Segunda-feira, 13 de Outubro de 2025

Home em foco China se debate entre pressões internas e ambições globais na Conferência do Clima

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A China participa da COP-26 vivendo uma rara conjunção de fatores políticos, econômicos e internacionais. Combinados ou isoladamente, eles serão críticos para moldar sua política climática a curto prazo e nos próximos anos. O modo com que navegará entre pressões domésticas e ambições globais definirá o caminho.

Na economia, o país tenta promover a transição para um modelo verde e menos dependente de investimentos em infraestrutura, com possíveis custos ao crescimento do PIB. Na política, busca manter um ambiente favorável para a esperada permanência no poder de Xi Jinping no próximo ano, rompendo o limite de uma década que vigorava desde 1982. E na arena internacional, enfrenta a rivalidade com os Estados Unidos e os riscos que ela representa à cooperação climática entre os dois maiores poluidores do mundo.

Nos últimos anos, a China deixou clara a ambição de ocupar uma posição de liderança mundial na agenda do clima, com medidas concretas em sua política de meio ambiente. Foi uma mudança significativa em relação à atitude que o país mantinha num passado não tão distante, quando insistia em colocar o seu direito ao desenvolvimento, turbinado pelo crescimento econômico movido a carvão, à frente de preocupações ambientais.

Xi Jinping não sai da China desde o início da pandemia, e a COP-26 não mudou isso. Enquanto o presidente americano Joe Biden está em Glasgow, com o reforço de Barack Obama, Xi fez na segunda-feira (1°) um pronunciamento por escrito. A ausência do presidente chinês gerou especulações de que a China estaria recuando de seu “sonho verde”.

Conjecturas à parte, Xi foi vital para a guinada que a China deu nos últimos anos, e tem um longo histórico de preocupações ambientais. Ele foi uma das primeiras autoridades do país a se manifestar publicamente sobre o tema, bem antes de assumir a liderança do Partido Comunista da China (PCC), em 2012.

Quando era secretário do PCC na província de Zhejiang (2003-2007), publicou uma série de artigos alertando para o preço que o crescimento econômico estava cobrando do ambiente. Uma das características mais marcantes de Xi é que, com ele, o desenvolvimento sustentável tornou-se prioridade, “um contraste absoluto em relação aos líderes chineses anteriores”, segundo o Carbon Brief, um centro de estudos ambientais britânico.

No último ano, Xi fez três promessas importantes para reforçar o compromisso da China no combate ao aquecimento global. Em setembro, ele disse na Assembleia Geral da ONU que as emissões de CO2 do país atingiriam um pico até 2030 e que a transição energética levaria o país a alcançar a neutralidade de carbono antes de 2060.

No mês passado, veio uma nova decisão significativa, a de que a China deixará de financiar usinas termelétricas a carvão no exterior. Esse último anúncio foi uma resposta às críticas de que os investimentos em infraestrutura da China em outros países na “nova rota da seda” ignoram padrões ambientais.

Embora importante, esse é o passo mais fácil. O mais difícil é cortar as emissões internamente, deixando para trás um modelo energético em que 60% das usinas elétricas do país ainda são movidas a carvão, o combustível fóssil mais poluente.

Pressionado pela atual crise energética, que causou apagões em várias províncias do país devido à escassez de carvão, o governo anunciou há duas semanas medidas para liberalizar o mercado de energia, permitindo que as geradoras de energia reajustem a conta do consumidor.

Considerando a tradição de preços controlados no setor, a ação foi considerada audaciosa, um ponto de inflexão tanto na política climática como no modelo econômico do país. Ao mesmo tempo em que é líder mundial em energia eólica e solar, a China continua a construir usinas de carvão. A introdução de forças de mercado no setor elétrico pode matar o incentivo econômico para novas usinas, diz Li Shuo, assessor político do Greenpeace. É algo que grupos ambientalistas reivindicam há anos, afirma.

Ao mesmo tempo, também há frustração com o ritmo da China em sua caminhada para um modelo mais limpo. As metas divulgadas pelo país na última quinta-feira, em que não acrescentou nenhuma nova medida além das já anunciadas, deixaram Li e outros ambientalistas desanimados. Sendo o país que mais emite CO2 no mundo e reivindica um lugar na linha de frente dessa campanha, a expectativa era de que a China elevasse o seu nível de ambição.

Na esfera da geopolítica, a rivalidade entre China e EUA torna mais difícil construir a dinâmica de cooperação entre as maiores economias do mundo que seria importante para empurrar outros países a estabelecer metas ambiciosas na COP-26. Para Li, porém, o maior problema é que já não há mais a expectativa de reciprocidade entre os dois países como havia em 2015 nas negociações do Acordo de Paris. Principalmente porque a polarização política nos EUA torna muito mais difícil para o governo americano cumprir suas metas.

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