Quinta-feira, 16 de Outubro de 2025

Home Mundo Cientistas criam com sucesso células que estimulam o crescimento de cabelo

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Pesquisadores da Universidade Nacional de Yokohama, no Japão, chegaram mais perto de encontrar uma cura para a calvície. Em laboratório, os cientistas conseguiram criar folículos capilares a partir de células embrionárias de camundongos. Quando implantados nos animais, os folículos geraram os fios com sucesso, e continuaram a funcionar em vários ciclos de crescimento dos pêlos. O estudo foi publicado na revista científica Science Advances.

O folículo é uma estrutura em formato de bolsa que fica dentro da pele, na hipoderme. Dentro dele é onde fica a raiz do fio capilar. Cada folículo consegue gerar cerca de 3 a 5 fios. Com os resultados animadores, os cientistas acreditam que o método abre caminho para futuros tratamentos de distúrbios que levam à queda de cabelo. Outra possibilidade é que o crescimento em laboratório dispense a necessidade de animais para testes de produtos químicos.

Próximo passo

“Nosso próximo passo é usar células de origem humana e aplicar para o desenvolvimento de medicamentos e medicina regenerativa”, diz o professor da faculdade de engenharia biomédica da Universidade Nacional de Yokohama, Junji Fukuda, em comunicado.

Para desenvolver os folículos em laboratório que serão testados em humanos, porém, os cientistas explicam que o processo será um pouco diferente dos estudos com camundongos. Em vez de células embrionárias, por questões éticas e de acesso ao material, eles utilizarão engenharia reversa em células-tronco para alcançar as unidades presentes na fase em que o indivíduo ainda é um feto em formação.

“Temos muita água para rolar ainda, porém já conseguir entender esse meio complexo de ativações e inativações do folículo, estímulos e inibições, ou seja, como essa orquestra funciona, já é um grande passo na ciência, porque ainda não temos isso 100% definido. Nesses últimos 5 a 10 anos, estamos caminhando de forma muito mais rápida, tanto em terapias medicamentosas, como celulares e genéticas, então não tenho dúvidas de que em breve teremos cada vez mais opções terapêuticas novas para o tratamento da calvície”, avalia a médica dermatologista coordenadora do departamento de cabelos da Sociedade Brasileira de Dermatologia regional do Rio de Janeiro (SBDRJ), Violeta Tortelly.

Para a professora da residência em dermatologia da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Natasha Crepaldi, caso a técnica se mostre eficaz em humanos será de fato uma nova e importante alternativa no tratamento da calvície.

“Será fundamental para elucidar muitas etapas do funcionamento da unidade folicular até então pouco conhecidas e também para a abordagem precoce de casos iniciais em que folículos novos poderão impedir a evolução e para casos avançados de calvície onde não há mais área doadora viável (de outras partes do cabelo) para o transplante. Além disso, dispensará o uso de medicações antes e depois do transplante já que folículos capilares criados (em laboratório) não terão a resposta genética pré-definida e causadora da calvície” explica a médica.

Tortelly ressalta que as terapias disponíveis hoje buscam atacar a causa da queda dos fios e estimular os existentes, porém não conseguem recuperar os que foram perdidos. Além disso, a opção do transplante, que é algo o mais próximo de novos folículos, não funciona para todos os casos.

“Atualmente, o tratamento é direcionado ao tipo de agente causador. O problema é que aquele fio que ja foi embora não conseguimos refazê-lo, por isso estimulamos os que ainda existem. Daí a importância dessa nova pesquisa para aquele paciente em que o estímulo máximo já foi atingindo e ainda temos áreas de calvície que não conseguimos contornar. Ou que só conseguimos com o transplante capilar, porém de qualquer forma, até para transplantar, se a pessoa for muito calva o resultado pode não ser o desejado” diz a especialista.

Diferentes tratamentos

Os diferentes tratamentos existentes são porque a calvície, chamada de alopecia, pode ser de diversos tipos. O mais comum, chamado de androgenética, é relacionado aos hormônios masculinos e por isso tem a maior prevalência entre os homens. Nesses casos, costumam se manifestar já nos 20 anos e se agravar com o tempo. É um quadro hereditário, ou seja, passado de geração em geração.

“A herança genética é poligênica, isto é, não vem só da mãe ou só do pai, pode ser de qualquer parente próximo. E quanto ao fator hormonal, o que ocorre é que a Dihidrotestosterona (a DHT), hormônio que é sintetizado por uma enzima a partir da testosterona, se liga aos receptores do folículo capilar e faz com que eles afinem e reduzam o crescimento, o que chamamos de miniaturização capilar. Os fios então vão reduzindo muito a densidade e afinando, passando do normal, que é ter de três a cinco fios de cabelo por folículo, para apenas 1 ou 2 fios” diz Crepaldi.

Outra forma que ganhou destaque por ser o diagnóstico do ex-participante do Big Brother Brasil Lucas Penteado e da esposa do ator Will Smith, a também atriz Jada Smith, é a alopecia areata. Nesse caso, é uma doença autoimune pois o próprio sistema imunológico ataca os folículos capilares, impedindo a produção de novos fios.

O experimento

Os pesquisadores desenvolveram a nova técnica baseada na formação natural dos folículos durante a fase embrionária. Eles explicam que, nesse momento, ocorre uma interação entre a camada mais externa da pele, a epiderme, e o mesênquima, uma espécie de tecido primário que dá origem aos tecidos conjuntivos do corpo, como o cartilaginoso, o ósseo, entre outros.

Durante essa interação, são enviadas instruções para que as células se organizem na epiderme e formem os folículos. Os mecanismos deste processo, no entanto, não eram completamente compreendidos, o que levava a tentativas frustradas de reproduzi-lo em laboratório.

O cenário mudou com a chegada dos organoides, considerados um dos maiores avanços científicos das últimas décadas. São conjuntos de células criadas a partir de células embrionárias ou células-tronco para reproduzir características genéticas e fisiológicas de determinado órgão ou tecido do corpo. Com isso, os cientistas conseguem analisar processos e mecanismos que ocorrem em larga escala com detalhes no laboratório, desenvolvendo “mini-órgãos” ou “mini-tecidos”.

“Os organoides foram uma ferramenta promissora para elucidar os mecanismos da morfogênese (criação) do folículo capilar in vitro (no laboratório)”, afirma o professor-assistente da faculdade de engenharia biomédica da Universidade Nacional de Yokohama, Tatsuto Kageyama, em comunicado.

Eles fabricaram então os organoides de folículos capilares a partir de dois tipos de células embrionárias, as epiteliais e mesenquimais, justamente para reproduzir a interação que ocorre durante o desenvolvimento do feto. Além disso, utilizaram uma matriz extracelular, um conjunto de moléculas que une e define a estrutura das células durante a formação do tecido.

O experimento foi bem sucedido, com os organoides gerando folículos e hastes capilares (parte visível do cabelo) com quase 100% de eficiência. Em 23 dias de cultivo, os fios tinham cerca de 3 mm de comprimento, um feito inédito que comprovou a capacidade de gerar o crescimento de cabelo.

Em seguida, eles adicionaram uma droga estimulante de melanócitos no processo. Isso porque os melanócitos são células responsáveis pela produção da melanina, que dá cor ao cabelo. Com a adição da substância, a pigmentação dos fios melhorou ‘significativamente’, relataram os cientistas. Por fim, eles transplantaram os organoides nos camundongos, o que funcionou de forma eficiente e em vários ciclos de crescimento dos pêlos.

“Isso é importante pois os folículos trabalham em ciclos, então existe a fase de crescimento, a fase de transição e a fase de descanso ou queda dos fios”, explica a professora da UFMT.

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