Terça-feira, 18 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 17 de novembro de 2025
Pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, desenvolveram uma cepa de fungo capaz de enganar e matar mosquitos transmissores de doenças como dengue, malária e zika.
O microrganismo, do gênero Metarhizium, foi geneticamente modificado para liberar um composto de aroma adocicado semelhante ao das flores — atraindo os insetos antes de eliminá-los.
A descoberta, publicada na revista Nature Microbiology, oferece uma alternativa biológica aos pesticidas químicos, que vêm perdendo eficácia devido à resistência dos mosquitos.
Perfume mortal
O segredo do novo fungo está em uma substância chamada longifolene, um composto natural de odor doce usado inclusive em perfumes humanos. Ao ser liberado, o cheiro atrai mosquitos adultos em busca de néctar — fonte de energia essencial para eles.
“Depois de observarmos que certos fungos conseguiam enganar os mosquitos, percebemos que poderíamos turbinar a atração modificando-os para produzir mais longifolene”, explica Raymond St. Leger, coautor do estudo e pesquisador emérito da Universidade de Maryland. “Antes deste estudo, não se sabia que o longifolene atraía mosquitos.”
Assim que os insetos entram em contato com o fungo, eles são infectados e morrem em poucos dias. Em experimentos de laboratório, o método matou de 90% a 100% dos mosquitos, mesmo quando havia aromas concorrentes – como o de flores naturais e o cheiro humano.
Segura para humanos e barata de produzir
Os pesquisadores destacam que o fungo é inofensivo para pessoas e outros animais, já que o longifolene tem um histórico de segurança em produtos cosméticos.
Além disso, o microrganismo pode ser cultivado em substratos simples e baratos, como fezes de galinha, cascas de arroz e restos de trigo, o que o torna acessível para países de baixa renda — justamente os mais afetados por doenças transmitidas por mosquitos.
“O fungo é fácil de usar e continua liberando o aroma por meses, mesmo em ambientes abertos. Pode ser uma ferramenta importante para comunidades que não têm acesso a tecnologias complexas”, afirma St. Leger.
Um desafio à evolução
Diferentemente dos inseticidas químicos, que os mosquitos conseguem driblar ao longo do tempo, essa estratégia biológica pode ser praticamente impossível de evitar.
“Se evoluírem para ignorar o longifolene, teriam de deixar de responder às flores — e isso comprometeria sua sobrevivência”, diz o cientista.
O grupo também estuda formas de adaptar o fungo para emitir outros aromas florais, caso surjam populações de mosquitos menos sensíveis ao cheiro original.
Risco global crescente
Com o aquecimento global e a expansão das áreas tropicais, os mosquitos transmissores estão alcançando novas regiões, incluindo partes dos Estados Unidos e da Europa.
Por isso, os pesquisadores acreditam que soluções inovadoras como essa serão cada vez mais necessárias. “Hoje, queremos usar essa tecnologia na África, Ásia e América do Sul. Mas um dia, poderemos precisar dela para nós mesmos.”
O fungo agora será testado em experimentos de campo em larga escala antes de buscar aprovação regulatória.
Segundo St. Leger, a meta é construir um arsenal diversificado de ferramentas que possa ser ajustado às realidades de cada região – “para que as pessoas tenham o maior número possível de opções para salvar vidas”.