Terça-feira, 10 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 3 de abril de 2023
O fim da temporada de balanços financeiros referentes ao quarto trimestre do ano passado mostrou que o lucro das empresas de capital aberto listadas na Bolsa de Valores brasileira (B3) derreteu em 2022. Um levantamento feito pelo TradeMap mostra que o lucro líquido de 295 companhias caiu mais de 17% na comparação com 2021, enquanto as despesas financeiras saltaram quase 50%.
O culpado é a taxa de juros de dois dígitos. Enquanto os juros altos cumprem a sua função na economia de desestimular o consumo e ajudar na queda da inflação, as empresas brasileiras pagam o preço.
O levantamento mostra que, ao comparar o balanço geral das companhias não financeiras listadas na B3, com exceção de Petrobras, Vale, Braskem, CSN e Suzano, as despesas saltaram 48% de 2021 para 2022. Por sua vez, o lucro líquido em 12 meses caiu 17,8% no comparativo anual.
Paulo Weickert, sócio-fundador e cogestor da Apex Capital, explica que muitas das empresas da Bolsa aproveitaram o momento da Selic a 2% em 2021 para se capitalizar, adquirindo dívidas com base no CDI (Certificados de Depósitos Interbancários). O problema foi que, com a escalada da taxa de juros, as dívidas pulsaram.
O levantamento soma os balanços referentes a 2021 e 2022 das empresas listadas na B3. O recorte deixa de fora bancos e seguradoras, e as gigantes Petrobras, Vale, Braskem, CSN e Suzano. Se essas 5 empresas fossem consideradas, o lucro líquido em 2022 ante 2021 subiria 2,6%. Uma alta pequena, mas relevante em comparação à redução de 17,8% no balanço que não as inclui. “Neste caso, poderíamos dizer que as empresas não financeiras da Bolsa tiveram crescimento de lucro em 2022. Não está errado, mas seria um desvio”, diz Einar Rivero, head comercial do TradeMap.
Analisando apenas as 295 empresas incluídas no levantamento, outros dados chamam a atenção – e confirmam a deterioração dos resultados das companhias da B3 em 2022.
Enquanto as vendas aumentaram 19,1%, o custo de produtos vendidos cresceu 21,7%. Isso fez com que o lucro bruto subisse apenas 11%, um porcentual menor do que o do aumento das vendas. Olhando para o lucro Ebit, métrica que mostra o nível de lucratividade de uma empresa antes de despesas com impostos e juros, o avanço é de 0,01%.
E é aí que a taxa Selic nas alturas começa a pesar. Se, antes de impostos e juros, o lucro das empresas já estava no zero a zero em comparação a 2021, quando as despesas financeiras entram na conta com um salto anual de 48%, o lucro líquido se torna um prejuízo. “Houve um crescimento muito forte na despesa financeira de 21 para 22, que inclui indiretamente a Selic, que fez com que as empresas com dívidas em real tivessem de pagar juros maiores, penalizando o resultado final”, explica Rivero.
Com os juros da dívida maiores, o caixa das empresas diminuiu, a margem foi reduzida e a remuneração de dividendos também. O ROE, indicador que mostra quanto lucro é gerado em relação ao capital investido, caiu 5,3% e terminou 2022 em 12,83% – um sinal de que as companhias brasileiras estão tendo rentabilidade abaixo do próprio CDI.
O levantamento traz ainda uma análise dos lucros líquidos consolidados por setores. Energia elétrica, alimentos processados, siderurgia e metalurgia, telecomunicações, mineração e agropecuária foram os que tiveram a maior variação negativa, em reais, no período. Setores que têm um Capex – a necessidade de investimento para modernização ou expansão da empresa – elevado ou margens mais apertadas por causa das características de seus negócios.
“São os dois tipos de setores que apanham mais com os juros altos”, afirma Felipe Cima, operador de renda variável da Manchester Investimentos. “O setor de energia, por exemplo, tem a necessidade de um Capex de manutenção elevado para não perder eficiência. Já os frigoríficos costumam ter margem mais apertada, já que algumas coisas não tem a ver com o juros, mas com o ciclo bovino”, explica.
Investimentos
Com os juros ainda elevados, é cedo para cravar se o investidor deve se preocupar com mais um ano de prejuízos nos resultados das empresas.
O arcabouço fiscal apresentado na última semana, agradou o mercado. O novo pacote é importante porque pode abrir espaço para que o Banco Central inicie os cortes na Selic no segundo semestre do ano. Um cenário que já é precificado por muitas casas.
No entanto, como as decisões de políticas monetárias levam tempo para produzirem efeitos na economia, pode ser que o alívio para as empresas demore a ser sentido.
Com essa perspectiva no radar, a orientação é evitar setores dependentes do ciclo de juros e olhar para empresas geradoras de caixa e com baixo nível de endividamento – características que podem “blindar” os resultados no caso de um 2023 ainda negativo para as companhias da Bolsa.
No Ar: Pampa Na Tarde