Quarta-feira, 22 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 22 de outubro de 2025
Com Guilherme Boulos no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta fazer uma reconstrução da esquerda. Para caciques partidários, dois fatores levaram a este movimento: um de política interna, para se reaproximar de sua base social histórica, e outro com olhar internacional.
Lula anunciou na segunda-feira (20) o deputado federal como novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, pasta responsável pela relação do governo com os movimentos sociais.
O petista perdeu o centro e vê a direita avançar na América Latina. A eleição na Bolívia, por exemplo, representou guinada conservadora naquele país que se soma à liderança de Javier Milei na Argentina. Além disso, há o peso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no âmbito global.
Dirigentes de partidos, empresários e representantes do setor financeiro temem que esse cenário gere avanço de uma política populista de esquerda, sem preocupação com as contas públicas.
Depois de ter visto o PT encolher por anos seguidos, após uma sequência de escândalos – do mensalão à Lava Jato – e voltar ao poder, mas amargando dados ruins de popularidade, o presidente não deixa dúvidas de que esticará a corda para atrair votos para 2026.
O cientista político Leandro Gabiati afirma que a nomeação de Boulos, combinada com as demissões de indicados do Centrão, sinaliza para 2026. “Uma coalizão nitidamente de esquerda no 1º turno, que eventualmente poderá ter outras adesões se houver 2º turno”, diz.
Para a antropóloga Isabela Kalil, a demora para Boulos ser oficializado no ministério tem relação com um cálculo de custo político por parte de Lula. “O governo está numa posição mais favorável agora para enfrentar a resistência ao nome do Boulos”, afirma, em referência à recuperação da popularidade.
Antes de ser confirmado ministro da Secretaria-Geral da Presidência no lugar de Márcio Macêdo, Boulos teve um dia de “posse informal” no Planalto. Prestigiou o lançamento do Programa Reforma Casa Brasil, sentou na primeira fila de autoridades e recebeu até um “beija-mão”: todos que chegavam iam de imediato cumprimentá-lo.
Primeiros anúncios
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, anunciou, como uma das primeiras medidas à frente da pasta, a criação de um grupo, em parceria com o Ministério do Trabalho, para discutir com trabalhadores de aplicativos a regulamentação das plataformas. A declaração do novo ministro foi feita em entrevista à GloboNews nesta quarta-feira (22).
“Recebi como demanda deles (trabalhadores de aplicativo) e vou dialogar e criar um grupo de trabalho na Secretaria-Geral da Presidência, junto com o Ministério do Trabalho porque o ministro Marinho já tem feito isso lá, que é sobre a transparência do algoritmo. Hoje esses trabalhadores são dirigidos por algoritmos, mas não tem nenhuma transparência de como isso funciona e é essencial que isso seja feito”, declarou Boulos.
Segundo o ministro, são três eixos que serão discutidos com os trabalhadores de aplicativos: a remuneração mínima, a instituição de um grau de seguro e vínculo previdenciário e a transparência dos algoritmos utilizados pelas plataformas. Boulos admitiu que a esquerda erra ao dialogar com grupo, querendo empurrar uma “visão de legislação trabalhista” sem escutar as demandas deles.
“É plenamente possível dialogar com esses trabalhadores a partir da realidade deles e a partir de pontos concretos da sua pauta. Muitas vezes, o erro que nós, do campo progressista, cometemos foi querer colocar a nossa visão de legislação trabalhista para esses trabalhadores sem escutá-los. Acho que é isso que precisamos ajustar no discurso e na prática”, declarou.