros quadrados apenas para a ONU, que será responsável pela organização, credenciamento e funcionamento da área internacional. Esse espaço será dedicado às negociações de temas como financiamento climático, mercado de carbono, transição justa, perdas e danos, adaptação, mitigação e transparência.
As credenciais são bastante disputadas. Cada país monta sua delegação com número limitado de participantes. A sociedade civil pode participar como “observador ONU”, enquanto outras credenciais são destinadas à imprensa, diplomatas, líderes dos Estados-membros e enviados especiais.
No Brasil, André do Lago buscou inovar ao criar a figura dos enviados especiais, que representarão algumas regiões do mundo e setores-chave da sociedade brasileira. Serão 30 enviados, pessoas reconhecidas por seus trabalhos e com grande responsabilidade e representatividade no cumprimento da agenda climática.
O leitor pode se perguntar: se a COP é tão restrita, por que tantas pessoas, entidades e empresas irão a Belém? A resposta está no fato de que, além da chamada “Blue Zone” (zona restrita), existe também a “Green Zone”, um espaço mais inclusivo e aberto à participação da sociedade.
As três últimas edições ocorreram em países de regime autoritário — Egito (2022), Emirados Árabes Unidos (2023) e Azerbaijão (2024). Assim, a oportunidade de uma participação mais ampla será um marco na edição brasileira. A presidência da COP pretende estimular no cidadão um sentimento de pertencimento e envolvimento com a temática. No cenário internacional, este será o evento mais importante do ano. Por isso, Belém foi oficialmente declarada a capital do Brasil entre 10 e 21 de novembro, período em que os olhos do mundo estarão voltados para a Amazônia.
Outra inovação da presidência foi a criação do GES — Balanço Ético Global, inspirado em uma reflexão da ministra Marina Silva sobre compromissos assumidos e não cumpridos por algumas nações. O Balanço Ético terá uma coluna nesta coluna com instruções de participação. Funcionará como ferramenta para ampliar vozes, auxiliar na tomada de decisões e pressionar por soluções.
Para ilustrar: uma escola poderá propor um desafio interno a professores, pais e alunos e, mediante o preenchimento de um formulário disponível no site oficial da COP, enviar a sugestão que será incorporada aos arquivos do evento e poderão integrar a carta final da presidência. Trata-se de uma oportunidade singular de participação no futuro climático do planeta.
Sem dúvida, estamos diante de um momento único. O interesse pelo tema tende a crescer, pois a situação climática já ultrapassou quase todos os limites críticos. Se pouco for feito, as futuras gerações correm sério risco de não conhecer o mesmo mundo repleto de natureza que vivemos hoje.
*Renato Zimmermann – Desenvolvedor de Negócios Sustentáveis e Ativista da Transição Energética