Segunda-feira, 07 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 7 de maio de 2022
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pregou o resgate da soberania nacional, defendeu a Petrobras e repisou falas em prol da criação de empregos e do combate à fome ao lançar em São Pauloo (SP), neste sábado (7), sua candidatura à Presidência da República em chapa com Geraldo Alckmin (PSB) de vice.
“O grave momento que o País atravessa, um dos mais graves da nossa história, nos obriga a superar eventuais divergências”, disse, diante de uma imagem da bandeira do Brasil. “Queremos unir os democratas de todas as origens e matizes […] para enfrentar a ameaça totalitária.”
O petista buscou se contrapor ao principal adversário na disputa, o presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmando que ele é autoritário e ataca a soberania, a democracia e as instituições. Acusou-o de mentir para esconder sua incompetência e de destruir o que foi construído nos anos do PT no governo.
Em aceno ao eleitorado evangélico do rival, disse que o mandatário “não é digno do título o governante incapaz de verter uma única lágrima diante de seres humanos revirando lixo em busca de comida, ou dos mais de 660 mil brasileiros e brasileiras mortos pela Covid. Pode até se dizer cristão, mas não tem amor ao próximo”.
O discurso escolheu temas como inflação e desemprego para fustigar Bolsonaro e, em um momento de disparada dos preços de combustíveis, com discussões sobre a política de preços da Petrobras, defendeu a soberania energética e responsabilizou o atual governo.
“O resultado desse desmonte é que somos autossuficientes em petróleo, mas pagamos por uma das gasolinas mais caras do mundo, cotada em dólar, enquanto os brasileiros recebem os seus salários em real”, disse o ex-presidente, que buscou exaltar legados de sua gestão.
“Não esperem de mim ressentimentos, mágoas ou desejo de vingança”, afirmou Lula em alusão às condenações que sofreu na Operação Lava Jato, hoje anuladas.
O petista também falou em defesa do ambiente e do combate à crise climática, com a transição para um novo modelo de desenvolvimento sustentável, dos investimentos em educação, da retomada do consumo, do reconhecimento da cultura como setor importante. “Precisamos de livros em vez de armas”, disse.
O ex-presidente fez ainda sinalizações aos povos indígenas, às mulheres e à população LGBTQIA+, parcelas da população em que Bolsonaro tem seus maiores índices de rejeição.
“Nunca foi tão fácil escolher”, disse. “Para sair da crise, o Brasil precisa voltar a ser um País normal. A normalidade democrática está consagrada na Constituição. É imperioso que cada um volte a tratar dos assuntos de sua competência”, acrescentou, pedindo o fim de chantagens verbais e tensões artificiais.
Disse ainda ser preciso que “o fascismo seja devolvido ao esgoto da história de onde jamais deveria ter saído”. Segundo ele, o ato foi um chamado aos democratas que desejam reerguer o País e os apoiadores devem ajudá-lo a organizar “a maior revolução pacífica” da história.
“É proibido ter medo de provocação, de fake news. Nós vamos vencer essa disputa pela democracia distribuindo sorriso, carinho, amor, paz, e criando harmonia.”
Líder das pesquisas de intenção de voto para outubro, mas pressionado por aliados nas últimas semanas por tropeços de comunicação e problemas internos na coordenação da campanha, Lula leu o discurso em tom protocolar, em vez de falar de improviso, como vinha fazendo em suas últimas aparições.
Com Covid, Alckmin participou por vídeo
Com diagnóstico de Covid-19 recebido nesta sexta-feira (6), Alckmin não compareceu pessoalmente e participou por meio de vídeo, em um telão, do evento realizado no Expo Center Norte, centro de convenções na zona norte da capital paulista.
Na transmissão, Alckmin disse lamentar sua ausência, justificou sua aliança com o ex-adversário, com quem concorreu na eleição presidencial de 2006, e fez piada com seu apelido “picolé de chuchu”, já dito por Lula sobre ele, referindo-se a “uma coisa insossa, como comida sem sal”.
“Nada, nenhuma divergência do presente, nem as disputas de ontem, nem as eventuais discordâncias de hoje ou amanhã, nada, absolutamente nada, servirá de razão, desculpa ou pretexto para que eu deixe de apoiar ou defender com toda a minha convicção a volta de Lula à Presidência do Brasil”, afirmou.
“Obrigado, presidente Lula, por me dar o privilégio da sua confiança. Mesmo que muitos discordem da sua opinião de que lula é um prato que cai bem com chuchu (o que acredito venha ainda a se tornar um hit da culinária brasileira), quero lhe dizer, perante toda a sociedade brasileira: muito obrigado.”
Lula reforçou a brincadeira depois, dizendo que a combinação “será o prato predileto no ano de 2022 e se tornará o prato da moda no Palácio do Planalto”.
“É com muito orgulho que faço isso”, disse Alckmin, destacando o respaldo de seu novo partido, mas reconhecendo que a dupla tem à frente uma “missão que não é simples nem modesta”. Ele falou que será “um parceiro leal” do ex-presidente e defendeu princípios como diversidade e solidariedade.
Lula, que discursou na sequência, disse ter certeza da lealdade do ex-governador, a quem chamou de companheiro, e afirmou que eles não sabiam o teor do discurso um do outro.
“Números diferentes, quando somados, não diminuem de valor, pelo contrário, elevam a sua grandeza. Essa lógica aplica-se também à política. Disputas fazem parte do processo democrático, mas, acima das disputas, algo mais urgente e relevante se impõe: a defesa da própria democracia”, disse Alckmin.
“O desafio é grande, mas não desanimemos diante disso. Vamos nos animar para isso”, conclamou, descrevendo as próximas eleições como um perigo à democracia, em referência à eventual vitória de Bolsonaro. “Ele não é a primeira, a segunda ou a terceira via. Lula é a única via da esperança para o Brasil.”
Alckmin afirmou ainda que viu no convite de Lula “um gesto de reconciliação e um chamado à razão”, antes de emendar críticas a Bolsonaro e discursar em defesa da pacificação. “O que mais importa é aquilo que o Brasil precisa. O Brasil sobrevive hoje ao mais desastroso e cruel governo da sua história.”
Aliança
A aliança com o ex-governador de São Paulo, alinhavada durante meses entre 2021 e 2022, é parte da estratégia de Lula de tentar unir forças políticas da esquerda à direita em nome do que seria uma frente ampla para evitar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) e derrotá-lo no pleito de outubro.
Alckmin, que tomou três doses de vacinas contra a doença, está em isolamento por uma semana, com sintomas leves. Ele já havia aparecido ao lado do petista em outros eventos públicos desde o fim de 2021.
Sem o ex-governador, que deixou o PSDB em dezembro após 33 anos para se filiar ao PSB e fechar o compor com o outrora rival, acabou se frustrando o plano do comando petista de captar a imagem dos dois integrantes da chapa lado a lado, inaugurando a campanha.
Com o mote “vamos juntos pelo Brasil”, o PT pretende traduzir a candidatura como um projeto do chamado campo democrático, e não só de Lula. A ideia é passar uma mensagem de unidade em torno da missão de defender e a democracia e brecar a tentativa de Bolsonaro de obter um segundo mandato.
O que vem sendo descrito pelo PT como “movimento” reúne até agora sete partidos (PT, PSB, PC do B, Solidariedade, PSOL, PV e Rede Sustentabilidade), além de centrais sindicais e movimentos sociais, como MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Organizações, artistas e personalidades
Também compareceu ao ato a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que sofreu impeachment em 2016 e foi recebida de pé e com aplausos. Lula cumprimentou a correligionária, frisando o fato de ter sido a primeira mulher no cargo, e reafirmou ter “relação de companheirismo” com ela.
Aliados de partidos que não estão coligados com o PT, como os senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), participaram do evento.
O lançamento deste sábado foi planejado no detalhe para evitar erros. Só Lula e Alckmin discursaram. O músico Paulo Miklos e a chef Bela Gil foram apresentadores. A sambista Teresa Cristina cantou o hino nacional.
O palco possuía tons de vermelho, a tradicional cor do PT, mas também verde e amarelo, com a bandeira do Brasil. Fotos dos integrantes da chapa foram espalhadas pelo salão, onde 4.000 pessoas, segundo a organização, se reuniram.
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