Home Variedades Casas mais modernas, comandos mais difíceis: como idosos podem vencer a barreira da tecnologia

Botões sensíveis ao toque, comandos por voz, telas que exigem Wi-Fi e atualizações constantes. A modernização dos eletrodomésticos está transformando a rotina das famílias brasileiras — mas, para muitos idosos, essa revolução tecnológica ainda parece um quebra-cabeça sem manual.

Nos últimos anos, cozinhas e lavanderias ganharam novos protagonistas: geladeiras inteligentes, fornos conectados ao celular e máquinas de lavar com painéis digitais. A tendência acompanha um movimento mais amplo de digitalização do lar, impulsionado por conforto, automação e conectividade. No entanto, esse avanço impõe desafios importantes para a população com mais de 60 anos, cuja adaptação nem sempre é simples.

Inclusão digital avança, mas obstáculos persistem

Segundo dados da PNAD Contínua 2024, do IBGE, quase 70% dos idosos brasileiros já acessam a internet — um salto de 278% em relação a 2016. Hoje, mais de 24,5 milhões de pessoas com 60 anos ou mais estão conectadas. Apesar disso, muitos ainda enfrentam dificuldades práticas com tecnologias mais complexas ou interfaces pouco amigáveis.

“Para um idoso, usar um eletrodoméstico com painel digital pode ser como aprender um novo idioma. Ícones, configurações e até termos como ‘nuvem’ ou ‘login’ podem parecer confusos”, explica Flávia Waeny, coordenadora do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Faculdade Anhanguera. “É comum o receio de apertar o botão errado e causar um problema.”

Além disso, a combinação de letras pequenas, baixo contraste nas telas e a necessidade de conexão constante podem gerar sobrecarga cognitiva e frustração.

Quando a tecnologia empodera

Apesar das dificuldades iniciais, o domínio da tecnologia pode transformar a vida de quem envelhece. “Quando essa barreira é vencida, a tecnologia se torna um elo de autonomia e conexão. É possível marcar consultas, fazer videochamadas com a família, comprar online e até controlar eletros por aplicativos”, diz Waeny.

Essa adaptação, no entanto, precisa de suporte — e ele pode vir de diferentes formas:

Dicas para facilitar o uso de eletros tecnológicos por idosos

Aposte em modelos com botões físicos ou comandos simples

Prefira aparelhos com painéis mais intuitivos, com letras grandes e contraste claro. Funções simplificadas são ideais para quem está se familiarizando com a tecnologia.

Personalize o ambiente digital
Se o equipamento tem aplicativo, configure tudo previamente com ajuda de familiares. Ative comandos por voz e deixe os atalhos mais usados sempre visíveis.

Use etiquetas e instruções visuais

Colocar adesivos indicando os botões corretos ou deixar instruções impressas ao lado do aparelho pode ajudar a reduzir a insegurança no uso.

Participe (ou incentive) oficinas e cursos voltados à terceira idade
Hoje, há centros comunitários, universidades abertas e até tutoriais online pensados para idosos. Aprender em grupo e no próprio ritmo estimula a confiança.

Tenha paciência — e incentive a curiosidade
Mais do que ensinar o “passo a passo”, é essencial respeitar o ritmo de aprendizado. Ajudar sem julgar e celebrar conquistas é o melhor incentivo.

Uma geração que aprende a “clicar”

Para Flávia, o mais importante é compreender que os idosos são, sim, capazes de aprender — desde que recebam o suporte adequado. “É uma geração que viu o mundo sair da máquina de escrever para a inteligência artificial. Eles não nasceram nesse mundo digital, mas são totalmente capazes de habitá-lo.”

Aos poucos, com apoio e inclusão, os eletrodomésticos deixam de ser uma barreira e passam a ser aliados. E cada clique, por menor que pareça, pode significar um grande passo para a autonomia na terceira idade. Com informações do portal Terra.