Quinta-feira, 10 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 9 de julho de 2025
Uma nota técnica elaborada pelo Programa de Gestão Ambiental Portuária do Porto de Porto Alegre e pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) concluiu que não há indícios de que a enchente de 2024 tenha provocado um assoreamento generalizado no Guaíba ou em rios como o Jacuí e o Taquari, que possa ter provocado elevação adicional nos níveis de cheia. As chuvas que causaram as elevações das águas nos meses de setembro e novembro de 2023, abril-maio de 2024 e junho de 2025 no Rio Grande do Sul foram analisadas com base nos registros de mais de 200 postos de medição da Rede Hidrometeorológica Nacional, coordenada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
Conforme o diretor de Meio Ambiente da Portos RS, Henrique Ilha, o nível de intensidade das chuvas que ocorreram em maio de 2024 provocou uma erosão entre Jacuí e o Guaíba, na altura da Usina do Gasômetro. “A erosão é o processo de desgaste e remoção de materiais da superfície da terra, como solo, e neste caso foi provocado por agentes como água em excesso. Pois tivemos cerca de 650 milímetros de chuva no ano passado. Neste ano, foram 250 milímetros. É visível a diferença da quantidade de chuvas ocorridas”, comparou.
Para entender melhor a circulação da água e os impactos das cheias no leito do rio, foram realizados levantamentos batimétricos, que consistem em medições de profundidade e forma do fundo, na área portuária da capital e nos canais ao redor do Delta do Jacuí. As medições do estudo ocorreram em 26 de dezembro de 2024. Os dados obtidos em campo foram, então, comparados com a base anterior utilizada nas cartas náuticas (Navionics), permitindo identificar mudanças na forma do fundo ao longo de três perfis batimétricos localizados próximos à confluência dos rios Jacuí e Guaíba.
O primeiro, na região da Usina do Gasômetro, apresentou rebaixamentos indicativos de erosão. O segundo corresponde ao talvegue, a parte mais profunda do leito. Já o terceiro abrange o canal de escoamento do Guaíba. Isso indica que a cheia extrema de maio de 2024 causou alterações batimétricas com remoção de sedimentos e exposição do substrato rochoso em alguns trechos. Essas alterações no leito foram confirmadas durante tentativas de amostragem desse material.
Os perfis batimétricos analisados no estudo, entretanto, mostram que as variações observadas no leito são compatíveis com processos naturais de erosão e deposição associados a eventos extremos, sem indicar bloqueios ou elevações relevantes que impactem significativamente a vazão do sistema.
Proteção contra cheias
De acordo com o diretor Henrique Ilha, a solução é investir em uma rede de proteção mais robusta contra as cheias no Rio Grande do Sul. “As chuvas em grande quantidade são fenômenos que não podemos conter. Cabe ao estado reforçar os diques e todo o sistema de bombeamento, para que possamos ter mais segurança e, com isso, que seja evitado o transbordamento da água dos rios”, destacou.
O sistema de monitoramento das medições do nível do Guaíba tem facilitado o processo de prevenção de novas catástrofes, de acordo com o diretor de Meio Ambiente da Portos RS. “Até para que famílias sejam removidas dos locais de risco a tempo de um transbordamento do Guaíba, o sistema de medição tem sido de extrema necessidade”, enfatizou Ilha.
O diretor acrescentou que já está em estudo um novo modelo conceitual de porto para a capital. “O estudo é para que não ocorra risco de inundação do Guaíba. Temos recursos na ordem de R$ 40 milhões para que este estudo seja realizado. Teremos um novo modelo de porto no Guaíba, em Porto Alegre”, adiantou.
A sequência do projeto inclui a realização de mapeamentos periódicos e mais abrangentes de batimetria, estudos hidráulicos e hidrossedimentológicos. Além disso, os resultados de levantamentos batimétricos anteriores, feitos por órgãos estaduais e federais, devem ser utilizados para uma avaliação mais completa das mudanças no leito.
“É preciso pensar nos planos de ocupação de urbanização e principalmente a localidade de hospitais e aeroportos. Além de remodelar os diques e casas de bombas. Essas estruturas têm que estar em bom funcionamento estratégico contra as cheias”, declarou Ilha.
Batimetria no Guaíba
O governo do Estado também iniciou nesta quarta-feira (9) um estudo de batimetria no Guaíba, para medir profundidade, identificar acúmulo de sedimentos e determinar a necessidade de desassoreamento. Serão percorridos 512 km, com investimento de R$ 2,5 milhões. A ação integra o Eixo 2 do programa Desassorear RS, do Plano Rio Grande, e será realizado pelos consórcios STE e Aerogeo ao longo de seis meses.
A batimetria, que envolve as medições detalhadas do relevo submerso dos rios, busca mapear e identificar possíveis alterações causadas por eventos como as enchentes. O levantamento é feito em um barco, através de um ecobatímetro instalado na embarcação e um GPS integrado. A iniciativa é coordenada pela Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul.
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