Segunda-feira, 29 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 29 de setembro de 2025
O cenário geopolítico mundial é um complexo tabuleiro em que o poder político e econômico, aliado às localizações estratégicas das nações, contextualiza inúmeros desafios, ameaças, oportunidades e riscos. Esse ambiente possibilita estratégias e atitudes nem sempre compreendidas ou aceitas. Foi nesse contexto que nasceu o multilateralismo, termo muito presente nas discussões climáticas.
Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), o multilateralismo é a prática da política e da diplomacia internacionais em que diversos países, com visões e objetivos distintos, buscam soluções conjuntas para conflitos globais. Para que funcione, é necessário que as nações colaborem (cooperação), façam concessões (compromisso) e organizem suas ações (coordenação). Essa tríade é essencial para o sucesso das negociações.
O ponto central das COPs é justamente a negociação. A COP30, que será realizada no Brasil, reúne os principais ingredientes para se tornar a mais importante de todas, já que muitos temas já foram discutidos e acordos firmados. Vale destacar que a UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) é o único fórum capaz de reunir todas as nações para cooperar, assumir compromissos e coordenar ações voltadas à reversão do atual quadro de aquecimento global. As negociações ocorrem em meio a debates organizados, com representatividade de porta-vozes oficiais.
Entretanto, a COP30 sofreu um duro golpe quando o presidente Donald Trump anunciou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Isso significa que o país não cumprirá mais o compromisso firmado em 2015, durante a COP21, na França. Além disso, Trump extinguiu o “Office of Global Change”, escritório responsável pela diplomacia climática no Departamento de Estado, deixando os EUA sem estrutura formal para participar das negociações.
Segundo a CNN, essa decisão dificulta o credenciamento e a presença do país em fóruns climáticos — um vexame que prejudica a imagem internacional americana e compromete sua diplomacia. Resta a dúvida: por trás dessa atitude haveria uma estratégia para tensionar ainda mais as relações diplomáticas, já fragilizadas por tarifas comerciais e pela nova “guerra fria”?
Os EUA são o principal emissor histórico de gases de efeito estufa, mas atualmente a China ocupa o primeiro lugar no ranking global. A diferença entre os dois maiores poluidores do mundo é que a China tem demonstrado maior disposição em buscar soluções. Em abril de 2025, o presidente Xi Jinping prometeu apresentar novas metas climáticas (NDCs) antes da COP30, abrangendo a redução de todos os gases de efeito estufa em todos os setores econômicos. Em declarações recentes em fóruns internacionais, o governo chinês manifestou “atenção elevada” ao tema climático e ao fortalecimento da cooperação multilateral.
Embora Xi Jinping ainda não tenha confirmado presença na Cúpula de Líderes, os eventos realizados na agenda pré-COP em Beijing indicam forte engajamento do país. Essas iniciativas criam expectativa de construção de um consenso político em torno da pauta climática. Os encontros preparatórios fazem parte da chamada “diplomacia climática ativa”, conduzida pelo embaixador André do Lago, representante do Brasil como país anfitrião.
Atualmente, a China responde por cerca de 27% das emissões globais de gases de efeito estufa, enquanto os EUA são responsáveis por 11%. No entanto, quando a comparação é feita em termos “per capita”, os Estados Unidos voltam ao topo como maior emissor. Faltando poucas semanas para o início da COP30, já estão confirmadas 135 delegações de países.
Apesar de problemas iniciais com greves em obras e preços elevados de hospedagem, as questões logísticas estão sendo solucionadas. Os EUA dificilmente enviarão uma delegação oficial, enquanto a China aguarda apenas a confirmação da presença de seu líder máximo, Xi Jinping.
*Renato Zimmermann – Desenvolvedor de Negócios Sustentáveis e Ativista da Transição Energética