Domingo, 26 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 26 de outubro de 2025
Uma intervenção dos Estados Unidos para depor o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, “pode incendiar a América do Sul”, e o Brasil não deve aceitar isso, alertou Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à AFP.
Amorim expressou preocupação com os ataques dos EUA sem “nenhuma evidência” contra embarcações pertencentes a supostos narcotraficantes no Caribe, perto da costa venezuelana, o que ele descreveu como uma “ameaça de intervenção externa”.
“Não podemos aceitar uma intervenção externa, pois isso provocaria um enorme ressentimento. Para o Brasil e a Colômbia, isso pode criar problemas específicos com refugiados. Isso pode incendiar a América do Sul e levar à radicalização da política em todo o continente”, disse em entrevista à agência de notícias AFP.
Ministro das Relações Exteriores de Lula em seus primeiros dois governos (2003-2010), Amorim expressou preocupação com os ataques americanos sem “nenhuma prova” contra embarcações de supostos traficantes de drogas no Caribe, perto do litoral venezuelano. Antes, mesmo sem citar Trump, o presidente Lula fez uma série de críticas indiretas aos ataques, que agora se estenderam também ao Pacífico.
“Você não está aí para matar as pessoas, você está para prender. Antes de punir alguém, é preciso julgar, ter provas. Você não pode simplesmente dizer que vai invadir o território de outro país. É preciso respeitar a Constituição, a autodeterminação dos povos e a soberania territorial”, disse Lula.
Os Estados Unidos já sinalizaram interesse em remover Maduro do poder e, nas últimas semanas, destruíram diversos barcos venezuelanos sob o argumento de combate ao narcotráfico, aumentando a pressão sobre Caracas. Nesse contexto, Lula tende a defender que qualquer ação precipitada poderia gerar instabilidade regional. O Brasil se apresenta como canal de mediação, capaz de garantir que a solução para a crise venezuelana seja conduzida por vias políticas e multilaterais, preservando a segurança e a estabilidade do continente.
O temor de uma ação ainda mais contundente dos americanos na Venezuela é grande. O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, anunciou na sexta-feira (24) que militares americanos realizaram o 10º ataque contra uma embarcação suspeita de transportar drogas para os Estados Unidos. O ataque — primeiro deles realizado durante a noite, segundo as informações do Pentágono — matou seis pessoas, elevando o total de vítimas das operações americanas no Mar do Caribe e no Pacífico para 46, além de dois sobreviventes devolvidos a Colômbia e Equador.
Questionado como o Brasil se posicionaria numa intervenção dos EUA na Venezuela. Amorim reiterou que o Brasil é contra uma intervenção externa. “O problema de quem governará a Venezuela é do povo venezuelano. Não é fácil; requer muita ajuda para construir pontes, mas a intervenção externa, seja armada ou com serviços de inteligência, não é o caminho”. (Com informações da CartaCapital e O Globo)