Terça-feira, 08 de Outubro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 10 de julho de 2022
A primeira vez que Marcus Maeder fixou um sensor de ruídos no solo foi por curiosidade. Artista do som e ecologista acústico, ele estava sentado sobre a grama da montanha e fincou no solo um microfone especial que ele havia construído.
“Eu estava apenas curioso”, relembra Maeder, que agora trabalha em uma dissertação sobre os sons da biodiversidade no Instituto Federal de Tecnologia em Zurique, na Suíça.
Ele certamente não estava preparado para a algazarra que invadiu seus fones de ouvidos. “Eram sons muito estranhos”, afirma ele. “Havia vibrações, trinados e raspagens. Você precisa de um vocabulário novo para descrevê-los.”
Maeder percebeu que estava espionando criaturas que vivem no solo.
Os ecologistas sabem há muito tempo que a terra abaixo dos nossos pés abriga maior diversidade e quantidade de vida que quase qualquer outro lugar do planeta. Para o leigo, o solo parece pouco mais que uma camada compacta de terra suja. Mas, na verdade, o solo é um cenário labiríntico de túneis, cavidades, raízes e detritos em decomposição.
Em apenas uma xícara de terra, os pesquisadores já contaram até 100 milhões de formas de vida, de mais de 5 mil espécies. Os moradores do subsolo variam de fungos e bactérias microscópicas, ácaros e colêmbolos do tamanho da ponta de um lápis, até centopeias, lesmas e minhocas que podem chegar a mais de um metro de comprimento. Junto a eles, existem as toupeiras, ratos e coelhos que vivem ao menos parte das suas vidas em túneis e covas subterrâneas.
“É uma biodiversidade extraordinária”, afirma Uffe Nielsen, biólogo do solo da Universidade do Oeste de Sydney, na Austrália. E também é vital — coletivamente, essas comunidades subterrâneas formam grande parte da base da vida do planeta, desde os alimentos que comemos até o ar que respiramos.
Atualmente, no campo relativamente novo conhecido como bioacústica do solo — que alguns preferem chamar de biotremologia ou ecoacústica do solo —, cada vez mais biólogos estão capturando ruídos subterrâneos para abrir uma janela para esse mundo complexo e misterioso.
Eles descobriram que um simples prego metálico fixado na terra pode funcionar como uma espécie de antena de cabeça para baixo, se for equipado com os sensores corretos. E, quanto mais os pesquisadores escutam, mais se torna evidente como é vibrante a vida no solo sob nossos pés.
Espionar essa cacofonia de sons subterrâneos promete revelar não apenas quais formas de vida residem abaixo dos nossos pés, mas também como elas passam sua existência – como elas comem ou caçam, como deslizam umas sobre as outras sem serem notadas e como tamborilam, sapateiam ou cantam para chamar a atenção dos demais.
Para Nielsen, a vida no subsolo “é uma caixa preta. À medida que a abrimos, percebemos como nosso conhecimento é pequeno.”
A compreensão dessa vida no subsolo é importante porque a ecologia do solo é fundamental. “O solo ajuda a transformar elementos nutrientes como carbono, nitrogênio, fósforo e potássio, que alimentam as plantas, para termos comida, florestas ou para preencher o ar com oxigênio e todos nós podermos respirar”, segundo Steven Banwart, pesquisador do solo, agricultura e da água da Universidade de Leeds, no Reino Unido.
Banwart é um dos autores de uma análise das funções do solo, publicada na revista Annual Review of Earth and Planetary Sciences. Minhocas, larvas, fungos, bactérias e outros decompositores estão envolvidos em todas as etapas.
E cada organismo do solo produz sua própria trilha sonora. Larvas que se alimentam de raízes emitem cliques curtos enquanto rompem as fibras da sua refeição. Minhocas sussurram enquanto se arrastam pelos túneis, da mesma forma que as raízes das plantas à medida que empurram grãos de terra, como relataram pesquisadores suíços em 2018.
Mas as raízes se movem mais lentamente que as minhocas e em velocidade mais constante. Diferenciando esses sons, os estudiosos da acústica do solo pretendem esclarecer questões que ainda estão sem resposta.
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