Sexta-feira, 05 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 11 de novembro de 2023
Fora da disputa à Presidência em 2026 após duas condenações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o deixaram inelegível, o ex-presidente Jair Bolsonaro vê no Senado um flanco para desgastar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e manter o capital político da oposição. A médio prazo, o plano inclui a formação de um bloco contra pautas do Palácio do Planalto e uma ofensiva em busca de maioria na Casa nas próximas eleições, quando 66% das cadeiras serão renovadas (54 de 81).
Durante essa semana, Bolsonaro reuniu a tropa do PL e determinou uma operação para derrubar a Reforma Tributária. O texto acabou sendo aprovado, mas por margem estreita, apenas quatro votos acima do necessário. O resultado em si foi uma derrota para o bolsonarismo. O placar, contudo, dá fôlego aos oposicionistas em um plenário que há duas semanas rejeitou pela primeira vez uma indicação de Lula para a Defensoria Pública da União (DPU), em um recado claro para o presidente.
Senadores da oposição alardearam que há risco até para uma eventual indicação do ministro Flávio Dino (Justiça) ao Supremo Tribunal Federal (STF), cenário que vem preocupando o Planalto. As seis votações de temas relevantes na Casa desde junho mostram que há um “núcleo duro” alinhado a Bolsonaro, com 24 senadores — este grupo votou contra Lula em ao menos quatro destes projetos. Há neste bloco as bancadas completas de PP (seis) e Republicanos (quatro), partidos que foram contemplados na reforma ministerial de Lula, mas demonstram aproximação com o Executivo apenas na Câmara.
36 vagas
Dentro deste quadro conturbado para as forças governistas, há mais dificuldades à vista. Em 2026, dos 54 senadores que terão os mandatos encerrados, 18 são da oposição (sendo nove da tropa do ex-presidente) e 36 da base — é justamente nessa fatia maior que o bolsonarismo está de olho. O PL e o PP já trabalham com nomes para ocupar esse espaço, casos da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, de governadores próximos ao ex-presidente, como o do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), e de ex-ministros, a exemplo de João Roma (PL), na Bahia.
No PL, o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, tem se reunido semanalmente com Bolsonaro e o ex-ministro Walter Braga Netto, que também teve a inelegibilidade determinada pelo TSE. O objetivo é traçar cenários e buscar mais nomes com potencial, para almejar a conquista de ao menos uma vaga para a direita em cada estado.
No Rio, berço do bolsonarismo, a expectativa é manter toda a bancada alinhada à direita, com a reeleição de Flávio Bolsonaro (PL) e novos nomes no páreo. Já no Distrito Federal, quem seguirá no mandato é a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), também envolvida nas articulações para incrementar a bancada.
Entre os cotados no Distrito Federal, além de Michelle Bolsonaro, estão a deputada Bia Kicis (PL-DF) e o governador Ibaneis Rocha (MDB), que não poderá concorrer a uma nova reeleição. O nome da ex-primeira-dama, no entanto, é considerado um coringa que pode ser usado em outros estados, caso seja necessário para o xadrez político.
Já em São Paulo, a intenção é abocanhar cadeiras ocupadas pela centro-direita. Os mandatos dos senadores Mara Gabrilli (PSD) e Giordano (MDB) acabam. Hoje, nomes vistos com o potencial para conquistar as vagas são os dos deputados Eduardo Bolsonaro e Ricardo Salles, ambos do PL.
Em Minas Gerais, onde o senador Cleitinho (PL-MG) se elegeu no ano passado com um jingle crítico ao STF, o partido gostaria de lançar o deputado Nikolas Ferreira, fenômeno nas redes sociais. Ele, no entanto, terá 30 anos em 2026, sem a idade mínima necessária para o cargo (35 anos). Uma das opções é apostar na reeleição do senador Carlos Viana, atualmente no Podemos.
Pressão no STF
O foco no Senado tem uma razão estratégica. Com a proximidade cada vez maior entre o Planalto e a cúpula da Câmara, é na Casa vizinha que a oposição tem encontrado mais espaço para suas pautas, como a limitação de poderes de ministros do STF, tema que tem avançado. Também é o Senado que recebe pedidos de impeachment de ministros da Corte, agenda que o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tem travado.
A interlocutores do Supremo, ele já fez alertas sobre a possibilidade de o bolsonarismo ampliar ainda mais o espaço na casa. Ministros da Corte, no entanto, minimizam a possibilidade de um Senado majoritariamente de direita e com tendências anti-STF. Reservadamente, há ponderações sobre as chances de crescimento da direita mais radical e a crença na aproximação de lideranças da centro-direita consideradas mais comedidas, como, por exemplo, a senadora Tereza Cristina (PP-MS).